Capítulo 17 | Collins

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Beatriz

Durante a viagem de carro e até chegar ao gabinete do diretor eu não abri a boca. O nervosismo tomou conta de mim, na verdade de nós dois, mas ao contrário de mim, ele estava a tentar melhorar o ambiente. Tentou fazer com que eu dissesse alguma coisa, nem que fosse para o mandar calar, mas eu simplesmemte não conseguia. Parecia que tinha um nó na garganta, porque era muita coisa em risco.
Sentia, sobretudo, raiva do Pedro. Ele não podia simplesmente ganhar. Não estava certo ele conseguir cantar vitória sem que eu desse luta. Acima de tudo era muito errado que o Filipe também saísse prejudicado desta história.
Sempre ouvi dizer que o que é bom acaba depressa, e isto foi a mais autêntica prova. Devido á minha incompetência no que toca ao Filipe e a disfarçar tudo o que ele despertava em mim, estávamos naquela situação.
_ Não te preocupes, vai ficar tudo bem. - ele disse-me antes de entrarmos no gabinete. Anuí, sem olhar para ele.

A primeira coisa que os meus olhos encontraram foi o professor Collins. O homem fuzilou-nos com o olhar, e eu engoli em seco. Ao lado estava o causador de tudo isto, a sorrir, sarcástico.
_ Acho que não preciso referir o motivo pelo qual estão aqui, certo? - o diretor começou, depois de limpar a garganta.
_ Não senhor. Mas, se me permite a pergunta, o que é que ele ainda está a fazer aqui? - o Filipe disse num tom de voz firme, olhando para o loiro com uma cara nada boa. Toquei-lhe o braço com o meu, para que se acalmasse e rezei para que nenhum dos outros ali presentes reparasse. Depois de olhar para mim, respirou fundo e voltou a sua atenção para o mais velho.
_ Isso não te diz respeito, Filipe, mas já que insistes ele está aqui porque me informou do ocorrido.
_ Precisamente! Ele não está, de forma alguma, envolvido nisto. A não ser que queira que eu diga algumas coisas a seu respeito. - o moreno respondeu. Tinha um mau pressentimento quanto a isto. - Sabia que este aluno entrou sob efeito de droga aqui? - o Collins franziu o sobrolho. Estava confuso por aquele assunto estar a ser trazido á tona - Sabia que a rapariga que ele está a acusar sabe-se lá de quê foi agredida por ele dentro de uma das salas deste estabelecimento?
_ Não...eu não sabia. É outro assunto a tratar, realmente. - respondeu, endireitando os óculos, atrapalhado. Pude ver a inquietação, se é que se pode chamar assim, do Pedro. O Filipe pressionou a bochecha com a língua, gesto que mostrava a sua indignação. - Ela, na verdade vocês dois estão a ser acusados de manter uma relação amorosa. És professor e ela é aluna, Gomes. Tua aluna. Não vejo um motivo plausível para isto a não ser que a Beatriz esteja a...
_ Não. Não se atreva a acabar essa frase. - ele interveio, falando quase que entre dentes. O meu estômago deu voltas com a noção dos pensamentos do mais velho - Esperava mais de si, Collins. Para além de sugerir algo completamente errado e ofensivo para connosco, está a menosprezar algo que afeta toda a comunidade em função de uma denúncia que implica... sentimentos. - reforçou, o que me fez sentir mais calma. Errado não estava.
_ Não pode provar isso! - o loiro interveio, levantando-se do sofá onde estava sentado. Inconscientemente, coloquei-me do outro lado do moreno. Ainda não conseguia negar que sentia um certo medo dele.
_ Ah, mas é possível. Achavas o quê? Que ias estar numa das melhores escolas do país e não iam existir câmeras de vigilância? - ripostou novamente.
_ É, pelo menos isso...- disse, baixinho. O facto de naqueles minutos eu ter aberto finalmente a boca fez com que todos os olhos naquela sala se fixassem em mim. Chegou a ser sufocante. - Há forma de aceder ás gravações? - percebi o meio sorriso do Filipe. Ainda abalado pelas palavras dele, o diretor anuiu.
Atrás de si, numa prateleira, estavam várias cópias das gravações dos vários dias e salas.
Respirei fundo antes do botão do play ser pressionado. Aquele simples vídeo mostrava que ambas as partes tinham razão. Por outras palavras, podia ser algo muito bom ou então algo que podia provocar a perda de um emprego, isto para não ir mais longe nas consequências.
Quando é que vais perceber que és minha? ... Cabra, é o que tu és, uma enorme cabra!
Obriguei-me a segurar as lágrimas. Aquele áudio ecoava pela sala e a verdade estava a ser exposta. Toda ela...
Meu amor.
Sim, agora tudo se sabia. Apesar disso, não consegui evitar o sorriso. Nunca pensei ser possível "reviver" memórias, mas aparentemente estava errada.
_ Como vê, as minhas palavras têm fundamento. - o moreno disse, parando o vídeo. Pelo canto do olho percebi que o loiro quase espumava de raiva.
_ De facto, têm. - Collins franziu o sobrolho - Pedro, saia desta sala e espere ser chamado no corredor. - O rapaz tentou falar, mas sem sucesso - Agora!
O som da porta a fechar fez-me ter coragem para dar o meu "depoimento".
_ Se me permite falar, eu gostaria de intervir. - o homem anuiu - Já sabe o óbvio, então vou poupá-lo de uma massiva repetição. Vemos as duas coisas nesse vídeo, mas há mais que se lhe diga. Durante meses eu estive num relacionamento abusivo. Antes que fale, eu sei que o senhor não se podia importar menos com isso, até porque é a minha vida. A questão aqui é que devia importar-se com a segurança e funcionamento da escola, para que não aconteça o que viu. - olhei-o nos olhos - Felizmente, há quem se preocupe. Tem uma dessas pessoas á sua frente! - disse, deviando rapidamente os olhos para o Filipe - Ele ajudou-me, várias vezes. É tão bom professor quanto é boa pessoa! Pode ver quantas filmagens quiser, não há momento algum em que façamos algo que prejudique de alguma forma a comunidade.
_ Beatriz... - ele interveio. Olhei para ele e sorri.
_ Eu apaixonei-me por ele. Por favor, não cause mais perdas. Ele é a minha pessoa. - sussurrei a última parte. O Collins pressionou a cana do nariz, a sua respiração pesada.
_ Só não dêem demasiado nas vistas. E chamem o tal rapaz quando saírem.
O calor emanado pela mão do Filipe foi a única coisa que me impediu de pular de alegria.

Meu Querido Professorحيث تعيش القصص. اكتشف الآن