32. Alice.

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- Se concentre... - Dievon diz, estando sentado na minha frente me observando enquanto tento completar o feitiço de localização avançado que ele está tentando me ensinar.

- Estou tentando. - Digo, baixo. - Isso é difícil, mais do que o feitiço normal.

- Eu entendo, demorei muito para aprender. - Ele diz, tranquilo.

- Quem ensinou você? - Abro os olhos. - Você não deve ter ficado mestre nisso do nada.

- Não importa quem me ensinou. - Ele diz, balançando a cabeça e sinalizando para eu voltar a treinar o feitiço. Suspiro e volto.

- Você é muito misterioso, o que de certa forma é bom e ruim. - Digo, de olhos fechados.

- Por que isso seria bom?

- Porque é charmoso e me faz querer xeretar sua vida.

- E ruim...?

- Porque é charmoso, me faz querer xeretar sua vida, e eu não quero ter que xeretar sua vida. - Abro meus olhos e olho para ele. Ele passa uns segundos me encarando.

- O homem que me ensinou foi o meu pai. - Ele diz suave, após um tempo.

- Então, você teve pai!

- Acha que eu nasci do nada? - Ele ergue uma sobrancelha para a minha afirmação que eu mesma reconheço ter sido idiota.

- Pensei que você havia surgido apenas... Sei lá, é estranho imaginar que você teve uma família. Até porquê, você disse que eu quem criei você.

- E não tive... Só o chamei de pai para você entender melhor. E você quem me deu ele, assim como toda a minha história.

- Ouh... Entendi. Continue. - Presto completa atenção nele.

- Ele era um feiticeiro muito, muito poderoso. Era temido por todos e acabou se tornando meio que um chefão...

- E eu quem criei? - Ergo uma sobrancelha.

- Uhum. - Ele assente e prossegue. - Ele comandava povos, tribos, seitas, tinha milhares de aliados, tudo o que você imaginar... Só que um dia, surgiram dificuldades, ou melhor, pessoas querendo derrubá-lo.

- Elas conseguiram?

- Quase... Foi por isso que vim ao mundo. Meu pai conheceu Safira, uma bruxa muito gentil, doce e meiga. Juntos, os dois engajaram um romance, e como meu pai bem imaginou, Safira se apaixonou rapidamente, nem se importou com todas as brigas de feiticeiros e bruxos da época. - Ele pensa um pouco. - Porém, o que ela não sabia era que meu pai só a estava usando por conta de seus poderes. Na época, não existiam muitas leis contra magias misturadas entre espécies.

- Hoje tem?

- Mais ou menos... Bom, sim. Um feiticeiro não pode procriar com uma bruxa. A criança nasce muito forte, porém, tão forte que a natureza faz questão de eliminar. Os poderes tomam conta das crianças, fazendo o corpo delas desintegrar no instante em que nascem, além de apresentar muitos riscos durante a gravidez.

- Nossa...

- Pois é... Enfim, meu pai engravidou minha mãe e assim que nasci, ele a matou a sangue frio. Ele me criou como se eu fosse uma arma de destruição; não tive infância, amigos ou qualquer outro tipo de relação além do que eu tinha com ele. Ainda quando criança eu consegui matar todos os povos que estavam querendo pegá-lo e no meio do caminho, muitos desistiram pois sabiam que não tinham chance contra mim.

- Eles nunca mais tentaram caçar você?

- Nunca.

- E como você... Bom... Como você se tornou bom de novo? - Penso com cuidado em minhas palavras. Não acredito que "bom" seja a palavra correta para definir Dievon agora. Talvez um "em cima do muro".

Alice Kim: A Herdeira de Mystic Falls.Onde histórias criam vida. Descubra agora