Capítulo 7 | Pressentimentos

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Nas duas próximas aulas não consegui prestar atenção a nada do que era dito.
O tempo passava incrivelmente devagar, era quase impossível não começar a dormir. Muitas pessoas estavam a fazê-lo (e eu quase) mas não conseguia.
Quando finalmente pudemos sair, a primeira coisa que fiz foi pegar no telemóvel. Havia umas 10 chamadas não atendidas do Pedro. Como se o dia não pudesse ficar melhor!
Cogito ignorá-las, mas acabo por atender.
_ Então, demoraste a atender, amor. - sinto-me estranha. A sua voz era calma, num mau sentido.
_ Estava em aula, não conseguia atender...- respondo.
_ Podias ter pedido para sair e falavas comigo! - ele exalta-se - Sou teu namorado, tens de me por como prioridade! - respiro fundo, de certa forma indignada com o que tinha acabado de ouvir. - O quê? Ah, já sei. Se fosse o professorzinho já tinhas tempo! - conto até dez mentalmente para tentar acalmar-me. Falho.
_ PÁRA! Ele é meu professor, Pedro. Estás a ouvir-te? - berro, como se estivesse á minha frente, fazendo todas as pessoas olharem para mim. Ele ri sarcástico.
_ Corajosa...adorava ver essa coragem pessoalmente! - engulo em seco - És minha. - ele diz pausadamente cada sílaba - Põe isso na cabeça, meu amor. - fico sem palavras. Talvez o Filipe tenha mesmo razão. Tudo isto, começa a fartar-me seriamente. Não sei porque raio ele meteu na cabeça que eu e o Filipe temos alguma coisa. Merda, ele é meu professor!
_ Olha, o facto de eu ser tua namorada, não me torna tua propriedade! Sinceramente, estamos no século XXI, acorda.
Desligo a chamada. Não sei o que me deu para falar com ele do modo como falei. Só sei que temo vê-lo. Conhecendo-o como conheço, especialmente agora, mesmo que eu esteja acompanhada quando isso acontecer, nada o vai parar.
Saio da escola agitada com o que acabou de acontecer e ponho os fones. Ouvir música era um tipo de terapia para mim. Para além de ler, desenhar, e...ele eram poucas as coisas de que eu gostava.
Chego a casa e encontro um bilhete da minha mãe:
Filha, se estiveres a ler isto e eu ainda não tiver chegado, é só para te avisar que fui comprar umas coisinhas que faltavam. Podes comer bolo, deixei-o no forno.
Pelo menos uma coisa agradável no meu dia, Graças a Deus! Parece que alguém me roga pragas, não é possível ter-se tanto azar. Depois de comer, subi e fui estudar, como de costume.

