Capítulo 45 - Um bife e muitos esqueletos.

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Rachel continuava andando desolada, algumas cenas lhe vinham à mente, mais um luto se empilhava sobre seu peito dolorido e dilacerado pela vida:

__Mãe tem um bicho morto em seu prato!

__Onde?

Nicolas apontou para o bife frito que estava em seu prato, Rachel gritou:

__Não dê ouvido a esses malucos!

O pré-adolescente protestou:

__Não nos chame de malucos, você está se alimentando da dor de outros seres!

Rachel dera um tapa na face de Nicolas, tal como sua avó fazia com ela. Nicolas se levantou da mesa e disse com o rosto ardendo, mas moralmente íntegro:

__Você deveria se envergonhar disso.

Rachel tentou comer o bife, mas não conseguiu, apenas desatou a chorar em silêncio, se sentia suja, má. Aumentava as suas doses de antidepressivo nas poucas farmácias que encontrava abertas em Paris.

Mais tarde já às margens do Sena, olhava a cúpula do Tribunal de Grande Instance, seus tons amarelados e suas inúmeras janelas quebradas, denunciado a morte do poder público, ao lado o Hôtel-Dieu de Paris igualmente abandonado e a Catedral de Notre Dame, esquecida e pálida, sem nenhum visitante. Ao longo da Quai de Saint-Michel e na Quai de Montebello contemplavam casarões renascentistas de muitas janelas, como grandes caixas velhas pareciam estar na iminência de caírem em ruínas. Pensava na Torre Eiffel ao longe, igualmente deserta, como um grande esqueleto de ferro. Sentiu-se angustiada e cogitou por um momento em ir até o Charles de Gaulle e pegar um avião para a França. Mas, seu rosto pálido e que envelhecera mais rápido do que deveria naqueles últimos meses, demonstrava a decepção de perceber que a França em que passara a sua adolescência não existia mais.

Os Novos EstrangeirosWhere stories live. Discover now