Capítulo 13 | Dejà Vu

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Filipe
Assustei-me quando uma rapariga de cabelo encaracolado entrou na antiga sala de professores a correr, algo desesperada. Estava a corrigir teses quando ela me interrompeu. Era a Luana, a melhor amiga da Bea. O meu coração ficou apertado dentro do peito, porque apesar de ainda não ter sido proferida nenhuma palavra, eu sabia que algo de muito mau estava a acontecer. Com a minha querida.
_ Luana, o que é que se passa? - disse ao levantar-me. Era difícil para ela falar.
_ A Bea... - ela para para respirar - O Pedro entrou aqui. Foi ter com ela e não está mesmo bem. Ele está sob efeito de droga e sozinho com ela.
Mal a deixei falar, apressei-me a sair dali. Ela guiou-me pelos corredores, não por eu não conhecer a escola - conhecia-a como a palma da minha mão - mas por haver várias salas em estilo anfiteatro e eu não saber o horário dela. Outro problema que precisa de ser resolvido, é uma boa treta não saber onde ela está, ainda mais em momentos como este.
_ É a última deste corredor. Vá, por favor. Antes que aconteça algo que ninguém quer. - é o que ela diz antes de parar para recuperar o fôlego. Não íamos a correr, mas também não íamos propriamente a andar "normalmente". Tendo em conta, especialmente, a diferença de tamanho entre mim e ela era perfeitamente compreensível que eu andasse mais rápido que ela e ela se cansasse mais a tentar acompanhar-me.
Atingi finalmente a porta da sala. A primeira coisa que os meus olhos viram fez-me considerar um crime. Ok, talvez não chegasse a tanto, não sou assim tão cruel. Mas fez-me querer ensinar uma lição ao rapaz. Á minha maneira, claro.
Em passos largos aproximei-me deles e impedi que ela fosse atingida novamente. Se isto acontecesse eu não sei mesmo o que aconteceria nos próximos minutos. A Luana ajudou-me a levá-lo dali para fora, enquanto a Bea se sentava, ainda sem perceber bem o que se tinha acabado de passar ali. Melhor dizendo, ela percebeu, apenas estava com dificuldade em acreditar.
_ E o príncipe salvou a princesinha! - o meu sangue ferveu.
_ Tira o nome dela da tua boca. - é o que me limito a responder. Se dissesse mais alguma coisa o que já era mau ficava pior, muito pior - E nunca mais te dirijas a mim dessa forma. Não tenho a tua idade, rapaz.
Deixei-o no gabinete da direção para ter uma conversa com o diretor e ele sofrer as merecidas consequências. A Luana ofereceu-se para ficar lá, talvez para servir de testemunha caso fosse necessário. E para contar a história como realmente aconteceu, já que o outro presente naquele gabinete era um rapaz que tresandava a marijuana.
Rápido regressei ao ponto de início, onde encontrei uma Beatriz triste e assustada, sozinha.
_ Meu amor. - preenchi o silêncio. Envolvi-a num abraço sincero, tentando fazê-la sentir-se o mais segura e confortável possível.
As lágrimas não cessaram durante um bom bocado, tal como eu não parei de lhe prestar o meu apoio. Afagava-lhe a cabeça enquanto ela se acalmava, pacientemente. De uma coisa eu tinha a certeza: não a deixaria cair. Não largaria a sua mão - em ambos os sentidos. E, acima de tudo, não iria deixar escapar uma hipótese de felicidade na minha vida - e acho que na dela também.
_ Filipe. - ouvi. O meu nome saiu dos seus lábios pela primeira vez, dirigindo-se a mim. Sorri, inevitavelmente.
_ Beatriz. - respondi. Ela levantou os olhos e olhou-me para a alma. Éramos eu e ela numa sala vazia e um mundo inteiro lá fora, mas, ainda assim, éramos eu e ela. Juntos.
_ Obrigada. Por cuidares de mim...por seres tu, principalmente. Acho que és a minha pessoa. - sorri-lhe com os olhos. Aquelas palavras iriam para sempre ficar gravadas na minha memória. Eram as mais bonitas que já me tinham dito.
_ Tu és a minha querida. O meu amor. Não digo isto para te forçar a nada, muito menos invadir o teu espaço. Toma as minhas palavras como um símbolo do meu afeto e declaração das minhas intenções num futuro cuja proximidade tu decides. - ela suspira e eu percebo os batimentos acelerados do seu coração. - Fiz-te uma promessa, de que iria sempre olhar por ti, estou apenas a cumprí-la. Eu realmente gosto de ti, Beatriz.

Beatriz
Sou atingida pela sensação de deja vu imediatamente. O meu sonho era realidade. Se me perguntassem como me sinto agora, a minha resposta seria bastante simples. O meu estado atual é de uma felicidade indescritível. Posso sentir-me feliz com a sua declaração porque estou livre. Posso demonstrar a reciprocidade dos sentimentos sem o medo constante de tudo aquilo me ser tirado numa fração de segundo.
_ Eu também gosto de ti. Realmente. - respondi, da forma mais apropriada. Depois ri-me.
_ O que foi? - ele perguntou enquanto sorria e me acariciava a maçã do rosto.
_ Se eu disser não vais acreditar. - ele levantou uma sobrancelha - Eu sonhei com isto.
Sei que isto talvez não seja possível ou muito comum, mas vi-o derreter-se neste momento. Afinal não é só ele que tem algum poder com as palavras.
_ Sonhaste comigo? - perguntou divertido com a situação. Eu anuí.
_ Com as tuas exatas palavras. - acrescentei. Ele riu, mostrando as malditas covinhas. O que é que eu fiz para merecê-lo?
_ Assim não é justo! Tu sabias tudo mesmo antes de eu falar. - o meu sorriso enfraqueceu - O que foi?
_ Eu sonhei com isto, é verdade. Mas o sonho podia não se ter concretizado. Então não, eu não sabia dos teus sentimentos. - ele une as sobrancelhas, fazendo uma expressão que me deu vontade de o encher de beijos. - Apenas suspeitava. - a sua expressão suavizou.
_ Então podes sossegar. É a verdade mais verdadeira de toda a tua vida. - sorri - Eu gosto de ti. Realmente gosto.

Meu Querido ProfessorDove le storie prendono vita. Scoprilo ora