Capítulo 74 - O bilhete.

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Após ser cremada tal como faziam os índios o clima de pesar invadiu a aldeia e a interdição de todos os presentes se tornava questão de horas ou no máximo de alguns dias... Não adiantaria fingirem que estavam felizes se um véu pesado de luto estava constantemente vindo à superfície de suas vidas e lhes sufocando com violência. Henri sepultado em dores vasculhou a rede que havia se mantido intocada de Rachel e encontrou um pequeno bilhete, no qual discriminou a letra da psicóloga.

À noite pediu para que seu grupo se reunisse em torno de uma fogueira e sob uma luz tênue começou a ler o bilhete de letra corrida e borrada, quase ininteligível em alguns trechos:

__Dizem que a vida é uma oportunidade incrível, dizem que viver é uma bênção. Mas minha vida tem sido um grande fardo. Tenho cortes profundos em mim, cortes na alma que não existem em ninguém. Cada dia foi um suplício, uma caminhada em um deserto pedregoso e poeirento. Morreria de um jeito ou de outro, sabia disso quando me conectei a Grande Rede. Mas do jeito que escolhi, produzi uma chance, um terreno ainda fértil que desconheço e que nunca acreditei. Visualizei um futuro para vocês, um futuro humano, no qual vocês poderão encontrar algum sentido, ou mesmo forjar um para a vida humana. Milhares de anos, milhares de buscas cegas estarão sobre seus ombros tímidos, frágeis. Só encontrei um sentido para a vida através da morte, espero que encontrem um sentido melhor que o meu quando as suas jornadas acabarem nesse mundo. Nunca desamparem o Nicolas, por favor. Rachel.

Os Novos EstrangeirosWhere stories live. Discover now