O resto do dia foi bastante chato, apesar de a professora de filosofia realmente ter faltado, ou seja, tive tempo para...desanuviar.
Estive durante aquele tempo com o Filipe. Vi-o corrigir trabalhos, o que foi bastante engraçado. Ele ouvia música enquanto os corrigia, segundo ele para não adormecer. Fiquei sossegada no meu canto, para não o distrair, apesar de ser bastante difícil não começar a cantar. Para além de outras coisas, tínhamos em comum o gosto musical.
Quando começou It's my life - Bon Jovi, ele começou a acompanhar a música com batuques na mesa. Eu batia os pés, marcando o ritmo. Ele soltou uma risada nasal.
_ Tens bom gosto. - ele disse, sem olhar para mim com um sorriso brincando nos seus lábios e eu percebi que estava a cantarolar a letra. Corei.
_ Desculpa, não queria desconcentrar-te. - digo - Vou calar-me.
Começo a tirar o caderno da mala, para estudar, pelo menos ia fazer algo útil.
_ Não. - ele impede-me de o fazer - Podes estar à vontade, canta, fala comigo, o que quiseres. Mas não te cales, não por obrigação. - levanto o olhar para ele e sorrio. - E, na verdade, não me estás a desconcentrar. - ele baixa o dossier, que estava a usar como suporte para as folhas e percebo que ele estava simplesmente no telemóvel.
_ Uau, extremamente responsável, sim senhor. - digo - Está aí a explicação para a demora a entregar-nos os trabalhos. - ele recosta-se na cadeira, olhando para mim de uma forma que eu nunca tinha visto. Um olhar que eu, de certa forma, gostava.
_ É, a parte de corrigir e preparar tarefas não é muito boa. Prefiro dar aulas. É muito mais...divertido. - levanto a sobrancelha - Mas talvez, se eu tivesse uma certa companhia, mudasse de ideias. Talvez corrigisse mais rápido as coisas. - os meus lábios ficam entreabertos, pela surpresa. - Tudo flui melhor se tiver motivação!
_ O que é que eu ganharia com isso? - pergunto, pondo a vergonha para trás das costas. Ele sorri de lado, divertido com o rumo que a conversa está a tomar.
_ Estar aqui comigo vale-te boas gargalhadas, por exemplo. - ele começa - Também podes aproveitar para estudar num local sossegado enquanto não estivermos a conversar, ou então podemos conversar. Gosto de falar contigo. - percebo que ele fala bastante a sério - Podes ficar aqui, quando quiseres.
Fico supreendida. Ele não estava simplesmente a tentar convencer-me a ficar ali, ou a fazer-lhe companhia enquanto trabalhava. Estava a dizer que gostava de falar comigo, gostava da minha companhia.
_ Obrigada! - agradeço, porque ele estava a disponibilizar também aquele espaço. Para além de ser sossegado, tinha montes de livros, em estantes muito antigas.
Lembro-me do aviso do meu namorado e cogito a ideia de sair dali. Ignoro-a. Até era melhor que eu estivesse acompanhada durante mais tempo. O que podia dar errado era se o meu namorado percebesse a minha ideia. Se ele pudesse ler a minha mente duvido que eu estivesse aqui neste momento. O problema também é: estando aqui com ele é muito bom, realmente é um momento que aprecio bastante, mas isso só torna a nossa relação muito mais forte. E, apesar de isso ser um ponto bastante positivo, tornava tudo pior. Porque eu me conhecia e lhe conhecia a ele, sabia que ia ser cada vez mais difícil manter a distância.
_ Eu não devia estar aqui. - sou curta e direta. A sua reação foi óbvia: um ponto de interrogação estava esplícito na sua testa.
_ Posso perguntar porquê? - diz, completamente perdido. Estava tudo bem há segundos atrás. Calo-me sem saber bem o que responder, se dissesse a verdade ia dar asneira. Era de facto bastante estúpido. - O... - ele tenta lembrar-se de um nome qualquer - Não sei o nome dele, o teu namorado disse-te para te afastares, não foi? - suspiro, ele estava certo. - Esse rapaz não mede o perigo, não faz a mínima ideia das consequências daquilo que faz. Não és propriedade dele! Não tem o direito de te privar de ver ninguém ou de fazer seja o que for. - ele exalta-se e eu encolho-me na cadeira. Era complicado estar num relacionamento abusivo e ter alguém, aquele alguém, a dizer-me aquilo. - Desculpa. Não era minha intenção assustar-te. É só que ele é um estúpido, dependendo de mim já muita coisa estaria diferente. - diz parado á minha frente, enquanto me analisava o rosto. Por impulso, levantei-me e abracei-o. Ele ficou surpreso, mas rápido pôs os seus braços á minha volta, retribuindo o abraço. Aquela pequena demonstração de carinho significou...o mundo para mim. Dei por mim a enxugar uma lágrima, que iniciou um rio delas. Não era tristeza. Era a emoção e tudo o que eu trazia guardado desde algum tempo.
_ Estou a molhar-te a camisa! Desculpa.. - digo, afastando-me dele. Enxuguei o rosto e tentei acalmar-me.
_ Então? Calma, meu amor. - paraliso. Ele já me tinha chamado muita coisa, mas esta era a primeira. A mais especial, talvez. Sorri, pareceu-me a forma mais apropriada de reagir. - É a verdade, Beatriz. Eu preocupo-me contigo, já devias saber isso por esta altura do campeonato.
_ Eu sei. Só...não me trates assim e depois me abandones. Já me afeicoei demasiado a ti. - sou sincera. Era a minha vez de tentar mostrar o quanto significava para mim. Ele suspirou, desviou-me fios da cara colocando-os atrás da minha orelha. Por fim, sussurrou:
_ Não sou o tipo de pessoa que brinca com os sentimentos das outras, especialmente das mais importantes para mim.
Depois, beijou-me a testa e eu senti que realmente era importante para alguém.
Percebi que os seus braços eram um lugar de onde eu não sairia, se essa fosse uma das minhas opções.
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BẠN ĐANG ĐỌC
Meu Querido Professor
Lãng mạnBeatriz é uma aluna que está a acabar o secundário e tudo vai bem na sua vida. Tem um namorado muito querido e preocupado, inclusive. Entretanto, inicia-se um novo semestre e ela começa a ter aulas de Física com um professor jovem. Filipe. Aí, tudo...