Capítulo 29 - Querida.

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— Não acredito que você pagou tanto por um único vestido — disse Camila.

Lauren colocou a sacola de roupas no porta-malas do Audi e deu de ombros.

— É lindo.

— Sim, mas ainda assim... Só de olhar para a etiqueta de preço me deixou tonta.

O preço do vestido não foi o que deixou Lauren tonta — embora Camila parecesse de tirar o fôlego com ele. O que fez sua mente girar foi o que aconteceu no provador.

Ela realmente não deveria se sentir tão indisposta. Não era como se ela não tivesse ouvido algo assim muitas vezes antes. Ao longo de seus nove anos como terapeuta, ela tratou vários pacientes com PTSD, transtornos do pânico ou passados traumáticos. Uma vez, ela até teve um paciente com uma história muito semelhante à de Camila.

O que foi diferente foi sua própria reação a ela. O sofrimento de seu paciente quando ele relatou seu acidente não deixou Lauren indiferente, mas houve uma distância profissional que a protegeu e permitiu que ela fizesse seu trabalho sem ficar paralisada pela dor do paciente. Com Camila, o escudo da terapeuta era fino como uma casca de ovo — e desmoronou inteiramente quando ela lhe contou sobre o rompimento.

Eu não posso acreditar que fiz isso.

Durante suas sessões de terapia, tudo era sobre seus pacientes, nunca sobre Lauren como pessoa. Se ela revelasse detalhes sobre si mesma, era apenas como uma ferramenta usada com cuidado.

E talvez ela tivesse pensado que era isso o que tinha acontecido no provador — apenas uma ferramenta para fazer Camila se abrir também.

Mas no momento em que ela começou a falar, aquela ilusão desapareceu como uma miragem.

— Você está bem? — Camila perguntou baixinho.

Lauren percebeu que havia entrado no carro e estava sentada atrás do volante, mas não ligou o motor.

— Eu deveria te fazer essa pergunta — ela disse, não querendo abaixar aquele escudo fino como uma casca de ovo de novo. Ela apontou para o carro. Depois de um acidente horrível como aquele, ela não ficaria surpresa se Camila tivesse evitado entrar em um carro a todo custo.

Muitos de seus pacientes que haviam sofrido experiências traumatizantes desenvolveram comportamentos de desvio como esse.

— Estou bem. — Um fino brilho de suor brilhou na testa de Camila, mas seu olhar projetou força. — Mas talvez...

— Sim? — Lauren não hesitaria em fazer o que Camila precisasse.

O fantasma de um sorriso apareceu nos cantos dos olhos de Camila.

— Talvez pudéssemos deixar o rádio desligado, só pra garantir.

Lauren apertou um botão na tela sensível ao toque do carro, ligando uma de suas Playlists pop dos anos 90.

— Que tal agora? Nada de Beach Boys, eu prometo.

— Perfeito — disse Camila. — Obrigada.

Lauren percebeu que ela se referia a muito mais do que apenas a música. Ela sorriu e saiu para a rua.

— De nada, querida.

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