Capítulo 34

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Pela manhã eu comi as batatas chips e ignorei o prato de torradas ao lado. Tomei uma lata inteira de soda e me deitei sobre a cama, na posição em que eu havia ficado pela maior parte do tempo nesses últimos dias.

Naquela madrugada em que fiquei na companhia de Doug, as horas demoraram a passar, e o sono hesitou em chegar cedo. Logo seu horário de voltar aos serviços atuais havia chego, e ele se levantou da cadeira ao meu lado, passando pela lixeira e jogando nela as embalagens dos bolinhos de chocolate que eu havia dividido com ele durante a noite.

- Ainda voltarei aqui. Tente dormir. Depois que sair dessa cama sei que não vai estar nessa posição por um bom tempo. - disse Doug.

- Com certeza não. Quero correr bastante. Vou aproveitar e passear de bicicleta por aí.

Ele sorriu em afirmação, e saiu do quarto.

Me virei de lado, vendo minha mãe que nem sequer notara os nossos cochichos - fechei os olhos e pude escutar os passos lá fora aumentarem, soanda cada vez mais rápido e alto.

Mas depois que acordei eu não havia visto Doug novamente, apenas a notícia de que Mathew viria naquela tarde.

Por incrível que possa parecer, meu pai também havia aparecido naquela manhã, me parabenizando pela melhora, mas eu sabia que eles ainda pensavam com frequência em uma maneira de manter a minha saúde, e saber o motivo de ter me cortado.

Quando a hora se passou, e mamãe saiu pra comer alguma coisa fora do hospital, eu permaneci sentado no mesmo lugar, encarando a cadeira acolchoada por uma pilha de roupas onde mamãe havia dormido.

Um dia ela faria falta. Mesmo com todas as suas queixas de que meu quarto estava desarrumado, de que eu não lavava a louça, e de que minhas notas precisavam ser melhores. Pois um dia eu verei que ninguém poderá substituí-la. Apenas ela faz aquelas tortas maravilhosas enquanto cantarola músicas do Queen; apenas ela me pede ajuda para publicar fotos nas redes sociais; apenas ela reclama dos filmes que vemos juntos nos sábados porque não fazem sentido; apenas ela terá o colo mais quente que poderá me acolher.

- Meu Jesus! Aquela lanchonete não poderia estar mais cheia - dizia ela afobada, passando pela porta com sua bolsa contra o peito. - Olha o que eu trouxe. É o que você queria?

Se aproximando ela retirou da bolsa uma sacola que envolvia uma embalagem de tacos.

- Não creio! - exclamei. - Você comprou e trouxe meus tacos escondidos.

- Shhhh... - disse ela, me passando a embalagem de tacos por debaixo do cobertor sem que pudessem ver pela janela.

- Obrigado. Você é demais. - falei, olhando pra ela. - É sério. Eu te amo. Você é a única que receberia eu e Mathew de braços abertos.

- Eu te amo, filho. - sorriu, e limpou o canto dos olhos. - Te aceitarei como for.

Ela se sentou sobre a cama ao meu lado para assim me abraçar, mas eu a impedi e gritei:

- Mãe, os tacos!

- Oh, perdão.

Soltou uma risada, e ri junto com ela.

- Eu ouvi "tacos"? - exclamou uma voz que vinha da porta.

Minha mãe se assustou mais que eu, e logo pulou para o lado, deixando eu ver Mathew sobre a entrada do quarto.

- Mat. - falei. - Veio rápido.

Ele se aproximou, passando pela minha mãe que tentava manter seus tremeliques estáveis, e a abraçou como cumprimento. Ao chegar perto de mim eu o olhei nos olhos e aguardei algo que pudesse abrir a brecha de nos abraçarmos.

S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now