Capítulo 37 | Amor É Fogo Que Arde Sem Se Ver

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A sensação de braços fortes á minha volta, mãos carinhosas na minha barriga, calor emanado por outro corpo nas costas e beijos no meu rosto fazem-me começar a despertar. Formam um caminho do meu pescoço para o canto dos meus lábios e de volta ao início num ritmo lento e delicioso. Quase não consigo evitar morder o lábio, porque Cristo... isto sabe bem demais. Devia ser crime.
Ao sentir um último beijo abaixo da orelha não consigo evitar o sorriso que nasce nos meus lábios, que provoca um sorriso no rosto dele e uma risada nasal no meu pescoço, que me arrepiou como nunca tinha acontecido.
Já viram que bela cadeia de reações que se gerou num instante?
Num ato inesperado, ele segura-me nas ancas, prendendo-me, de certa forma, á cama, de maneira a poder ficar por cima de mim. A visão dele assim, deste ponto de vista, faz-me ter a certeza de que Deus afinal criou obras-primas. Olhos como nunca vi, escuros, provavelmente pela luxúria, iguais aos meus. Cabelo em proporções iguais de rebelde e exatamente no sítio que devia estar. Sorriso que, sem mostrar os dentes, transparece o quanto ele gosta desta circunstância. Tudo isso faz com que eu não saiba o que fazer nem como reagir, é tudo muito novo, muito diferente. Oh, mas como eu adoro mudanças destas...
_ Bom dia. - cumprimenta-me com um beijo. Uau, que bela forma de começar o dia. Ao voltar a erguer-se, de forma a conseguirmos olhar um para o outro, vejo um fio prateado pendente, em parte, do seu pescoço. Desde quando é que ele usa colares? Uma vontade enorme de puxar o restante para fora e ver como é assola-me, mas reprimo-a. Não quero correr o risco de estragar este momento se for de alguma forma uma coisa que o faça sofrer, por exemplo se for ligado á mãe.
_ Bom dia. - Sorrio. - O que é que ainda fazes aqui? - pergunto, confusa.
_ A tua mãe insistiu que eu ficasse. Disse que não ficava tranquila sabendo que eu estava pela rua àquelas horas. - Rimos perante as suas palavras e sinto o coração aquecer, agradada por este início de relação que os dois estavam a ter. - Só não dormi aqui contigo, fiquei no quarto de hóspedes, mas por isso não a posso culpar. Já foi demasiado gentil quando exigiu que ficasse. - A minha mão sobe, involuntariamente, para o seu rosto, onde a deixo repousar. - E há mais: há pouco, quando eu estava a ir embora, ela apanhou-me e insistiu que eu ficasse, pelo menos, para o pequeno-almoço. Isso e também me enviou aqui, ao quarto de vossa excelência, senhora Beatriz Luz, para convocá-la para a refeição que decorrerá no andar de baixo, dentro de, aproximadamente, cinco a dez minutos.
Não consigo deixar de rir perante a sua descrição e formalidade que usou para se referir a mim. Juro que estes dois não se cansam de me surpreender. Nem com o Pedro ela foi tão complacente! E ele...a falar assim, á professor, sabe jogar perfeitamente.
_ Típico da dona Júlia...e do senhor, claro, chamar-me assim. – comento, sorrindo-lhe de lado ao finalizar a asserção.
_ Deixa que te diga...gosto imenso dela. - Rio, feliz com a ideia. – E de si...mais ainda. Sabe o quanto ou prefere que demonstre? – as minhas gargalhadas passam a um suspiro assim que ele volta a baixar o rosto e ronda os meus lábios com os seus sem nunca lhes tocar. Levantei a cabeça, numa tentativa de tentar alcançá-lo, e ele deixou-me um beijo no rosto, levando a mão esquerda á face oposta. De seguida, traçou uma linha desde essa zona até ao canto dos meus lábios e voltou a pairar sobre mim com um meio-sorriso. - Então, vamos?
_ Deves estar a brincar comigo...- profiro quase entre dentes antes de agarrar no seu rosto, puxá-lo ao encontro do meu, e obter o que queria. Este beijo não foi como o de 'bom dia'. Não, este foi apressado, desesperado, e até um pouco agressivo. Amor é fogo que arde sem se ver, não haja dúvida nenhuma.
_ Porra, Bea, como é que eu vou conseguir ir comer com a tua família daqui a pouco? – proferiu assim que nos separamos, com a voz baixa e em parte risonha. Oh não, eu fi-lo de novo.
Ele deixa-se cair ao meu lado na cama e eu levanto-me, tentando não olhar para o volume crescente nas suas calças.
_ Tens uns minutos para...resolveres a situação enquanto me visto.
_ Mas tu estás vestida...qual é o problema? – perguntou, visivelmente confuso, e eu franzi o sobrolho, como se o maluco fosse ele.
