Capítulo 38

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Os dedos leves tocavam sorrateiramente a fina penumbra de minha pele, levando-os de ponta a ponta pelos meus braços, enquanto em meu pescoço se projetava a marca molhada e protetora de seus lábios. O ar quente saindo das narinas se chocavam em minha nuca, eriçando a pelugem na área traseira da região, e enquanto eu mantinha os olhos cobertos por si numa escolha de aperfeiçoar os sentidos, deixei que ele me tocasse cada vez mais.

Foi um choque de ondas contra os rochedos quando as bocas se entrelaçaram, juntas formando a ilusória imagem no céu como as figuras das nuvens sobre o sol. A sensação áspera como um tecido antigo era suas mãos, que pousavam e perambulavam por mim, acompanhadas dos grandiosos e profundos olhos a cortarem o meu anseio.

Ah, esses olhos. Que continham felicidade em poder ver-me, ou ver-se no próprio reflexo de meus olhos, que guardava um pedaço obscuro do mar, uma fatia gélida da lua e pitadas amanteigadas do sol. Forte e profundo, pesando sobre mim, sobre minha mente, sem conseguir desviar o sentido do olhar.

Amei naquele momento mais do que tudo, e antes que pudéssemos prosseguir, eu executei a última chama luminosa do quarto que se encontrava ao meu lado sobre a escrivaninha.

No escuro completo, no breu de criatividade o mundo se espandira e eu podia ver melhor do que antes a face de meu namorado. Tocou sereno a ponta de seu nariz ao meu, e ainda de olhos abertos eu imaginei a porta de sua alma que se abria para a minha, sentindo deslizar o rosto no meu lentamente, ficando com as laterais coladas um no outro.

Sussurei:

- Eu te amo. Eu quero me encontrar dentro de você.

Mathew tocou a superfície quente de sua boca na entrada de minha orelha, dizendo num tom quase inaudível:

- Amo mais. Amo mais quando você me deseja.

No mesmo instante eu notei o movimento de seu braço que aproximou-se de meu rosto, para depositar em minha boca a ponta de seu dedo indicador, da qual foi-se introduzindo devagar enquanto eu o umedecia com o movimento da língua. Ele deixou apenas um terço de seu dedo em minha boca, atraindo pra si a sensação de prazer tênue e fugaz, que o fazia gemer bem lenta e quase silenciosamente em meu ouvido.

- Oh, querido. Shawn, meu amor.

Eu não o podia vê-lo corretamente, mas como sabia que ele estava ali presente, aderi imagens incrivelmente reais e similares. Imaginei a ponta de seus cabelos lisos que pendiam para o meio dos cílios, a testa carinhosamente enrugada com a força de suas pálpebras fechadas.

Aquele momento era infinito. O espaço era infinito. E seus beijos eram incontáveis, depositados sobre uma camada de ternura que se escorria pelas mãos.

Enquanto dois mundos se uniam, compactos e apaziguados pela junção de nossas energias, os beijos que se chocaram, minha mão se enganchou na cintura dele e o virei, colocando-o deitado no que havia parecido ter demorado longos minutos. Tempo necessitava ser perdido naquele momento, como se realmente não houvesse um tempo para se perder.

Foi tudo muito terno e vagaroso, assim como o beijos que se deixaram prolongar sem a importância do que viria em seguida. Mas eu queria possuir aquele corpo, e minhas mãos sedentas por ele se implantaram na beirada de sua camisa, logo acima da genital, e foram se esgueirando por baixo do tecido.

Pelo trajeto até o topo de seu peito afável, eu desvendei mistérios e descobri segredos, aguardei com sede e afronto o encontro dos seus sentimentos. Até me localizar no ponto de palpitação, onde havia água, havia sangue, havia sombra, havia luz e vida. A epiderme que ouve.

Batidas excêntricas, galopantes. Apertei o passo, e alcancei o morro.

Oh, membranas sensíveis, tuas hastes expostas em berço ao céu aberto. Descobri todo o caminho, onde tomou-se ar.

S.L.M (Romance Gay)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora