Capítulo 24 | Bad Day

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Filipe
Entro no parque de estacionamento do hospital e vejo-me obrigado a andar ás voltas com o carro á procura de lugar. Hoje tudo está impossível ao que parece. Hoje tudo correu mal. Ainda são 15h, então espero seriamente que não venham mais desgraças pelo caminho.

_ Filipe, finalmente! - ouvi a voz da minha irmã assim que entrei na sala de espera.
_ Beca! - apressei-me até ela e envolvi-a num abraço. Percebi que ela tinha estado a chorar pela vermelhidão ao redor dos seus olhos - Vim o mais rápido que pude, o que estragou tudo foi a imensidão de carros no parque. A sério, hoje está terrível. O que é que eu perdi?
Afastei-me dela e encaminhei-a para uma cadeira. Precisava de sentar-me para processar tudo o que estava a acontecer.
_ Quase nada. Chegamos há uns 15 minutos, levaram-no para dentro e pediram-me para esperar. Quando eu cheguei a casa o pai estava muito aflito, Filipe. Ele mal respirava, tal era a dor. Ele nunca me pareceu tão mal...- ela finalmente colapsou. É, pode dizer-se que no que toca a sorte, entre mim e a minha irmã venha o diabo e escolha. Entre um aborto, dificuldades no relacionamento e ter de cuidar do nosso pai enquanto fazia um estágio no hospital para acabar o seu curso ela ainda conseguia estar pior que eu.
_ Ei, calma. Não vamos nem podemos pensar o pior. Ele vai ficar bem, é forte. - confortei-a - Agora eu estou aqui, não tens de lidar com tudo sozinha. Nunca devias tê-lo feito. E eu...
_ Senhora Gomes? - alguém interrompe o início do meu pedido de desculpas. Porque sim, eu devia um á minha irmã. Felizmente, esse alguém foi o médico.
_ Sim, sou eu. E este é o meu irmão. - ela levantou-se logo, limpou as lágrimas e apresentou-nos - Há novidades? Como é que ele está?
_ De momento o vosso pai está a repousar no quarto e estamos a aguardar os resultados de mais alguns exames, mas o caso não é o mais comum...recebi agora um dos relatórios e não há qualquer anomalia. Precisamos dos restantes resultados para confirmar se foi realmente um ataque cardíaco e o que o provocou.
Tanto a minha irmã como eu olhamos como dois tolos um para o outro e depois para o médico. Não faltava mais nada...
_ Sei que é difícil, mas não pensem o pior. O senhor Ricardo é forte, vai ficar bem. - ele dirige-se a nós, mas os seus olhos estiveram muito fixos na Rebeca. Consegui perceber que se conhecem, senti uma certa proximidade entre eles. Aqui passa-se alguma coisa...e eu vou saber o que é - Tão rápido saiba mais alguma coisa venho avisá-los. - o Dr. volta a interromper os meus pensamentos.
_ Obrigado. - respondo. Ao que parece, esperar é mesmo o que resta agora.
Esperar...

Beatriz
Pouso o livro, sem me conseguir concentrar. Na meia hora que tinha passado desde que tinha chegado a casa ainda não tinha encontrado nada que me distraísse, que me impedisse de voltar á manhã de hoje. Acho que o melhor que faço é dormir.

O meu telemóvel tocou, era a Luana.
_ Lu? - atendo ainda sonolenta. Desvio o telemóvel da orelha para ver as horas. Dormi 20 minutos.
_ Beatriz! Onde diabos te meteste? Já te procurei pela escola inteira! - perguntou, chateada do outro lado.
_ Eu... - que raio estava ela a fazer ao telefone comigo? - Espera. Onde é que TU estás?
_ Neste momento estou a caminho de casa, a minha professora de Química está atrasada com a correção dos nossos relatórios, então deu-nos dispensa...vi o professor Gomes sair da escola pouco antes da vossa aula, então achei por bem passarmos algum tempo juntas, mas não te encontrei.
Ele não aplicou a prova? Que raio?...Pelo menos não levei falta.
_ Nesse caso queres vir à minha casa? Dava-me jeito conversar contigo...pessoalmente.
_ Oh não...o que é que se passou? - perguntou, com o tom de mãe que só ela sabia usar - Em 10 minutos estou aí.

_ Luana, querida! Não te vejo há imenso tempo! - ouvi a minha mãe no andar de baixo e desci as escadas - Estás cada dia mais bonita!
Ri, abanando a cabeça e aproximei-me das duas.
_ Ai, muito obrigada! Isso quer dizer que a minha rotina de skincare funciona na perfeição. Tenho de lhe mostrar os cremes que comprei recentemente, são uma maravilha.
Como explicar? A minha mãe e Luana acabaram por tornar-se também boas amigas com o passar do tempo. Na verdade crescemos juntas, então, entre tardes na casa de uma e da outra, a sua mãe tornou-se como uma mãe para mim e vice versa.
Eu gosto destes momentos com elas, acho mesmo fofos. Mas agora, eu preciso dela.
_ Ah que giro! Mostras-me a mim também? - perguntei com ironia, pondo as mãos nos ombros dela - Aproveitamos que vieste estudar e durante a nossa pausa fazemos máscaras. Vamos?
Ela voltou-se para mim com um ponto de interrogação na testa, porque não estava aqui para isso. Sorri-lhe numa tentativa de a fazer alinhar na minha estratégia.
_ Ela tem razão, Júlia. Desculpe, temos um pouco de trabalho pela frente. - dirigiu-se á minha mãe, que lhe sorriu, compreensiva. Eu respirei de alívio. Se ela estivesse num dos seus momentos de lerdeza, ia tudo pelo cano abaixo.
_ Claro queridas, não vos quero atrapalhar. Vão lá, bom estudo!
Com dois abraços, 'despedimo-nos' da minha mãe. Ao alcançar a porta do meu quarto, ouvimos a sua voz novamente.
_ Luana, querida. Ficas para o jantar?
_ Estava a ver que não perguntava...- ela respondeu e riu-se.
Assim que entramos no meu quarto, a história foi ligeiramente diferente.

Meu Querido ProfessorWhere stories live. Discover now