Capítulo 23 - Um vídeo estranho.

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Duas semanas depois, exatos dois meses passados desde o início desses acontecimentos, uma pré-adolescente enviava uma mensagem de texto de Seoul para sua colega em Busan marcando um encontro para irem a uma flash mob de um show revelado na internet de uma Banda K-Pop em Daegu. Mas para a surpresa da jovem a tela de seu smartphone foi subitamente invadida por um vídeo estranho.

Ao mesmo tempo, Mohamed assistia a Al-Jazera em Doha e se sobressaltou do sofá assustado quando a tela de seu computador portátil fora tomada por aquele vídeo incialmente ininteligível. Bem longe dali, bem acima dos arranha-céus espelhados da capital do Catar, um russo tentava reconectar seu computador na Estação Orbital Internacional e se surpreendeu com aquele vídeo bizarro, que no mesmo instante invadira os telões de propaganda de Times Square. Seu conteúdo era enigmático, havia apenas imagens tridimensionais desconexas, flores, abajures, cavalos acasalando, repórteres de várias emissoras, um acidente de um paraquedista, tais imagens vinham acompanhadas com sons típicos de interferência, um zumbido perturbador pareceria se espalhar por todo o mundo. De qualquer modo aquele vídeo, que se repetia constantemente em uma reverberação alucinógena, parecia deixar as pessoas à beira de um ataque de nervos. Computadores e celulares eram jogados no chão tão rapidamente quanto o fogo se propaga na palha, após seus donos tentarem sem sucesso inúmeras vezes desligar tais aparelhos. 

Minutos mais tarde, seria impossível encontrar um veículo de comunicação no mundo que não transmitisse essas imagens estranhas. Rachel, na França, observava perplexa a invasão de seu celular por aquele vídeo e pensava consigo "malditos hackers do Estado Islâmico". Esse também era o pensamento do presidente dos EUA e dos magnatas da computação no vale do Silício, mas os esforços públicos e privados imediatamente convocados pareciam não surtir qualquer efeito.

O vídeo subitamente mudou e passou a exibir uma sucessão de imagens ainda mais perturbadora, câmaras de gás dos campos de concentração, alternadas por cenas de corpos empilhados exibidos de forma extremamente nítida como se fossem filmados nos dias atuais, sucediam imagens de crianças mortas em escolas vítimas de atendados com armas de fogo, imagens essas que não haviam sido liberadas à mídia em lugar algum. Tais eram sucedidas por filmagens de abatedouros em várias partes do mundo e outras cenas de violência e monstruosidades de vários tipos, por fim um vulto se aproximou da tela, sua imagem foi se tornando mais nítida, suas feições mais humanizadas e o mesmo se dava com sua voz, era um ser cuja definição de sexo seria dificilmente estabelecida.

Por fim parecia um homem bizarro, brilhava como se houvesse mergulhado em um tanque de cristal líquido, mas essa aparência também foi se modificando e após uma confusão enlouquecedora de idiomas, sua voz foi se tornou progressivamente mais precisa. Foram captados pelo menos 10 mil canais de áudio nesse vídeo, muitos linguistas ficaram espantados com o uso de línguas mortas e de alguns dialetos indígenas que nunca haviam ainda sido catalogados e precisamente descritos.

E finalmente Rachel, presa no trânsito e olhando para a tela de seu smartphone, se pôs a prestar atenção no pronunciamento forçado ao mundo inteiro daquela criatura peculiar, seu francês era praticamente indefectível, e seus olhos iam ganhando vivacidade, apesar de seu rosto ser pouco expressivo e, de certo modo, artificial.

Os Novos EstrangeirosWhere stories live. Discover now