Capítulo 9 | Please Don't Leave Me

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O resto do dia foi bastante chato, apesar de a professora de filosofia realmente ter faltado, ou seja, tive tempo para...desanuviar.
Estive durante aquele tempo com o Filipe. Vi-o corrigir trabalhos, o que foi bastante engraçado. Ele ouvia música enquanto os corrigia, segundo ele para não adormecer. Fiquei sossegada no meu canto, para não o distrair, apesar de ser bastante difícil não começar a cantar. Para além de outras coisas, tínhamos em comum o gosto musical.
Quando começou It's my life - Bon Jovi, ele começou a acompanhar a música com batuques na mesa. Eu batia os pés, marcando o ritmo. Ele soltou uma risada nasal.
_ Tens bom gosto. - ele disse, sem olhar para mim com um sorriso brincando nos seus lábios e eu percebi que estava a cantarolar a letra. Corei.
_ Desculpa, não queria desconcentrar-te. - digo - Vou calar-me.
Começo a tirar o caderno da mala, para estudar, pelo menos ia fazer algo útil.
_ Não. - ele impede-me de o fazer - Podes estar à vontade, canta, fala comigo, o que quiseres. Mas não te cales, não por obrigação. - levanto o olhar para ele e sorrio. - E, na verdade, não me estás a desconcentrar. - ele baixa o dossier, que estava a usar como suporte para as folhas e percebo que ele estava simplesmente no telemóvel.
_ Uau, extremamente responsável, sim senhor. - digo - Está aí a explicação para a demora a entregar-nos os trabalhos. - ele recosta-se na cadeira, olhando para mim de uma forma que eu nunca tinha visto. Um olhar que eu, de certa forma, gostava.
_ É, a parte de corrigir e preparar tarefas não é muito boa. Prefiro dar aulas. É muito mais...divertido. - levanto a sobrancelha - Mas talvez, se eu tivesse uma certa companhia, mudasse de ideias. Talvez corrigisse mais rápido as coisas. - os meus lábios ficam entreabertos, pela surpresa. - Tudo flui melhor se tiver motivação!
_ O que é que eu ganharia com isso? - pergunto, pondo a vergonha para trás das costas. Ele sorri de lado, divertido com o rumo que a conversa está a tomar.
_ Estar aqui comigo vale-te boas gargalhadas, por exemplo. - ele começa - Também podes aproveitar para estudar num local sossegado enquanto não estivermos a conversar, ou então podemos conversar. Gosto de falar contigo. - percebo que ele fala bastante a sério - Podes ficar aqui, quando quiseres.
Fico supreendida. Ele não estava simplesmente a tentar convencer-me a ficar ali, ou a fazer-lhe companhia enquanto trabalhava. Estava a dizer que gostava de falar comigo, gostava da minha companhia.
_ Obrigada! - agradeço, porque ele estava a disponibilizar também aquele espaço. Para além de ser sossegado, tinha montes de livros, em estantes muito antigas.
Lembro-me do aviso do meu namorado e cogito a ideia de sair dali. Ignoro-a. Até era melhor que eu estivesse acompanhada durante mais tempo. O que podia dar errado era se o meu namorado percebesse a minha ideia. Se ele pudesse ler a minha mente duvido que eu estivesse aqui neste momento. O problema também é: estando aqui com ele é muito bom, realmente é um momento que aprecio bastante, mas isso só torna a nossa relação muito mais forte. E, apesar de isso ser um ponto bastante positivo, tornava tudo pior. Porque eu me conhecia e lhe conhecia a ele, sabia que ia ser cada vez mais difícil manter a distância.
_ Eu não devia estar aqui. - sou curta e direta. A sua reação foi óbvia: um ponto de interrogação estava esplícito na sua testa.
_ Posso perguntar porquê? - diz, completamente perdido. Estava tudo bem há segundos atrás. Calo-me sem saber bem o que responder, se dissesse a verdade ia dar asneira. Era de facto bastante estúpido. - O... - ele tenta lembrar-se de um nome qualquer - Não sei o nome dele, o teu namorado disse-te para te afastares, não foi? - suspiro, ele estava certo. - Esse rapaz não mede o perigo, não faz a mínima ideia das consequências daquilo que faz. Não és propriedade dele! Não tem o direito de te privar de ver ninguém ou de fazer seja o que for. - ele exalta-se e eu encolho-me na cadeira. Era complicado estar num relacionamento abusivo e ter alguém, aquele alguém, a dizer-me aquilo. - Desculpa. Não era minha intenção assustar-te. É só que ele é um estúpido, dependendo de mim já muita coisa estaria diferente. - diz parado á minha frente, enquanto me analisava o rosto. Por impulso, levantei-me e abracei-o. Ele ficou surpreso, mas rápido pôs os seus braços á minha volta, retribuindo o abraço. Aquela pequena demonstração de carinho significou...o mundo para mim. Dei por mim a enxugar uma lágrima, que iniciou um rio delas. Não era tristeza. Era a emoção e tudo o que eu trazia guardado desde algum tempo.
_ Estou a molhar-te a camisa! Desculpa.. - digo, afastando-me dele. Enxuguei o rosto e tentei acalmar-me.
_ Então? Calma, meu amor. - paraliso. Ele já me tinha chamado muita coisa, mas esta era a primeira. A mais especial, talvez. Sorri, pareceu-me a forma mais apropriada de reagir. - É a verdade, Beatriz. Eu preocupo-me contigo, já devias saber isso por esta altura do campeonato.
_ Eu sei. Só...não me trates assim e depois me abandones. Já me afeicoei demasiado a ti. - sou sincera. Era a minha vez de tentar mostrar o quanto significava para mim. Ele suspirou, desviou-me fios da cara colocando-os atrás da minha orelha. Por fim, sussurrou:
_ Não sou o tipo de pessoa que brinca com os sentimentos das outras, especialmente das mais importantes para mim.
Depois, beijou-me a testa e eu senti que realmente era importante para alguém.
Percebi que os seus braços eram um lugar de onde eu não sairia, se essa fosse uma das minhas opções.

Meu Querido ProfessorNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