Capítulo 18 | A Dívida

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_ Pedro, podes entrar. - dirigi-me a ele, séria. Desencostou-se da parede e com um passo ficou a milímetros de mim. Não recuei nem desviei os olhos dos seus. Tinha de me defender, sozinha. Quando um sorrisinho começou a brotar nos seus lábios, o que eu via sempre que ele não estava...bem, perdi parte dessa coragem repentina. O Filipe empurrou-o pelo peito, para conseguir por-se onde eu estava. O sorriso desapareceu e a raiva fez o contrário.
_ Eu sugiro que me ouças, porque só vou dizer isto uma vez. - olhavam-se nos olhos, estavam quase colados. Os dois eram bastante altos, mas o Pedro tinha que olhar um pouco para cima, já para não referir que um braço do Filipe dava dois de um dele, praticamente - Não voltes a meter-te entre mim e ela nem sequer penses nela. E eu prometo que para a próxima não vou ter tanta paciência. - dito isto, afastou-se. O Collins abriu a porta do escritório irritado. Não era mesmo boa ideia fazê-lo esperar.
_ Posso saber a causa da demora? - perguntou, revezando o olhar entre nós.
_ Creio que se deve a mim, peço imensa desculpa. Não o incomodaremos mais. - com uma postura natural, o moreno respondeu. Sem fazer mais perguntas - graças a Deus - encaminhou-se novamente para dentro, fazendo o loiro acompanhá-lo.
A porta fechou-se. O corredor estava praticamente vazio, apenas alguns alunos estavam sentados nos bancos.

Filipe
Respirei fundo, olhando-a nos olhos. Aquele rapaz dava-me cabo dos nervos! A sorrir daquela forma para ela, quem pensava que era? Que direitos pensava ter para fazer aquilo? É a isto que chamo uma pessoa ignorante. Se o Collins tivesse aberto a porta segundos antes, ele estaria ainda mais lixado.
_ Ei...tens de te acalmar. - ouvi-a, ainda que num tom de voz baixo.
_ Eu sei, desculpa-me. É que no que toca a ti não consigo controlar, é mais forte que eu. E eu sei que tens toda a capacidade para te defenderes, mas sinto-me bastante...protetor em relação a ti. - proferi e fui presenteado com um sorriso. Era tão linda... - Vem comigo.
_ Vamos onde? - a sua testa franziu-se e o seu rosto tomou uma expressão bastante querida. Beijei-lhe a ponta do nariz.
_ Não sei, dar uma volta. Apanhar um pouco de ar. - sugeri.
Optamos por não andar com as mãos dadas ali, para evitar mais confusão. Tudo o que não precisávamos era de outros alunos a cair-nos em cima e a colocar questões ou pensar no que o Collins pensou ser o único motivo plausível para a nossa relação.
Era estranho não estar em contacto com ela, tinha necessidade do seu toque. Coloquei a mão nas suas costas, guiando-a até á saída. Percebi que se arrepiou.
_ O que estás a fazer? - ela perguntou.
_ A tirar-nos daqui...- baixei-me e sussurrei-lhe ao ouvido. Ela soltou um gritinho quando entramos demasiado rápido no meu escritório. Fechei a porta atrás de mim e apressei-me para ela, beijando-a. Ficou um bocado surpresa pelo meu ato repentino, mas isso não a impediu de retribuir. Coloquei a minha mão entre a sua face e o seu pescoço e ela arranhou-me a nuca. O beijo foi a tradução do que eu sentia naquele momento, e foi... incrível. A falta de ar fez-nos parar. - Tinha de fazer isto. Tu tens esse efeito sobre mim, Beatriz.
_ Não estou a reclamar, estou? - ri-me e voltei a beijá-la.
_ Não podes dizer-me coisas dessas... não posso assumir responsabilidade pelos meus atos sob o teu efeito. - ela riu-se. Eu suspirei - O Pedro sorriu para ti. Ele ia tocar-te. Sei que não viste, mas ia acontecer e eu não podia permitir que isso acontecesse. Sei que isso é um defeito, mas eu nunca fui muito bom a partilhar o que me é precioso. Mais que isso, não conseguia assistir áquilo e não fazer nada. Não conseguia ver-te ser desrespeitada daquela maneira.
_ Eu...obrigada. - disse - Com que então sou "preciosa" para ti?
_ És-me preciosa. Acho que não fazes ideia o quanto. Tira as aspas, por favor. - ela sorriu, ainda que sem jeito - Vamos.
***
O sol começava a aparecer no céu para iluminar a tarde, que até então estava sombria. Foi um alívio enorme poder passear com ela sem que ninguém nos olhasse de lado. Principalmente, foi bastante agradável poder sorrir para ela sem me importar com o que qualquer outra pessoa pensasse. O parque até onde tínhamos ido era bastante calmo, não havia muitas pessoas.
_ Há uma coisa que estou para te perguntar há algum tempo...- comecei, fazendo-a olhar-me desconfiada - Lembras-te do dia que te levei a casa porque estava a chover imenso?
_ Claro, se não fosses tu eu teria "apanhado pneumonia e morrido". - riu-se.
_ Não brinques com coisas sérias...- disse, escolhendo nem sequer pensar em perdê-la - Esse dia foi o último que vi o meu sobretudo cinzento, sabes do seu paradeiro?
Ela tapou a cara com as mãos, rindo.
_ O teu casaco está a viver no meu quarto agora, tens sorte de eu não estar a cobrar caro pela estadia.
_ Ah não? Então muito obrigado, senhora Beatriz. - entrei no seu jogo - Posso saber, já agora, que preço está a cobrar?
_ É simples, senhor Filipe. É a sua presença na minha vida. É o carinho que me dá, a forma como me protege e sobretudo, como diz o meu nome. - sinceridade transbordava na sua voz. Era definitivamente um preço que eu estava disposto a pagar.
_ Beatriz. - proferi.
_ Diga.
_ Pronto. Paguei mais parte da dívida.
Ela sorriu e lançou-se para os meus braços.

Meu Querido ProfessorWhere stories live. Discover now