Capítulo 112

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Maratona 2/14

Karina narrando

O único momento de paz que eu tinha na vida era quando eu estava com a minha filha nos meus braços. Meu pacotinho de benção, minha bonequinha de porcelana, minha maior felicidade. O médico falou que o quadro de saúde dela tem evoluído bem e não está nem precisando mais dos aparelhos para respirar, isso foi o suficiente pra fazer meu dia mil vezes melhor

Só sofro na hora de amamentar pq a bendita suga com uma fome de 40 mendigos deixando meu bico todo ferido mas todo sacrifício por esse serzinho eu faço com gosto.

Tenho trabalhado igual uma condenada pra conseguir dinheiro pra quando a Doralice voltar pra casa estar tudo nos conformes, mesmo com os meus pontos prestes a estourar, sentindo dor todo santo dia e chorando toda noite, tô fazendo um esforço do caralho pra colocar minha vida no eixo.

Já tem uma semana que não vejo nem a sombra do outro lá, parece que foi mesmo pra São Paulo e, querendo ou não, isso me deixa mais angustiada do que eu gostaria. Cicatriz que tá numa perturbação pra eu parar de trabalhar pq o Jacaré deixou dinheiro mas eu não dou nem ouvidos, quero nem dividir o mesmo ar só que esse ser humano quem dirá pegar dinheiro dele.

Terminei de amamentar a Doralice colocando-a no meu ombro logo ouvindo seu arroto baixinho, sorri satisfeita e voltei com ela para os meus braços novamente.

- Vc é a coisa mais linda que mamãe já viu na vida, sabia?! Mesmo tendo os olhos do safado do seu pai... E espero que vc não puxe o gênio dele pq eu não vou aturar isso, ouviu? -ri fraco- Tô fazendo de tudo pra gente ter nosso cantinho independente e, por mais simples que seja, sei que vc vai amar e vamos ser muito felizes!

Obviamente, ela não esboçava nenhuma reação mas me olhava tão fixamente que parecia entender cada palavra que eu falava. Fiquei ali até ela pegar no sono e coloquei-a no 'berço hospitalar' da UTI neonatal, fui esticar minhas pernas, tomar um café e ver outras pessoas.

Venho passar o máximo de tempo que posso aqui, hoje, que não tive nenhuma cliente marcada, vim pra cá cedo pra ficar com a minha pequena mas tem dias que só consigo vir pra amamentá-la e vou embora, isso acaba comigo. O médico falou que ela tá em perfeitas condições pra ir pra casa mas ainda não atingiu os 2kg que precisa pra ter alta então é só sentar e esperar.

Essa semana passou como se fosse um mês bem lento, já perdi as contas de quantas vezes chorei pedindo pra toda essa angústia que eu tô sentindo passar logo e eu ter minha filha comigo pra poder apresentá-la pro mundo. Fora que esse lugar é uma loucura né, vira e mexe vc encontra uma mãe chorando pelos corredores, aparelhos apitando o tempo, eu não vejo a hora de viver longe daqui.

Mônica: Eai. -se aproximou me dando um leve susto- Como tá a sua pequena?

Mônica é a mãe do Guilherme, nascido se 29 semanas, a gente se conheceu pelos corredores da neonatal no dia que o filho dela rejeitou o leite que estava sendo dado e acabou engasgando. Foi um desespero, tentei acalmá-la mas mãe é mãe né, fiquei desesperada juntinho.

- Tá melhorando a cada dia, graças a Deus. E o Gui? -perguntei antes de dar um gole no meu café-

Mônica: Tá naquela mesma situação, né?! Não aguento mais ouvir aqueles aparelhos apitarem. -suspirou-

- Isso é uma fase, Mônica, já já vc vai estar indo pra casa com um garotão forte e saudável que futuramente vai namorar minha filha. -rimos-

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