• Trinta •

172 17 0
                                    

Borges

Fiquei na maior vontade de dormir com a preta depois do show, mas tava ligado que ela não ia largar a irmã sozinha.

Deixei as duas em casa. Ryan pulou pro banco da frente com uma cara de suspeito.

Eu: Qual foi?- Perguntei mesmo sabendo do que tinha acontecido, eu vi ele ficando com a menina.

Pica-Pau: Fiz maior merda hoje cara.- Passa a mão no rosto. Dirijo calmo pelas ruas.

Eu: To ligado.- Ele olha pra mim assustado.- Relaxa, Valeska não viu nada não.- Solta a respiração me fazendo rir.- Ela quis, não quis?

Pica-Pau: Isso não anula que ela tem só dezesseis anos.- Dou risada do desespero dele.- Po, onze anos a menos.

Eu: Relaxa cabeça! Só tu não se envolver, foi só um beijo.- Ele faz tsc com a língua e fica calado.

Fiz o trajeto parando em frente a casa dele. Ana Vitória tava sentada na janela da sala mexendo no celular.

Pica-Pau: Ta fazendo o que acordada essa hora porra?- Desce do carro gritando.

Desço olhando pra menina na janela que manda dedo do meio pro irmão.

Ana: Não quero papo contigo não Ryan.- Fala brava.- Oi Borges.- Sorri pra mim e eu aceno pra ela.- Não quis me levar pro show.

Pica-Pau: Tu parece que não escuta as coisas que mãe diz porra.- Observo ela sair da janela.- Não esquece da reunião amanhã.- Assinto e faço toque de mão com ele.

Entro no carro novamente e sigo pra casa.

....

Tava sentado no quintal olhando o pôr do sol. Acendi um baseado levando até os lábios e dei uma tragada.

Pedro: Pensando na vida?- Se senta do meu lado no banco de concreto.

Eu: Pegar um ar puro.- Olho pra ele.- Pega ai.- Ofereço o baseado.

Pedro: Passo, desde que tu foi nunca mais encostei nessas parada.- Assinto.

Eu: Ta certo.- Dou mais uma tragada soltando a fumaça pouco depois.- Cadeia parece que abre teus olhos, tu passa a prestar atenção nas pequenas coisas.- Digo apontando pro pôr do sol.

Pedro: Tenta correr pelo certo dessa vez. Se quiser te arrumo um vaga la no hotel.- Olho pra ele e em seguida pra baixo.

Eu: Não quero pixar teu nome não, já basta o pessoal aqui do bairro sabendo o que teu irmão fez.- Dou mais uma tragada e apago o baseado.- Relaxa, não quero voltar pra aquele inferno.

Pedro: Se precisar só me fala.- Sorri apertando seu ombro e me levanto.

Eu: Precisar do carro, as chaves estão no quarto.- Ele assente e eu entro pra casa indo pegar meu celular e uma camisa.

Mandou mensagem pro Rogério pra saber se ele ta vindo. Prefiro não ir até o local combinado com meu carro, muito fácil de ser marcado.

Vou até a garagem pra esperar por ele. Aproveito pra mandar uma mensagem pra preta, sabendo que a essa hora ela já largou serviço.

Valeska: Peguei condução agora, quando chegar te mando mensagem.

Eu: Quero te ver, mas só volto mais tarde.

Valeska: Tenta a sorte quando voltar rs.

Eu: Bater na porta da sua casa, me espera.

Vejo o ônix preto parando aqui na frente, os vidros com fumê no máximo.Guardo o celular no bolso deixando pra conversar com ela depois.

Saio travando o portão e entro no banco do carona vendo Ryan no banco de trás e Rogério no motorista.

Eu: Boa noite.- Faço toque de mão con os dois.- Vamos logo com isso.

Rogério da partida seguindo o caminho. Eles vieram o caminho todo conversando sobre várias coisas.

Fiquei calado. Minha cabeça rodava altas fitas, o fato de eu não sentir culpa pelo que estava fazendo era o que mais me preocupava.

Foram cinco anos em regime fechado, não cinco dias. Mas aqui foi isso parecia uma realidade distante.

Ele seguiu por uma parte mais isolada do bairro. Pouco mais a frente tinha uma casa de dois andares, parou em frente jogando o carro pra cima da calçada.

Rogerinho: Fica suave cara, nada que tu nunca tenha visto.- Assinto.- Pega. - Abre o porta luvas me entregando uma .40.- Ele é tranquilo, mas nunca se sabe.

Aceito colocando a arma na parte de trás da calça, ajeite a camisa cobrindo e sai do carro.

Ryan foi até a porta tocando campainha, falou alguma coisa no interfone e logo o portão foi aberto.

Pica-Pau: Fica suave.- Entramos na casa e uma mulher nos recebeu e nos levou até os fundos da casa, onde tinha piscina, churrasqueira mesa e algumas cadeiras.

Xxx: Olha o homem ai!- Um homem negro com aparecia de ter seus cinquenta e poucos anos se aproxima.- Pensei que nunca fosse conhecer o cabeça dessas dois ai.

Eu: Satisfação, Borges.- Estendeu a mão e ele aperta olhando em meus olhos.

Xxx: Fernandinho.- Sorri mostrando os dente de ouro.- Fiquem a vontade.- Aponta para as cadeiras. Me sento de frente para ele.- Já deve saber o porque está aqui.

Xxx: Vão querer algo para beber?- A mesma mulher que nos guiou pergunta.

Fernandinho: Traz uma garafa de royal salute, temos visitas importantes.- Ela sorri passando a mão no ombro dele.- Bonita né? - Pergunta olhando pra mim.- Uma das minhas mulheres.- Sorri.

Não demora muito ela retorna com a garrafa e quatro copos de whisky.

Fernandinho: Obrigado meu amor.- Sorri pra mulher que se abaixa dando um beijo nele.- Então Borges!- Chama minha atenção.- Apesar de ter caído no sistema por pouca coisa, me parece ser um cara esperto. Homem de poucas palavras.- Enche seu copo e leva até os lábios.- Preciso de alguém pra deixar como responsável por todo esquema aqui de porto. Vou me mudar pra Arraial, não vou ter tempo pra ficar vindo aqui resolver esses b.o.- Escuto atento.- Claro que quero estar a par de tudo que acontece aqui.

Eu: E porque confiaria essa resposabilidade a mim, sendo que não  me conhece.- Olho em seus olhos.

Fernandinho: Você!- Aponta pra mim.- Você não me conhece, sempre soube quem é tu rapaz.- Sorri mostrando os dentes dourados.- Sei exatamente do que é capaz.- Tomo do meu copo.- E não estará sozinho, Rogério e Ryan são de minha confiança, eles sabem disso.- Aponta pros dois que sorriem.- Resta saber se você aceita a proposta. É dinheiro fácil como você sempre fez.

Abaixo a cabeça vendo um filme passar na minha mente. Mas ao mesmo tempo eu lembro que com a ficha suja tentar uma vida normal agora não seria tão possível.

Eu: Estamos falando de quanto?- Ele sorri.

Conversamos sobre os mínimos detalhes. Mas sabia que depois disso não teria mais volta.

Pedi Rogério para me deixar em frente a casa da Valeska. Já é tarde da noite, mas precisava esfriar a cabeça.

...

ValeskaWhere stories live. Discover now