Capítulo 8 - Os céus da França.

181 85 4
                                    

Capítulo 8 – Os céus da França.

Era uma estrada pequena e tortuosa, mas ao longe já se podiam avistar dois imponentes hangares, Rachel apontou orgulhosa para seu Learjet, que deveria ter custado alguns milhões de euros. Caminharam em direção ao mesmo, Ettiénne percebeu que havia estabelecido um bom contato com Rachel, apesar dos riscos que correra, mas amava a sua profissão e não deixaria aquele caso de lado.

Rachel destravou a porta da cabine e disse:

__Você será meu copiloto hoje.

Ettiénne sorriu preocupado e indagou:

__Mas, você é credenciada para pilotar?

A adolescente mostrou sua credencial e disse orgulhosa como se portasse uma vasta experiência:

__Meu primeiro voo foi aos 15 anos, ano passado consegui minha credencial.

O psicólogo calculou que ela deveria ter algumas centenas de horas de voo apenas, mas estava diante de um avião muito seguro e seguindo sua paixão pela psicologia e por aviões, aceitou o convite.

Os céus de primavera estavam radiantes, como um belo plano de fundo, o chão parecia lá de cima um enorme tabuleiro de xadrez, alternando tons palha e verde. Estradas de terra cortavam as plantações e estabeleciam caminhos bem definidos e ao longe se via o esboço de uma cidade cinzenta, tal como uma maquete cuidadosa e sem graça.

Entre suas conversas em código com a Torre de Comando mais próxima, Rachel conversava com Ettiénne na silenciosa cabine:

__Você sabia que eu já me meti a estudar a sua abordagem?

Ettiénne mostrou-se surpreso buscando assim uma melhor resposta reflexa, e ela ponderou:

__Pode ser bonita, mas está cheia de ingenuidades e incoerências...

__Quais?

__Estamos condenados à liberdade, logo estamos presos...

Ele sorriu emendando:

__Sartre era bastante pessimista, nos baseamos mais em outros filósofos dentro da fenomenologia...

Rachel completou:

__Sim, Merleau Ponty, Heidegger...

E prosseguiu enquanto mantinha-se olhando para o painel:

__Mas, todos são ingênuos... – Ettiénne a fitava surpreso com as frases da adolescente, que era tão lábil e ao mesmo tempo emanava certa sabedoria incompatível com a idade e com seu comportamento – Ingênuos por valorizar demais o subjetivo, as vivências e suplantar o fato de que o que sentimos sempre estará acorrentado à objetividade.

Apesar de discordar, Ettiénne não se opôs e a jovem prosseguiu seu monólogo nas alturas:

__Olhe lá para baixo... – O psicólogo olhou investigativo – Há um caminho para tudo! Cada uma dessas estradas termina em outra que termina em outra, no fundo não há como se perder senão tomando um caminho para outro lugar já estabelecido.

Os Novos EstrangeirosWhere stories live. Discover now