Capítulo 46 - Uma estranha em seu próprio planeta.

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E naqueles instantes de nostalgia vagava sem rumo, seu consultório não recebia mais clientes, os Novos Estrangeiros pareciam não sofrer de transtornos afetivos ou de personalidade. Pareciam felizes, alguns grupos deles surgiam em um ou outro ponto, formavam rodas e jogavam jogos estranhos, quando não estavam trabalhando em mutirões. Sentia-se novamente estrangeira, não por ser canadense, mas por ser humana. 

Sentia-se estrangeira em uma intensidade que não conseguia mais exprimir, uma verdadeira alienígena em seu próprio planeta, quando caminhava durante o dia ao redor das torres antes espelhadas e vibrantes, que agora se juntavam ao cemitério que se tornara La Défense. Seu coração se sufocava também quando se deparava no sentido oposto com o vulto metálico da Torre Eiffel e imaginava que não haveria mais qualquer oriental tirando fotos, nenhum casal de namorados encantado diante daquela torre que se tornava dia após dia mais assustadora para os Novos Estrangeiros e mais triste para Rachel.

Emocionava-se ao pensar que a França havia morrido, não apenas devido o fim das instituições públicas, mas também pela progressiva morte da cultura francesa e em escala maior da própria cultura humana. Já não haviam mais fronteiras na Europa ocidental, já não haviam mais países naquela região e seria questão de poucos anos até não haver qualquer fronteira no mundo. Rachel sorriu ironicamente e disse sozinha, pois já não portava com quem desabafar: "Que linda utopia, não haver mais fronteiras no mundo! Isso seria realmente bom se o mundo continuasse existindo".


Os Novos EstrangeirosWhere stories live. Discover now