_ O problema é este! - aponto para mim, para que ele veja o quão lastimável estou: pijama da Hello Kitty, cabelo um tanto despenteado e a cara amassada. - Eu não vou assim! Nem tu devias ver-me desta maneira.
Ele ri-se perante a minha afirmação. Bom que para alguém tem piada!
_ Porquê? Estás em casa! E achas o quê? Que vou deixar de amar-te só por seres, oh, eu não sei, normal de manhã? - aproxima-se e segura-me o rosto com as duas mãos, fazendo-me olhar para ele. - Amor, não sei quem segues no Instagram, nem que conceito do ser humano ao acordar tens, mas ninguém acorda bonito e fresco. Acredita, isso não altera em nada o que sinto por ti, até porque não há motivo para tal. És a mesma Beatriz. Hello Kitty ou não. - O meu sorriso passa a uma expressão de "choque" e bato-lhe no braço.
_ Parvo...
_ Tu amas-me na mesma...- responde quando já lhe virei as costas, para ir lavar os dentes, e eu sorrio. Amo-o com tudo o que sou. Só espero que ele o saiba.
Quando saio da casa de banho e regresso ao meu quarto para vestir alguma coisa, surpreendo-me ao ver que ele ainda está sentado na cama, entretido com o telemóvel. Nesse entretanto, aproveito para verificar a situação dele. É, está definitivamente mais calma.
_ Ahm, posso fazer-te uma pergunta?
_ Claro, amor. – responde, pondo o dispositivo de lado no mesmo instante.
_ De que é que se trata esse colar que tu tens? - questiono, revirando a gaveta das blusas. - É que eu vi um pouco do fio há pouco, e achei estranho, porque nunca te vi com um colar...então...não quero estar a invadir território que não deva...e desculpa se estou, mas...sabes, fiquei curiosa...respondes se quiseres, claro.
_ Ei, não estás a fazer mal nenhum em perguntar. A mim não, agora, desse top já não posso dizer o mesmo...- levanta-se e vem até mim, tirando-me a peça das mãos. – Não queria dizer nada já, mas também já devia saber que não existe pessoa mais curiosa que tu. – Suspira e coloca-me alguns fios atrás da orelha. – Só posso dizer que é relacionado a algo muito especial. A três pessoas, na realidade. Saberás mais detalhes depois de comermos, com alguma sorte.
_ Estás a matar-me. – respondo, lançando os braços ao seu pescoço.
_ E tu a mim. – beija-me a ponta do nariz. – Agora vá, vou deixar que te vistas. Até já. – encaminha-se para a porta e antes de fechá-la atrás de si, pisca-me o olho.
Ele vai mesmo ser a minha morte.
***
_ De certeza que não se importa? – Filipe pergunta pela milésima vez á minha mãe e nós rimos. Ele parece um adolescente, amedrontado ao conhecer a sogra e a fazer um pedido simples como se podia levar-me a sair.
_ Não, homem, vão lá! Divirtam-se! E...tenham cuidado, ok? – paraliso ao lado dele e sinto-me ficar mais vermelha que um tomate. Ela tem uma mente aberta, mas por vezes é demais.
_ Obrigada, mãe! – vou até ela e abraço-a, sem saber bem se fico feliz ou constrangida. Enfim, saiu um mix dos dois.
_ Obrigado, Júlia! Trago-a a casa-
_ Trá-la a casa quando tiverem acabado lá o que têm a fazer. – interrompe-o. - Mas de preferência hoje, sim? – a sua pergunta faz com que ele se ria. A sério, não sei como consegue levar isto tão na desportiva. Eu estou a morrer de nervos.
_ Fique tranquila. Vou tentar não demorar muito...a não ser que ela...
_ Cala-te, ainda estragas a surpresa! – a minha mãe volta a interrompê-lo, um tanto alarmada.
_ Surpresa? O que é que se passa? – intervenho e eles viram-se para mim.
_ Verás. – Júlia responde, muito calma, encaminhando-nos para a porta. – Agora, a sério, vão. Não vos quero atrapalhar nem quero que o Filipe tenha de levar com uma certa pessoa durante toda a viagem a fazer perguntas. – Fico parva com as palavras dela. Ela sabe tudo! Boa, agora é que não descanso enquanto não souber o que é que se passa.
_ Ok, vamos, Filipe, quero saber o que é! – puxo-o em direção ao carro, que ficou estacionado logo em frente á minha casa, e ele ri-se.
Antes de entrar no carro, acho que ouvi a minha mãe dizer 'Boa sorte', mas não tenho bem a certeza.
_ Podes, pelo menos, dizer onde vamos? – pergunto, sem conseguir conter o entusiasmo.
_ A um lugar muito nosso. – responde, ligando o carro. – Se disser mais, estrago tudo, e isso é tudo menos o meu objetivo. Em todo o caso, acho que vais gostar. Espero que sim. – diz a última parte mais para si do que para mim e eu fico ainda mais ansiosa.
Não sei porquê, mas algo me diz que este será dos melhores dias da minha vida.

Meu Querido ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora