Capítulo 8 | Tempestade e Bonança

37 3 0
                                    

Ao chegar ao exterior da escola, melhor, ao pátio, vi o meu namorado. Reparei que ele estava a fumar, coisa que ele tinha prometido deixar de fazer, tal como tinha prometido muitas outras coisas. Acontece que mentiu, mais uma vez.
_Olá, amor. - diz depois de atirar o cigarro para o chão e apagá-lo com o pé. Tentou beijar-me, mas eu virei a cara. - Não testes a minha paciência! - exalta-se. Começo a achar seriamente que ele é bipolar.
_ Querias conversar. - vou direta ao assunto, tentando desviar-me dele, mais precisamente, do que queria. - Podes falar... - digo ao perceber que ele ia avançar novamente.
_ Beija-me, merda! - ele grita e todas as pessoas ali olham para nós. Os meus olhos marejam quando os seus lábios são forçados contra os meus. Depois disso, eu cambaleei para trás, tentando ficar o mais longe possível dele, ao mesmo tempo tentando fazer parecer que tudo estava bem. Limpo uma lágrima logo que ela cai. - O que foi, querida? Estás triste porque o teu querido amigo não aparece? - diz sarcástico - É bom que fiques longe dele, ouviste? - a sua mão aperta-me o pulso, fazendo a minha mão ficar dormente devido à falta de circulação na zona.
_ Estás a magoar-me... - digo baixo. Ele parecia achar imensa piada ao meu sofrimento, porque apenas intensificou a força, puxando me para si.
_ O quê? Não percebi o que disseste...- as lágrimas caem sem dificuldade, eu estava em plena agonia.
_ Por favor, deixa-me ir. - tento libertar-me. Depois de uns segundos, largou-me. Agradeci aos céus por isso, ainda que perdida. Só depois percebi que o motivo da sua mudança de posição repentina foi a passagem do seu melhor amigo, de carro.
_ Que isso sirva de lição, linda. - disse e desapareceu no parque, com um grande monte de fumo e muito barulho. Odeio quando os rapazes aceleram com os carros ao ponto de fazer isso para se fazerem de bons. A única coisa que fazem com isso, a meu ver, é figura de parvos.
O meu pulso está com um hematoma e a minha mão está a voltar a ganhar cor. Desta vez ele superou-se, foi ao extremo. Nunca tinha sido tão violento como hoje, ainda mais em público. O mais impressionante é que nenhuma das pessoas ali pareceu importar-se com o que acontecia, literalmente, diante dos seus olhos.
Dirijo-me para dentro do edifício novamente, tenho de esconder isto. Não posso andar por aí com um hematoma no pulso, ninguém pode descobrir o que aconteceu. Não quero ficar com mais hematomas em lugar nenhum. Apresso-me até à casa de banho e aproveito para espreitar para dentro da sala onde vou ter aula a seguir. Estranho não ver ninguém lá dentro, a professora de Filosofia chega sempre cedo e nunca falta. Talvez hoje seja a primeira vez.
Ao fazer a curva do último corredor, esbarro contra alguém.
Fecho os olhos com força ao perceber de quem se tratava após sentir as suas mãos segurarem os meus braços e impedir que eu caísse.
_ Beatriz? Podes abrir os olhos...não sou nenhum fantasma. - ele diz e ri-se. Olho para ele e sem perceber, sorrio.
_ Professor...- ele repreende-me com os olhos - Não vou chamar-te pelo teu nome, dá-te feliz com o que já consigo fazer! - digo e ele levanta as mãos, "derrotado". Faço o possível por esconder os braços, pondo-os atrás das costas do nada. Ao segurar o pulso, magoei-me e fechei os olhos com a dor.
_ O que foi? - tento voltar ao normal - Porquê essa careta do nada? Eu sou lindo, então não sei mesmo porque a fizeste. - acabo por rir. Uma lágrima que se tinha formado devido ao momento anterior caiu e eu apressei-me a limpá-la. Percebo que levantei a mão errada quando ele arregala os olhos e me segura a mão, para poder ver o estado daquela região. - O que é isto, Bea? - pergunta confuso...assustado. - Quem te fez isto? - puxo a minha mão da sua e volto a escondê-la. Era por isso que não queria que ninguém visse isto, especialmente ele. - Não adianta fazer isso, eu já vi o hematoma. E sei quem te fez isso, não pode continuar assim. Ele não pode continuar a fazer o que faz e sair impune. - baixo a cabeça, incapaz de olhar para ele, que mais uma vez tinha razão. Estava farta de tudo aquilo. - Bom, não adianta de nada falar disso agora, não quero ver-te chorar. Vais ter de falar de tudo o que se passa um dia, e eu espero ser a pessoa em quem confies para fazê-lo. - o meu coração acelera, mais uma vez - Agora vem, vamos tratar disso.
Ele levou-me até à sala antiga de professores, a que já ninguém ia a não ser ele e certificou-se que aquilo não inchava muito. Depois, eu cobri o máximo da vermelhidão com o meu corretor, porque não ia dar certo se tivesse sido ele a fazê-lo.
_ Obrigada por cuidares de mim, és o amigo que eu nunca tive. - digo, realmente agradecida, pondo a minha mão em cima da sua, sobre a mesa.
_ Eu disse-te que ia sempre cuidar de ti, Bea. Cumpro o que digo. - ele diz olhando para as nossas mãos, que trocavam carinho involuntariamente, e depois nos meus olhos. Sinto aquela faísca, novamente. - A não ser quando a conversa é entregar testes...aí eu tenho tendência a falhar um pouco. - abano a cabeça e sorrio.
Foi nesse dia que percebi o quanto ele significava para mim. E o que eu significava para ele.

Meu Querido ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora