Capítulo 31 | Come Alive

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Perco-me naquele mar imenso que eram os seus olhos, ainda confusa. Tenho plena consciência do calor das suas mãos nos meus braços e é reconfortante. Até mais do que devia. Já tinha esquecido como era...bom.
_ Temos mesmo de falar, Beatriz. - diz quase em súplica. Os seus olhos brilham enquanto percorre todo o meu rosto, fixando-se nos meus. - Isto é tortura para ambos, este impasse, tudo isto é...é loucura. - profere as últimas palavras num tom de voz mais baixo e quase une as sobrancelhas. Há um leve toque de desespero na sua voz. Ele tem medo que eu lhe vire as costas mais uma vez. Este pensamento, esta conclusão a que acabei de chegar provoca uma pontada no meu coração.
Culpa.
Mas ele também me magoou.
_ Só te peço uma coisa: que me ouças. Se quiseres ouvir e arranjar espaço na tua mente e coração para tentar entender, ficarei muito feliz. Se não o quiseres fazer, deixo-te ir. Já te perdi uma vez e não sei se aguentaria a segunda. Mas cabe-te a ti decidir. Sim ou não?
Assim que se cala, olhando para mim na expectativa da minha resposta o meu mundo cai. Porque assim que estas palavras deixaram os seus lábios eu soube, tive a certeza de que ele me amava. Está totalmente vulnerável á minha frente, a pedir uma oportunidade de se explicar. Está disposto a deixar-me ir de vez se eu não o quiser escutar. Até agora não tinha considerado uma realidade sem ele e agora que o fiz percebo que a ideia não me agrada.
E isso leva-me a dizer:
_ Ok. Podes falar.

Filipe
Sinto uma onda de alívio espalhar-se por todo o meu corpo ao mesmo tempo que a vaga de nervosismo se aproxima. Um passo em falso e acabou tudo.
_ O que tu viste naquele dia, foi real. Não vou dizer que foram coisas da tua cabeça nem que a culpa foi inteiramente dela. Foi um beijo, que ela iniciou e eu retribuí. - a mulher que amo revira os olhos e afasta-se de mim. O seu olhar perdeu o brilho com que me olhava há segundos atrás. - Por isso também não vou dizer que é minimamente aceitável, tão-pouco que sei dizer-te porque o fiz. Até hoje, meses depois do ocorrido não consegui perceber o que me levou a beijá-la. Por isso, tive vontade de acabar com a minha própria vida. Novamente. - digo num tom de voz mais baixo e fecho os olhos por breves segundos, fazendo um rewind acidental á minha adolescência.
Há um ano atrás.
Há dois meses atrás.
Abrindo os olhos novamente, encontro-a mais confusa ainda.
_ Tu...não...nã...- profere assim que percebe o sentido das minhas palavras, tapando a boca em choque. Depois volta a aproximar-se de mim e segura a minha mão, num toque suave. A minha visão torna-se turva do lado esquerdo e limpo logo a pequena gota que caiu.
_ Pois...isso também. Mas não é o assunto a tratar agora. - olha para mim novamente, desta vez com o olhar inicial. - Foi o maior erro da minha vida e eu não consigo arranjar palavras suficientes para te dizer o quão me arrependo disso. Sei que te é muito difícil acreditar nas minhas palavras neste momento, mas já que as ouviste até agora, deixa-me dizer mais algumas. - olho-a, esperando a sua confirmação e recebo-a no mesmo instante. - Eu vou reconquistar a tua confiança, nem que seja a última coisa que eu faça. Será a melhor tarefa de toda a minha vida. Se me deixares tentar.
E então, silêncio. Parecendo absorver tudo o que lhe disse, cambaleia para trás e fica encostada á parede branca e fria, provocando em mim o desejo de que fosse eu a apoiá-la.
_ Não, Filipe. Eu acho que tu não percebes o quão difícil é para mim ouvir-te dizer isso. - fala finalmente, surpreendendo-me. - Porque eu gosto dessa ideia. Porque apesar de tudo eu quero acreditar. Eu gostava de confiar novamente em ti, mas não sei se consigo. - diz, aflita. A sua expressão de angústia, que espelha a batalha interna que trava consigo própria faz aparecer no meu rosto a culpa, a consciência de que fui eu o provocador de tudo isto. Um brilho triste aparece nos meus olhos, tal como sempre que a vejo em igual ou parecido estado. Antes sequer que perceba, os meus pés levam-me até ela. Estamos frente a frente, o mais perto que estivemos desde tudo. O seu peito sobe e desce consideravelmente rápido enquanto ela evita encontrar os meus olhos. A sua boca está entreaberta, libertando leves suspiros.
Então os seus olhos encontram os meus, como se depois de muita insistência ela não tivesse mais força para resistir. Consigo ver um toque de confiança neles.
E foi a última coisa que vi, porque no segundo seguinte os meus lábios foram cobertos pelos dela. Ela atirou-se para os meus braços como se dependesse disso para respirar. Foi algo único, a experiência de uma vida. A minha mão direita assumiu o seu lugar, acolhendo o seu rosto enquanto a segurava nas costas com a outra. As nossas respirações, entre-cortadas, misturam-se enquanto sinto que as nossas almas se reconectam.
Estou vivo novamente.

Meu Querido ProfessorWhere stories live. Discover now