Capítulo 5 | Amigos!

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Levanto a cabeça e vejo-o. Filipe. Estava com um tabuleiro nas mãos, a perguntar-me se podia sentar-se comigo. Havia mesas vazias ali mas ele escolheu sentar-se comigo.
_ Não, pode sentar-se á vontade. - digo o mais breve possível. Não queria soar mal educada ou algo do tipo, mas isto, fosse o que fosse, não podia acontecer. Ele sorri sem mostrar os dentes, satisfeito e senta-se. Continuei a comer sem lhe dirigir a palavra. O ambiente estava constrangedor, mas não podia fazer nada para mudar isso...ia dizer o quê? Então, professor, como vai a vida? Que tem feito? Claro que não.
_ Não precisas de ser tão formal, Beatriz, não sou o presidente da República. - diz e ri-se da própria "piada". Sorrio de lado, envergonhada. Tinha falado com ele de forma nada formal hoje de manhã e agora tratava-o por "você", meras horas depois. Cómico.
Olho para ele e vejo como o seu maxilar é definido, como come de forma tão...bonita. Eu parecia um sei lá quê a comer e ele era lindo. Como era possível?
_ É meu professor...não posso tratá-lo por "tu". Ainda mais num local público. - Ele pousa os talheres e olha para mim com a sobrancelha levantada. Endireito-me na cadeira, inquieta, com medo do que ele pudesse fazer. Mais propriamente com medo de quem pudesse aparecer a qualquer momento e visse o que estava a acontecer.
_ Eu mantenho o que disse hoje de manhã. Quero realmente ser teu amigo, Beatriz, não há qualquer problema com isso. - ele aproxima-se de mim e sussurra no meu ouvido - Não somos o primeiro caso nem havemos de ser o último. - percebi que sorriu. Arregalo os olhos ao perceber o que se passa e olho em redor. As outras pessoas estavam demasiado ocupadas com os seus telemóveis ou com a vida alheia para perceberem alguma coisa. Suspiro aliviada. Ao afastar-se de mim, ele pisca-me o olho e dou por mim a corar. Era sempre assim com ele. Não sabia reagir a nada do que ele fazia ou dizia a menos que o que ele estivesse a dizer fosse algo relacionado a física, aí eu sabia reagir muito bem. Durante as aulas era bastante frequente eu reclamar com ele enquanto todos os outros se limitavam a dizer que sim com a cabeça, mesmo sem perceber nada.
_ Ok...amigos, então. - acabo por concordar. Parte de mim sabia que isto não iria durar e como sempre eu ia sair magoada, mas por agora aceitei a "ideia". Ficamos a conversar sobre a escola e ele aconselhou-me sobre os estudos. Sugeriu que eu tirasse também algum tempo para mim em vez de ficar todo o dia agarrada aos livros - escolares ou não. Segundo ele, muito do meu stress era falta de descanso. Se a minha mãe e ele se encontram, tenho um longo sermão para ouvir, afinal eles pensavam o mesmo. E, apesar de eu detestar admiti-lo, eles tinham razão.
Vejo que mais alguém chegou e parou ao pé da mesa em que estávamos sentados. Apesar do imenso barulho era possível perceber uma respiração pesada. Zangada. Pelo canto do olho percebo que a expressão do Filipe também não é das melhores. O que é que fiz a Deus para merecer isto?
_ Olá, Bea. - olho para cima e vejo o meu namorado com uma cara nada boa. Nos seus olhos vi a raiva, o ciúme...o mesmo olhar de ontem. Ao relembrar o ocorrido os meus olhos marejam, mas seguro as lágrimas. Não me ia permitir chorar á sua frente, isso nunca. O que me fez ficar mais calma foi o facto de estarmos num local público com algumas pessoas.
_ Pedro...também vens almoçar? - pergunto forçando um sorriso. Noto que o meu mais recente amigo fica tenso ao ver que ele podia armar um escândalo. Eu sabia do mesmo, por isso resolvi tentar falar com ele.
_ Vinha fazer-te companhia, mas já vi que estás bem acompanhada. - diz sarcástico - Estava a pensar que podiamos dar um passeio, que dizes? - diz isto e agarra o meu braço. Tento não fazer grande alarido e puxo o meu braço da sua mão, mas ele não se move.
Sinto o braço formigar devido á força com que ele o apertava e a tarefa de segurar as lágrimas era agora muito mais difícil. Ele nunca tinha sido violento comigo, não neste nível.
_ Larga-a. Estás a magoá-la, vê se acordas, rapaz. - o Filipe finalmente intervem. Sem muito esforço liberta o meu braço da mão dele e com a mão livre segura a minha debaixo da mesa. - Vai embora. - diz pausadamente. Reparo que o rapaz fica intimidado, mas ainda assim não muda de postura. Lança-nos um olhar intenso uma última vez e saiu, finalmente dali. Pode parecer mentira, mas o ar ficou mais leve depois disto acontecer - Estás bem?
Levanto-me da mesa, pego nas minhas coisas e começo a andar dali para fora.
Não aguentava ter de olhar na sua cara depois do que aconteceu, porque sabia a que isso levaria.

Meu Querido ProfessorWhere stories live. Discover now