***

O despertador toca. Digo uma boa quantidade de palavrões mentalmente.
Odeio ter que acordar ás 7h da manhã, ainda por cima numa quinta-feira. Todos os meus dias são maus, mas hoje? Hoje passo praticamente o dia todo na escola.
Tenho um pressentimento estranho no peito. Os meus pressentimentos geralmente não falham, mas resolvo tentar ignorar este. Tento não pensar nos motivos dele existir.
Como hoje acordei a tempo, consegui fazer as coisas com mais calma. Visto-me, vou á cozinha tomar o pequeno-almoço, pego na mala e saio de casa.
Ao chegar á escola, cruzei-me com a Luana. Estávamos a encontrar-nos pela segunda vez na mesma semana, algo estranho, mas num bom sentido. Claro que estar com a minha melhor amiga, por mais curto espaço de tempo que fosse, melhorava o meu dia.
_ Segunda vez na semana, é um milagre! - digo ao abraçá-la. Percebo o seu sorriso. - Não queria vir hoje, mas ver-te torna tudo um pouco mais agradável! - ela põe a mão no peito, "lisonjeada". Rio.
_ Digo o mesmo...mas no meu caso, eu não viria nunca! - anuo. O meu olhar torna-se um tanto vazio ao perceber que já estou no local que temia - Estás bem? Parece que desligaste do mundo real e estás a fantasiar com alguma coisa...eu é que costumo fazer isso! - volto á realidade.
_Sabes como os meus pressentimentos nunca falham? - ela assente - E como eu odeio o facto de ter uma sensação estranha no peito até eles se concretizarem? - desta vez, levanta a sobrancelha - Hoje acordei assim...tenho este feeling de que algo vai acontecer ou correr mal. - ela para-me no corredor e sentamo-nos num banco. Como ela não estava a perceber nada, contei-lhe o ocorrido de ontem. Óbvio que ela não reagiu bem, mas isso eu sabia que iria acontecer.
_Que estúpido, meu Deus! Não percebo como continuas com ele, Bea, ele não te merece. E tu também não mereces estar num relacionamento como estás neste momento. - palavras bastante parecidas ás que ouvi de uma outra pessoa - Não sei o que faria se o visse agora, mas era certo que ele não ia poder...digamos, reproduzir-se. - arregalo os olhos.
_Mais uma não, por favor! - deixo escapar.
_ Mais uma? Quem é o iluminado que também pensa assim? - rio com o seu jeito de dar piada à situação. Boa, agora para além de pensar isto, também vai achar que eu e o meu querido professor temos alguma coisa.
_ O professor Gomes...também já me avis.. - ela corta-me, claro.
_ O PROFESSOR GOMES? - bato no seu braço porque a anta parece já não se lembrar do sítio em que estamos. - Desculpa...- diz quando percebe - Mas como assim? Porque raio ele havia de se meter na tua vida? Nunca vi um professor ser assim amigo de uma aluna ou preocupar-se assim com ela...oh meu Deus, estás metida com um professor? - ela atropela as próprias palavras e eu fecho os olhos arrependida de lhe ter contado isto aqui e agora. Já sei que sempre que a vir, vai querer saber se aconteceu mais alguma coisa ou inventar fanfics.
_ Não, é claro que não estou metida com ele. É meu professor, pelo amor de Deus, Lu! Eu namoro, já te esqueceste? - ela encolhe os ombros por já ter visto bastantes (mesmo bastantes) casos destes - É apenas meu amigo.
_ "Apenas" teu amigo? - ela faz aspas com os dedos. Assinto. - Gostavas que fosse mais, não? - escondo a cara, envergonhada enquanto ela ri de mim. Não gostava que fosse mais, mas às vezes ele parecia mais meu namorado que o Pedro, transmitia-me muito mais segurança e parecia preocupar-se muito mais comigo. Mas, era meu professor. 7 anos mais velho que eu...se isto fosse um livro, até seria bastante shippável.
_ Tu és impossível, não sei como te aturo! - digo, finalmente olhando para ela.
_ Também gosto de ti, não te preocupes. - ela aproxima-se a abraça-me de lado. Era por isto que ela era a minha melhor
amiga. - Deixando de brincadeiras, se precisares de qualquer coisa, nem que seja às 3h da manhã, podes contar comigo.
Tocou e tivemos que nos despedir. Agradeci-lhe por tudo, novamente, e fui para a aula, que, coincidentemente, era com a pessoa que serviu de tema de conversa há segundos atrás.
Entro dentro da sala, tiro as minhas coisas, e uns minutos depois a aula começou.
_ Bom dia, turma! - ele começa, animado. São 8h40 da manhã...ninguém está feliz. Os nossos olhares cruzam-se e o canto da sua boca sobe ligeiramente. Os meus batimentos aceleram, apesar do meu esforço para não ficar estupidamente feliz com um simples sorriso.
A aula decorria normalmente, ele explicando a matéria e dando exemplos de tempo em tempo, para tentar tornar tudo aquilo mais fácil de perceber. Para minha infelicidade, eu era chamada com bastante frequência após esse momento. Eram feitas perguntas, para verificar se tínhamos percebido as coisas e eu raramente percebia à primeira. Depois de longos minutos, a aula terminou.
O meu telemóvel vibrou no bolso. Aquela sensação que eu tinha desde a manhã intensificou-se. Havia uma mensagem:
Pedro: Temos de conversar...encontra-me no pátio daqui a 5 minutos. Não me faças esperar.
- Merda! - digo baixo. Começo a arrumar as minhas coisas. Quando vou pegar no estojo, alguém põe a mão em cima da minha, impedindo-me de guardá-lo.
_ Passa-se alguma coisa? - ouço-o perguntar. Aparentemente, não falei assim tão baixo.
_ É só que estou com um pouco de pressa, nada demais. Recebi uma mensagem importante. - digo e ele tira a mão de cima da minha, afastando-se sem dizer nada.
Antes de sair da sala, ouço-o.
_Vou sempre olhar por ti, Bea. Espero que saibas disso.
Fechei a porta atrás de mim e caminhei para uma parte do Inferno.

Meu Querido ProfessorWhere stories live. Discover now