Capítulo 5 - Acompanhamento Terapêutico.

217 85 4
                                    

Capítulo 5 – Acompanhamento Terapêutico.

Era uma terça feira ensolarada, Rachel saíra da escola e deu de encontro com alguém desconhecido. Ela então indagava com desprezo:

__Você será meu novo cão de guarda?

Ele sorriu dizendo:

__Quase isso.

__Vai desembucha!

__Seu A.T.

O rosto de Rachel perdeu a coloração que já lhe era escassa, seus olhos vividamente contornados por lápis, envolvidos em uma atmosfera de luto constante, arregalaram-se, enquanto a adolescente balbuciava:

__Ah não! – Ela suspirou indignada – Isso de novo não!

Ele se mantinha simpático e ela olhando para os lados buscando alguma câmera de segurança, pôs-se a negociar:

__Quantos euros a minha avó lhe paga?

Ele ficou pensativo e não respondeu, ela prosseguiu:

__Eu posso pagar mais! – Olhando desconfiada para os lados e disfarçando a proposta disse: __Ninguém precisa ficar sabendo...

O psicólogo era alto, de ombros largos, seu sorriso era firme, franzia o cenho de modo involuntariamente sedutor, sorriu para Rachel e apenas disse:

__Sou seu Acompanhante Terapêutico, você pode me levar para qualquer lugar.

Rachel visivelmente contrariada acabou por ceder, não sem antes questionar:

__Qual é a sua abordagem?

__Fenomenológica Existencial Humanista, especificamente a Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers...

__Menos mal, detesto psicanálise.

Ela sorriu ironicamente, recapitulando em sua cabeça os pressupostos daquela abordagem, que decorara forçadamente após anos de terapia e provocou:

__Se eu quisesse me matar, hoje?

Ettiénne engoliu a seco, mas buscando manter seu profissionalismo, disse:

__Você é livre para isso.

__Eu sei que sou.

Sorriu ironicamente para Ettiénne enquanto ele sorria de volta complementando:

__Mas, você acha mesmo que já atingiu seu verdadeiro “self”. Você acha que não há nada mais para adicionar a sua essência nesse mundo?

Ela ergueu as sobrancelhas demonstrando uma ingenuidade que não lhe era característica e concordou:

__Eu sou congruente, tento ser...

E sorriu com desprezo para seu A.T. e disse lhe olhando dos pés a cabeça, enquanto abria a porta do carro:

__Você disse que iria para qualquer lugar comigo...

A jovem mostrou sua carteira de motorista e ele sorriu pensando consigo “Ela acha que está na Califórnia...”. Indagou então:

__Você tem certeza de que está apta a dirigir?

Rachel sorriu e piscou, percebendo que seu A.T. havia descoberto que sua licença de habilitação era falsificada e disse:

__Até a casa de minha avó não há quase movimento...

Ettiénne esforçando-se para atingir uma resposta reflexa:

__Sim, perfeitamente.

No fundo gostava de correr riscos, para Ettiénne entrar no carro de uma adolescente problemática seria algo tão desafiador quanto esquiar sozinho nos Alpes ou escalar o Monte Branco nas férias.

Abriu a outra porta e entrou na Mercedes Benz lustrosamente vermelha.

Os Novos EstrangeirosOnde histórias criam vida. Descubra agora