Capítulo 12 | O Fim

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A aula de literatura foi, digamos, emocionante. Estivemos a debater a importância das mulheres no mundo da escrita e foi realmente produtivo. Claro que se ouviram comentários muito estúpidos, do tipo "As capacidades de uma mulher não se aproximam em nada às de um homem, quanto mais no campo da literatura. Para mim, era apenas uma forma de tentarem chamar á atenção!"
Sim, disseram isto. Em pleno século XXI. Cheguei a questionar-me se aquele rapaz não era um viajante de há 2 séculos atrás.
A Luana transferiu-se para literatura! Acho que é previsível que ela deu resposta - e que resposta. Passo a citar "Claro que não. Nós sabemos cozinhar, limpar, tratar da roupa, conciliar a vida pessoal com a profissional e ainda arranjamos tempo para entreter pessoas como tu. Homens. Mas pelo menos agora não é uma obrigação...em certos sítios. Quanto á questão de "chamar á atenção", querido, cresce e aparece! Se pensas assim faz um favor a todos e troca de disciplina, vais ver que até me agradeces."
Fui a primeira a aplaudir. A restante turma acompanhou-me, inclusive a professora.
Durante o intervalo nós duas deixamo-nos ficar na sala e eu contei-lhe sobre os poderes do meu subconsciente. Ela não gritou por pouco.
_ Sabes que dizem que os sonhos são sinais, certo? - anuí - E que quando sonhamos com alguém significa que a pessoa em questão tem saudades nossas? - baixei a cabeça envergonhada, ou indagando-me com a possibilidade de isto ser verdade. - Também li que quando não conseguimos dormir é porque estamos acordados no sonho de alguém. Não é tão interessante? - Ela diz com as mãos apoiadas no queixo e uma expressão sonhadora no rosto.
_ Claro que é. Mais interessante ainda é saberes isso tudo assim do nada. - tento ficar séria. Ela desmancha a sua pose que era merecedora de uma fotografia e retoma a sua essência.
_ Meu amor, eu sou uma caixa de surpresas! - atira o cabelo para as costas e dá um beijo no ombro. Caio na gargalhada, sem controle. Ela acaba por fazer o mesmo e assim ficamos. Paro de rir quando a vejo olhar fixamente para um ponto atrás de mim, deixando-me com alguma dificuldade em decifrar a sua expressão. Viro-me e vejo, depois de dias, o meu namorado. Decido manter-me calada visto que ainda desconheço o seu estado de espírito atual.
_ Feliz por me ver? - ele entra a cambalear na sala. Os degraus - do estilo anfiteatro da sala - dificultam-lhe a atividade de andar.
_ Por onde andaste, Pedro? - não tenho medo de falar porque não estou sozinha com ele e espero não ficar nos próximos minutos. Ele leva o pequeno rolo branco á boca e liberta uma nuvem branca de fumo.
_ Com os meus parças, foi muito divertido. - diz e ri-se após quase cair. Está num estado lastimável, isso sim. Sabia que ele tinha voltado a fumar, mas não a fumar aquilo. Sinceramente já não me surpreende, há muito que deixei de saber quem ele é.
_ Larga essa porcaria! Como é que conseguiste entrar aqui com isso? - enervo-me. A Luana está em pé, ao meu lado. Espero que ela não saia, não agora. Ele dá outro trago naquilo e aproxima-se de mim. Sinto nojo, apenas. - Pedro, por favor. Um pouco de respeito...ok?
_ Respeito? Queres mesmo falar de respeito? - os seus olhos, agora vermelhos, parecem queimar os meus. - Quem não me respeita és tu! Mesmo depois de todos os meus avisos, continuas com ele. - agora ele grita, apenas. A única coisa que o interrompe é a Luana a correr para fora da sala. - És MINHA. Quando é que vais perceber que não tens saída? Começo a achar que és burra. - ele cospe as palavras na minha cara. Excusado será dizer que agora tenho medo, para além da crescente raiva.
_ Eu não estou com ele! Tu é que fumas essas merdas e depois vens aqui e pensas que tens o direito de fazer e dizer o que queres e te apetece, mas enganas-te. E eu NÃO sou tua propried- um estalo cala-me. Uma lágrima desceu pelo meu rosto.
_ Cabra! É o que tu és, uma enorme cabra! - ele está descontrolado, completamente. Acerta-me novamente.
Sem força pelo impacto, caio no chão e pouso a mão na minha face, que agora arde.
Ouço a porta ser aberta com força e bater na parede.
_ O que é que se está a passar aqui? - ouço aquela voz tão familiar. Atrás dele entrou a Luana. Levanto-me com dificuldade e encaro-o com os olhos cheios de lágrimas. O Pedro está atónito, mas ainda com raiva, em especial agora. - Beatriz? Estás bem? - fecho os olhos com força. Ele acabou de tornar tudo pior.
_ Não estás com ele, hum? - vejo-o levantar a mão novamente e fecho os olhos antes de sentir um novo estalo. Abro-os porque não senti nada. Vejo o Filipe a segurar o braço do Pedro e a imobilizá-lo, basicamente.
Deixo cair o corpo na cadeira enquanto, com a ajuda da Luana, o meu agora ex-namorado é levado para fora dali.
A única coisa que sei fazer neste momento é chorar, por dois motivos: passei uma situação algo má, que nunca imaginei vir a passar e também pelo incrível sentimento de liberdade que me assola neste momento.
Passados uns momentos, ele volta a entrar na sala, apressado. Levanto-me ao vê-lo e as lágrimas resolvem cair em abundância.
_ Meu amor. - é o que ouço antes de ser envolvida num abraço caloroso. O único de que preciso neste momento.

Meu Querido ProfessorWhere stories live. Discover now