Capítulo 27 | Apologies

19 2 0
                                    

Encaro o teto branco do hospital assim que abro os olhos, percebendo já ter amanhecido. Encaro depois as paredes brancas e a quantidade de batas, também brancas, que passam de um lado para o outro naquele corredor. Levanto-me, sirvo-me de um copo de água na máquina e caminho em direção ao balcão de atendimento.
_ Bom dia! Podia dizer-me se o doutor Miguel Medinas já chegou? - pergunto.
_ Não...ainda n... - a funcionária cala-se a meio da resposta, visivelmente surpreendida pelo que vê atrás de mim. Viro-me e sou surpreendido por um abraço da minha irmã.
_ Bom dia, maninho! - cumprimenta-me, com uma cara muito melhor que tinha ontem e com muito melhor disposição. Aposto que não dorme uma boa noite de sono assim há uns bons dias, talvez semanas.
_ Miguel! Que coincidência chegarem juntos! - digo com ironia ao vê-lo atrás de nós sem saber bem como me abordar. Enquanto estico o braço para lhe apertar a mão, ouço um espanto vindo da Beca.
_ Foi obra tua, não foi? - perguntou, fazendo-me sorrir.
_ Eu? Ainda agora acordei já sou acusado de qualquer coisa...é a isto que chamo sorte.
_ Pára lá, sabes bem a que me refiro! - ela põe-se á minha frente e olha nos meus olhos, diretamente para a minha alma.
_ Está bem, está bem. Admito que fui eu. - levo com uma pancada no braço. - Mas vá lá, vais dizer que não gostaste? - pergunto a sorrir e ela mantém-se muito séria. Oh não. Será que foi mesmo má ideia? - Não correu bem? - os dois mantém-se calados, a olhar para mim. Depois, olham um para o outro, sussurram alguma coisa, riem-se e voltam- se novamente para mim.
_ Não, Filipe, eu não diria que correu mal. - ela começa e eu permito-me respirar fundo. Credo, tanto drama para isso? - Eu acordei num carro que não conhecia, com ele ao volante e quase o esmurrei, em pânico, mas passemos isso á frente. Quando chegamos á casa do pai, eu estava acordada e já não tinha sono, o que acabou por ser uma boa treta, porque sentado nos degraus da porta estava o meu namo...ex. Ex-namorado. - corrige-se e percebo que o canto da boca do homem a minha frente se levanta. O quê? Estou a ouvir bem? Ela acabou com ele, finalmente? Agora sim, é um bom dia!
_ Não imaginas o quão feliz fico, Beca, já não era sem tempo. - abraço-a, orgulhoso dela por ter tido a coragem para fazer isso.
_ Se ficaste assim agora, espera até ouvires o resto...- o Miguel comenta, a coçar a parte de trás da cabeça enquanto sorri de leve.
_ Bem, eu não esperava vê-lo, ainda mais ontem. Nenhum de nós esperava, na verdade. Só que ele não tinha reparado que eu não estava sozinha quando desci do carro e o Miguel não percebeu que ele era...assim até o ver agarrar-me e tentar despir-me ali mesmo, como se realmente nada mais importasse. Como se ele não soubesse a porcaria de dia que eu tinha tido. - obrigou-se a parar, perturbada com aquilo - Mas felizmente isso não durou, porque o Miguel apareceu ao meu lado e deu-lhe um murro. Ele apagou e eu apaguei-o da minha vida. - disse a última parte voltando-se para ele e os sorrisos nos seus rostos fizeram-me ter muitas saudades dos momentos em que no seu lugar estava eu, com a minha Beatriz. Mas não é o momento para isso, não é momento para lamentar a minha tristeza. É para celebrar a felicidade da minha irmã.
_ Soube muito, muito bem. - o médico comenta e eu sorrio-lhe. O meu respeito por ele acabou de aumentar 10 vezes mais.
_ E então, e vocês? - questiono sem me conter.
_ Estamos a ir com calma...consideramo-nos amigos com benefícios. - ele responde, segurando a mão dela. - Ei, querem visitar o vosso pai?
Anuo sem pensar duas vezes, seguindo-os então pelo corredor até ao elevador, já que o quarto do meu pai é no segundo andar. Enquanto passo por inúmeros quartos e faço um grande esforço para não olhar para dentro de nenhum, organizo as ideias na minha cabeça. Tenho de resolver-me com as pessoas na minha vida, e vou começar já, com a Beca.
_ Preciso de roubá-la por um pouco, está bem? - pergunto já agarrando no seu braço e puxando-a para se sentar comigo numas cadeiras daquele corredor, uns metros antes do quarto onde está o nosso pai.
_ O que é que se passa, Lipe? - pergunta assim que nos sentamos. Respiro fundo antes de falar, porque nunca fui muito bom com este tipo de coisa.
_ Eu devo-te um pedido de desculpas, Beca. - ela franze levemente o sobrolho, confusa - Sim, devo-te um. Por não estar tão presente como devia, por não te apoiar como devia, por ser um filho e um irmão de merda, basicamente. - baixo a cabeça, sentindo as lágrimas começarem a formar-se. - Mas essa parte também é para o pai. Eu estava tão ocupado com a minha vida pessoal, com a escola, com... - ela. - Com um novo amor.
_ Encontraste outra pessoa? - anuo. - Finalmente! - sou envolvido num abraço. - E então como é que ela é? Há quanto tempo? - e as lágrimas começam a cair. - Oh, Lipe...então, é suposto estares feliz. Depois de tanto tempo, conseguiste encontrar alguém. Isso é muito bom!
_ Não, Beca, não estás a perceber. Não é bom, nada bom, porque eu estraguei tudo. Ela é minha aluna. - digo mais baixo. Já seria mau o suficiente ser julgado pela minha irmã, quanto mais pelo hospital inteiro. A sua expressão é a esperada, um certo choque. - Aconteceu tudo muito rápido, mas eu amo-a. Amo-a como nunca amei a Sofia. - refiro-me á minha ex- namorada e pela primeira vez não choro por ela. Sou envolvido novamente num abraço e permito-me ser consolado pela minha irmã, que agora também chora. Resolvo contar-lhe tudo o que se passou entre mim e a Bea e soube extremamente bem partilhar aquilo com alguém. Quando eu terminei, estávamos os dois completamente lavados em lágrimas. Ela percebeu a dor da Bea por ter passado pelo mesmo e aconselhou-me a ter calma com ela, a fazer o mesmo que ela e o Miguel.
Isso se ela também me perdoar.
_ Então, vão fazer o vosso pai esperar muito? - ouço o som vindo da porta do quarto onde ele estava e levantamo-nos, caminhando em direção a lá.
_ Meu filho! - o meu pai chama-me com um sorriso no rosto e apresso-me a ir abraçá-lo.
_ Desculpe, pai, desculpe não tê-lo visitado mais vezes. - baixo-me ao lado da cama e beijo-lhe a mão, enquanto as lágrimas não cessam. - Prometo que vou mudar, prometo!
_ Levanta-te, Filipe. Deixa-te disso, rapaz. - segura a minha mão - O importante é que agora estás aqui. E quem é aquele jovem? É o namorado da tua irmã?
_ Não senhor, ainda não. - o Miguel aproximou-se e apertou a mão ao meu pai - Por enquanto, sou apenas o seu médico. Muito prazer em conhecê-lo!
_ Igualmente. Aprecio a determinação. - o homem comenta e todos rimos.
Determinação e paciência, duas coisas que me faltam um pouco. E eu vou fazer tudo em meu alcance para me tornar um homem melhor, por ela.

Meu Querido ProfessorWhere stories live. Discover now