Capítulo 25 | Luana

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_ Desembucha. Conta-me tudo. - a Luana sentou-se na minha cama, ainda sem pousar a mala. Bem, isto vai ser giro.
Sentei-me com as costas apoiadas na cabeceira da cama e peguei na minha almofada para o colo. Voltei a pousá-la no mesmo sítio assim que percebi uma réstia do cheiro dele.
_ Quando falamos hoje de manhã, e me aconselhaste a ir falar com o Filipe, eu fui, fui certa de que íamos acertar as coisas e ia ficar tudo bem. Mas não ficou. - comecei, baixando depois a cabeça, e mordi o lábio remoendo tudo novamente.
_ Então? - questionou.
_ Começou quando eu encontrei a Marina e ela achou por bem falar comigo um pouco. - a minha melhor amiga olhou para mim com a sobrancelha levantada - Se achaste isso estranho, prepara-te para o tema de conversa: ele. Ela começou a dizer um monte de coisas, sobre como ele era bonito e depois disse... - obriguei- me a parar para respirar fundo e segurar as lágrimas. O alarmismo da Luana só aumentou - Ela disse, passo a citar, "Nunca te imaginaste a passar as mãos pelo peito dele enquanto ele sussurra o teu nome?", e depois disse que já teve a oportunidade de o fazer várias vezes.
Deixei a cabeça cair para trás ao soltar uma risada nasal, ainda com uma certa descrença quanto a tudo.
_ O quê? Que cabra! Parto-lhe aqueles dentes todos quando a vir! Melhor, deixo-lhe o nariz de maneira a precisar de outra plástica. - ri-me com a sua forma de dar piada á coisa, mas em segundos voltei á mágoa.
_ Eu não quis acreditar que aquilo fosse verdade, até porque ela é conhecida por isso mesmo, engana todos, faz tudo a seu favor. Mas depois eu pensei: que motivos ela teria para fazer isso...comigo? Eu mal a conheço e ela mal me conhece. Então fui para a sala, falar com o Filipe e esquecer que aquilo tinha acontecido. Fui em direção á minha felicidade, merda!
_ Oh oh...o que aconteceu? Pelo teu tom de voz...
_ Aconteceu que eu tive a mais magnífica visão assim que abri a porta, nem tive tempo de dizer nada. Queres tentar adivinhar? - ela limitou-se a dizer que não com a cabeça - Pois...também acho que não ias conseguir chegar lá.
_ Bea, estás a assustar-me...fala comigo. - a rapariga aproximou-se de mim e os meus olhos encheram-se de lágrimas.
_ Eu não tive tempo de dizer nada, porque ele estava demasiado ocupado a beijar a Marina. Eu abri a porta e vi aquilo. Acho que nunca me senti tão...estúpida na minha vida. Como é que eu pude achar que o que tínhamos era real? Como é que eu achei que ele podia amar-me?
_ Oh, Bea...- ela sentou-se ao meu lado e abraçou-me, enquanto eu chorava. Com a cabeça deitada no seu peito, ouvi o seu coração bater rápido pela raiva.
_ Eu não sei...sinceramente...o que fiz para merecer isto. - levantei a cabeça para olhar para ela, que me limpou as lágrimas - Quer dizer...logo ela? Merda, parece que foi de propósito.
_ Eu sei que não é fácil, acredita em mim. E não, tu não mereces nada disto. Tira essas ideias completamente parvas da cabeça. - assegurou-me, fazendo-me olhar para ela - E peço, por favor, que não me odeies pelo que vou dizer a seguir. - olhei-a desconfiada, mas anuí. Antes de continuar, ela respirou fundo - Depois de tudo o que aconteceu entre vocês, depois de tudo aquilo que passaram, da ajuda que ele te deu, mesmo que em pouco tempo, não achas que isto é tudo um bocado estranho?
O quê? Não...ela só pode estar a brincar, certo? Levantei-me da cama, passando as mãos pelo rosto.
_ Não, Bea, ouve. É realmente estranho, ainda mais tendo em conta o timing. Eu não o conheço tanto quanto isso, mas caramba, acho que ele não seria capaz de fazer-te isso. Parecia sempre tão sincero...- ouvi os seus passos até mim, perto da cadeira onde estava o sobretudo cinzento dele - É dele, não é?
O meu silêncio foi resposta suficiente.
_ Tenho de devolver-lho, vou fazer isso amanhã. - disse, determinada, tirando-o da cadeira para me poder sentar. Determinação essa que não durou muito, porque quanto mais eu olhava para o casaco, mais lembranças de momentos com ele me assolavam a mente. Maior a minha dor se tornava.
Porque é que amar doía tanto?
_ Tu ama-lo, não é? - a Luana perguntou, agachando-se ao meu lado e pegando-me nas mãos.
_ Claro que o amo! - admito - Foi ele que me tirou de uma das piores situações da minha vida, foi ele que me apoiou quando muitos não o fizeram. Foi ele que me mostrou o que é realmente ser amada. Mas também foi ele que me deu o inferno. Foi ele que me deu isto, esta sensação horrível que eu não consigo deixar.
As lágrimas voltaram, desta vez em força. E ela abraçou-me, sem nenhuma palavra ser proferida. Como é que eu ia conseguir seguir em frente? Os últimos tempos foram uma autêntica montanha-russa de emoções e eu não sabia se conseguiria sair dela ou fazê-la abrandar.

Quando descemos para jantar, eu estava ligeiramente melhor.
Isto como quem diz que se obrigou a parar de chorar e usou a desculpa de que um bocado da máscara lhe tinha entrado para os olhos para explicar a sua vermelhidão. Felizmente, a minha mãe não fez perguntas e a Luana não escorregou ao contar como tinha sido o nosso fim de tarde.
_ Estava tudo delicioso, Júlia. Quando preparar a sua lasanha novamente, chame-me, por favor. - as duas despediram-se enquanto eu acabava de levantar a mesa. Assim que ouvi a porta ser aberta, apressei-me.
_ Ias embora sem me dizer adeus? - perguntei, fazendo-a olhar para trás a rir, aproximando-me depois para a abraçar - Obrigada. - sussurrei-lhe ao ouvido - Realmente não sei o que teria feito sem ti hoje.
_ Sinceramente? Eu também não. - sorriu, feliz por me ter arrancado uma gargalhada - Já te disse, estou aqui para o que precisares, não importa quando seja.
Voltei a abraçá-la, realmente grata por a ter na minha vida.

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