Capítulo 14 | Minha Querida

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Olhamos um para o outro, sem dizer nada. Nenhum de nós quer estragar aquele momento com a mínima alteração. Depende da alteração, vejamos bem: se ele me quiser dar um beijo na cabeça ou tirar-me daqui, eu apoio essa alteração. E de que maneira.
Como se lesse os meus pensamentos pela segunda vez, dá-me as mãos.
_ Queres...sair daqui? - pergunta-me enquanto me põe alguns fios atrás da orelha. Olho para as nossas mãos e solto um risinho. Volto a olhar para ele.
_ Quero. - ele sorri com os olhos - Mas temos obrigações...e se formos vistos juntos vai tudo parecer estranho.
_ Ok. Então fazemos assim: vou dar-te o meu número. Assim, logo que possas, liga-me e nós logo vemos o que fazemos. - anuo. Ele guarda o seu número no meu telemóvel e não me deixa por nada ver o que ele está a escrever como nome do contacto.
_ Isso é tudo muito bonito, mas como é que eu vou saber qual é o teu número? E como é que tu vais saber que sou eu a ligar-te? - questiono-o e ele ri-se.
_ Vais saber, acredita em mim. - reviro os olhos, mesmo com um sorrisinho a brincar nos meus lábios. Adorava este lado dele, quando dizia coisas como esta. Uma das suas mãos larga a minha e pousa na minha cintura. Sinto o seu toque, sinto-o como nunca senti nada.
_ Não...faças mais isso, por favor. Não agora. - as palavras soam-me bem. Soam com o sentido que qualquer rapariga lhes atribui.
_ Vou pensar no seu caso, professor. - respondo e pisco-lhe o olho. Soou o toque e fomos obrigados, literalmente, a recuperar a postura. Já se ouviam as portas das salas a serem abertas.
Ele dá-me um beijo de despedida na testa e afasta-se.
_ Encontramo-nos segunda-feira, para a explicação. - diz quando a restante turma começa a entrar na sala. Anuo, em resposta. Ele sabia improvisar, e bem. Sem que ninguém visse, piscou-me o olho e dirigiu-se á porta.
Voltei a sentar-me e comecei a tirar as minhas coisas para a aula de Inglês. Depois foi ouvir - ou tentar.
Tudo o que eu queria ver era o nome do raio do contacto.
***
A aula passou devagar, já ninguém aguentava ouvir falar de tempos verbais, nem o sotaque britânico da professora. Olhei para o relógio e apenas meia hora de aula havia passado. Arrependi-me quase que instantaneamente de não ter aceitado a primeira proposta do Filipe.
A única coisa que deu um toque de piada á aula foi um rapaz perguntar se podíamos sair quando a professora nos perguntou se tínhamos dúvidas sobre o que ela tinha acabado de explicar. Por pouco ele não foi mandado para fora da sala. Saímos 45 minutos depois.
_ Bea! O que é que o professor Filipe estava a fazer aqui contigo? - ouço a Marina perguntar. Sim, aquela Marina.
_ Não que te diga respeito, mas a falar-me da explicação. - decido ser breve na minha resposta. Virei-lhe as costas e saí, caso contrário a conversa tinha pano para mangas e eu nunca mais faria o que estava a esperar desde que ele saiu daqui.
Já cá fora, tirei o telemóvel da mala. Abri os contactos e...bem, procurei.
Clara
Luana ♡
Mafalda
Mãe 🤍
...
Pessoa preferida ;)

Não pude deixar de sorrir. É claro que eu ia saber que era ele. O melhor de tudo é que era um nome discreto ao mesmo tempo que especial. Pressionei a tecla de chamada. Ele foi rápido a atender, confesso que me surpreendeu.
_ Como está a minha querida? - solto uma risada nasal.
_ Estou bem. Poderia estar melhor, mas estou bem. E a minha pessoa preferida? - desta vez ele ri-se.
_ Ah, sabia que ias perceber a referência. - olho em redor mas não o vejo. Ainda não está pronto, provavelmente - Só uma coisinha...estás a olhar para o sítio errado.
_ Espera, já saíste do edifício? - pergunto confusa. Ele é alto, deve ter prái 1.80m, então difícil é não vê-lo e até mesmo não reparar nele.
_ Sim senhora, saí há pouco. Digamos que estava ansioso por ver alguém. - sinto calor e não sei se se deve ás suas palavras ou ao sol - Detesto não poder ver as tuas reacções neste momento! - rio-me - Vem para a parte final do parque de estacionamento. É mais seguro se entrares no carro aqui, porque há mais carros e menos pessoas.
_ Ok. Até daqui a...um minuto! - desligo.
Encaminho-me para lá e consigo bater o meu recorde. Apenas quando cheguei ao carro dele é que me apercebi do que estava a fazer. Era errado, principalmente pelo que tinha acontecido há poucas horas atrás. Sendo sincera aquele relacionamento tinha acabado há algum tempo. Já não se podia bem chamar de relacionamento aquilo que eu tinha com o Pedro. Era uma relação, mas não amorosa - de todo.
Entrei no carro e deixei-me ser invadida por aquele cheiro amadeirado.
_ 0.53 segundos. Isso seria novamente uma humilhação ao Flash. Aliás, é. - ele começa. Eu, por outro lado, só me pergunto qual é o nome do meu contacto. - Eu consigo ouvir as engrenagens a rodar nessa tua cabecinha, Beatriz. O que é que te preocupa?
Escondo a cara com as mãos. Desde quando ele me conhecia assim tão bem?
_ Não é preocupação...é mais uma pergunta. Que eu queria fazer-te. - sorrio, para o tentar convencer. Ele ri-se e olha pelo seu vidro.
_ Deixa-me adivinhar. Qual é o nome do teu contacto? - direto ao ponto. Merda! Tenho de deixar de ser tão óbvia. - Não te vou dizer, não aqui. Mas obrigado pelo sorriso. Iluminas mundo e fundo com ele.
A sua mão sobe até á minha face. Acho que isto está a começar a ganhar tal frequência que a cada vez que acontece ganha 20% de naturalidade.
_ Odeio-te. Fizeste-me esquecer de ficar chateada contigo.
_ Nada que agradecer, querida.

***
Para as minhas leitoras e leitores do Brasil:
A palavra "rapariga" significa moça ou jovem em português de Portugal. Sei que aí tem um significado diferente, por isso preferi esclarecer este aspeto.

Espero que todos estejam a gostar da história!
Bjo <3

Meu Querido ProfessorTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang