Rachel estava sentada confortavelmente em seu consultório em Paris:
__Fale mais sobre isso...
__Sei lá tia, a psicóloga aqui é você!
Uma garota de cabelos coloridos olhava para Rachel com desprezo, ela apresentava grande resistência terapêutica pensava a jovem psicóloga:
__Eu entendo o que você sente!
__Será que entende mesmo?
Rachel respirou fundo, parecia estar pagando tudo o que fizera para seus psicólogos durante a adolescência e agora do outro lado da mesa e com algumas rugas suaves visíveis no rosto, ela prosseguia tentando manter a calma e estabelecer uma resposta de reflexo:
__Tudo na vida tem as suas consequências...
__Vai me dar lição de moral, tia?
__Sim, sobrinha...
A menina sorriu encabulada e Rachel prosseguiu ajeitando os óculos de armações verdes:
__Somos livres para agir, mas não somos livres das consequências das nossas ações.
__Mas, essa frase é uma frase do hinduísmo, tia, você é hindu?
Rachel sorriu corando a face e respondeu:
__Gostei de você, sei que não poderia dizer isso, mas posso lhe contar uma coisa?
__Se demorar muito...
__Uma vez eu quase matei o meu A.T...
__Que dá hora, tia! O que você tentou fazer?
__Ele aceitou o convite para andarmos de carro e aí eu estava em depressão e queria me matar naquele dia, então acelerei minha Mercedez Benz até a velocidade limite e só freei o carro já perto de um cruzamento bem movimentado aqui mesmo em Paris.
__Nossa, que excitante! Você deveria ser bem louquinha nessa época...
Rachel sorriu de concordou gentilmente:
__Você nem imagina o quanto... Bem, mas sabe o que me fez parar o carro naquele dia?
__ Hum... Você estava apaixonada por ele?
O rosto pálido de Rachel ficou subitamente corado e ela respondeu:
__Bem, eu...
__Pela sua cara, estava...
__Tá bom, eu estava, mas eu parei também por que ele me disse uma coisa...
__Que poderia morrer por você? Que era um vampiro?
Rachel gargalhou de modo encantador:
__A realidade geralmente não é tão romântica, ele disse apenas que queria pilotar avião.
A adolescente olhava para Rachel decepcionada enquanto fazia uma bola de chiclete, e a psicóloga prosseguiu:
__Eu havia indagado sobre se ele teria ainda algum motivo para lutar, afinal ele já era "O Psicólogo", o cara que sabia tudo, entendia tudo da cabeça dos outros, da vida...
Ela continuava mascando chiclete e olhando com seus olhos esverdeados a íris castanha de Rachel:
__E eu me assustei com isso, ele ainda queria ser alguma coisa. Tinha ainda uma grande frustração para carregar na vida e mesmo assim era psicólogo ou tentava ser.
__E ele conseguiu pilotar avião?
Nesse momento os olhos de Rachel se tornaram pesados e ela se esforçou para conter uma lágrima no canto do olho:
__Sim, ele conseguiu, mas...
Uma lágrima deixou a lateral de seu olho direito salgada e ela concluiu com a voz enfraquecida:
__Ele morreu em um acidente aéreo com seu bimotor na Guiana Francesa há quatro anos.
__Que triste, hein tia!
Indagou a jovem, também contendo uma lágrima e indagou:
__E você superou a morte dele?
Rachel respondeu timidamente:
__Amores platônicos não morrem...
A jovem concordou entristecida e novamente desabafou:
__Tia; posso falar uma coisa?
__Sim, claro!
__Eu também tive um amor platônico... Bem menos trágico...
Rachel sorriu limpando o rosto com um guardanapo branco de pano, enquanto pensava que sem querer havia atingido a fase de respostas reflexas na Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers e prosseguiu com um ar bastante acolhedor:
__E como foi isso?
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Os Novos Estrangeiros
Science FictionRachel Aroeut não é apenas uma adolescente rica, órfã, depressiva, que fala com os mortos e é apaixonada por seu psicólogo. Ela é mais do que isso: ela também frequenta aulas de voo comercial. Em uma vida marcada por lutos e pelo tédio, Rachel se to...