Capítulo 16 | Think clearly

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Afastei-me dela e olhei-a. Os seus olhos, baixos, depressa se levantaram e o contacto visual fez com que eu estremecesse. O seu rosto ficou avermelhado, e os seus olhos estavam marejados. Uni as sobrancelhas e puxei-a para mim, dando-lhe um beijo na testa. Tive vontade de beijá-la, mas não era o momento indicado para tal. Para além disso não tinha a certeza da reação que ela teria, apesar de termos confessado o que sentimos. A nossa situação não era a mais comum, o que agravava tudo.
Um beijo muda muita coisa. Faltando quatro meses para o fim do ano, não seria muito bom "complicar" o complicado. Não iríamos conseguir esconder nada, por mais que tentássemos.
_ Não chores, meu amor. Não por algo que não tens culpa, e muito menos por mim. - disse baixinho enquanto lhe acariciava o rosto.
_ Em parte tenho culpa. Se eu não tivesse aberto a boca, não tinhas ficado assim. - respondeu, numa voz chorosa.
Esse jeito de ser dela dava-me voltas á cabeça, punha o meu coração a mil em meros segundos. Ao mesmo tempo chateava-me, porque ela realmente não tinha culpa de nada.
_ Não, Beatriz. Tu não tinhas como saber, então não podes culpar-te. Não tens esse direito. - ela arregalou os olhos, como se eu estivesse a repreendê-la noutro sentido. - Eu trouxe-te aqui por livre vontade, acima de tudo porque queria mostrar-te isto. És a primeira pessoa que eu trouxe aqui, caramba! - levantei a voz e levantei-me do chão. - Tu não fazes ideia do quanto eu esperei por este momento. Não fazes a mínima ideia do quanto eu esperei pelo dia em que me deixaste...entrar. Eu sei que a nossa situação não ajuda, mas vendo bem, só somos aluna e professor daqueles portões para dentro. - pauso para recuperar o fôlego. - Novamente, és a primeira pessoa que eu trouxe aqui.
Ela levantou-se.
_ Já disseste isso, Filipe. - afirmou confusa. A conversa tinha realmente tomado um rumo diferente. Estou capaz de explodir, de tanta coisa que tenho para lhe dizer. - Não estou a perceber...
_ De que forma posso simplificar? - questiono. - Eu nunca confiei no teu ex-namorado. Nunca gostei de ver o que ele te fazia e a forma como tu não conseguias por um fim a tudo. - começo a fazer um rewind a tudo. - A única vez em que gostei de estar no mesmo ambiente que ele foi no dia em que ele foi expulso, porque nesse dia tu abriste-te comigo. Foi a partir desse dia que consegui ter uma conversa contigo sem ver o medo nos teus olhos. - ela arregala os olhos - Sim, era bastante visível. Foi a partir desse dia que te tornaste diferente e começaste a seguir os teus instintos sem olhar em redor antes. Um exemplo é o dia de hoje: confiei em ti o suficiente para te trazer aqui e, consequentemente, contar-te sobre a minha mãe. Confiei o suficiente em ti para deixar que me visses por completo. Aqui estou, o verdadeiro eu. O sensível eu. O completamente...chateado eu.
Aproximei-me dela, com o coração a martelar dentro do meu peito e a respiração acelerada.
_ O que se passa? Estás a assustar-me...- ela disse, encolhendo-se. Por Deus! Era tão pura que me enlouquecia.
_ Estou aqui, perante ti, sem saber exatamente o que dizer, para ser sincero. Eu não esperava que isto fosse assim, não esperava estar a...- paro, preciso de reformular tudo. - Eu pensei que o amor não era para mim. Pensei que nunca ia encontrar ninguém que me entendesse e conseguisse suportar os meus devaneios. Pensei que não era possível apaixonar-se por alguém num curto espaço de tempo. Pensei que não era sensato beijar alguém só por nos apetecer, afinal um beijo é algo muito importante. Para mim é a mais pura declaração! - seguro o seu rosto. - Era impensável eu apaixonar-me por uma aluna, mas aqui estamos. E era mais impensável ainda eu beijá-la sem pensar claramente antes. - a sua respiração ganha maior ritmo. Suspiro antes de continuar. - Eu não penso claramente perto de ti. Que se lixe!
Esmago os seus lábios com os meus. Não tinha pressa alguma, era apenas uma necessidade que eu nem sabia que tinha assim tão intensa a falar alto. Ela retribuiu o beijo, segurando o meu rosto com uma mão. Os seus lábios macios eram viciantes, pareciam droga.
_ Eu... - ela começou, quando nos separamos. Encostei a minha testa á sua. Os pensamentos assolaram-me rapidamente.
_ Eu só...tinha de fazer isto. - digo, de olhos fechados. Ela mantém-se calada, mas não se afasta. - Desculpa.
_ Arrependes-te? - perguntou.
_ Não! É claro que não! - respondo exaltado. Nunca me arrependeria de beijá-la. Nunca me arrependeria de fazer nada em relação a ela a não ser magoá-la. E iria fazer o possível e impossível para evitar que isso acontecesse. Ela suspira, parecendo aliviada com a minha resposta. Tal ação provocou o meu sorriso. - E tu? Como te sentes em relação a isto?
_ Bem, sinto-me muito bem. O que foi isto, Filipe? - perguntou irónica. As suas bochechas ficaram vermelhas pela vergonha. - Foi...incrível. - sorriu. Beijei-lhe a testa e abracei-a. Este dia entrou para a minha lista de preferidos.
O seu telemóvel tocou, fazendo com que aquele momento chegasse ao fim.
_ É a Luana. - disse antes de atender, ainda com um sorriso abobalhado no rosto. - Alô!
A sua expressão mudou de feliz para preocupada. Desligou rápido e olhou para mim.
_ Temos de ir para a escola. O Pedro contou ao diretor sobre...nós.
Filho da mãe!
Corremos para o carro, com um sentimento bastante diferente do que tínhamos ao chegar aqui.

Meu Querido ProfessorDove le storie prendono vita. Scoprilo ora