• Trinta e Cinco •

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Valeska

Um mês depois...

Um mês se passou desde que Borges veio aqui em casa, ele me mandou algumas mensagens mas sumiu desde então. A minha curiosidade gritava alto, esse homem continua sendo um mistério pra mim.

Não dá para acreditar que ele sempre morou aqui no bairro a poucas ruas da minha casa e eu nunca me esbarrei com ele.

Peguei o celular várias vezes para mandar mensagem perguntando se estava tudo bem, mas algo dentro de min dizia que era melhor deixar essa história quieta.

Termino de me arrumar parando em frente ao espelho conferindo.

Fazia alguns dias que o André voltou ao comando do grupo, Luan vinha nos ensaios as vezes.

Pego minha bolsa colocando no ombro e saio de casa trancando a porta.

Eu: Bom dia dona Joana.- Cumprimento ela que apresenta o apartamento de baixo pra um rapaz, bonitinho até.- Bom dia.- Digo para ele e saio do local.

Sigo até o ponto de ônibus com a cabeça baixa.

Tamara: Valeska!- Olho pra trás e vejo ela vindo correndo.- To te chamando e você me ignorando.- Fala ao me alcançar.

Eu: Nem tinha escutado.- Digo olhando pro ônibus vindo e dou sinal.

Entramos e fomos mais pro fundo onde tinha dois lugares vazios.

Tamara: O que ta acontecendo contigo?- Pergunta me deixando surpresa, sempre foi lerdinha.- Tem um tempo que você ta mais pra baixo.

Eu: Alguns problemas, nada demais.- Dou de ombros e ela continua me olhando.- Você tem visto o Rogério?-

Tamara: Sai com ele ontem pra comer um lanche.- Diz animada.- Ai amiga eu to apaixonada.

Sorrio fraco e olho pela janela.

Por qual motivo ele possa ter sumido dessa forma?

Passei o dia focada apenas na nossa apresentação. Nem fiz questão de conversar com ninguém,  nem mesmo com a Tamara que ficou contando várias e várias histórias tentando me fazer sorrir.

Será que realmente eu estava me apaixonando? Ou apenas me acostumei com ele? Será que fui apenas um passatempo?

Eram tantas perguntas, mas nenhuma resposta.

Entrei na condução de volta e me sentei encostando a cabeça na janela.

Tamara: Ai amiga, não gosto de te ver assim.- Disse suspirando fundo.- Você tem certeza de que não quer que eu pergunte pro Rogério onde ele ta?

Eu: Nem pensar, ele vai pensar que sou uma desesperada.- Tamara da risada.- E além do mais, isso pode complicar sua relação.

Tamara: Que nada, aquele ali fala pelos cotovelos.- Sorrio e volto a encosta a cabeça na janela.

Fomos o caminho todo em total silêncio, em nós duas, porque a falação dentro do ônibus estava me irritando.

Desci no ponto e me despedi da Tamara, ja que ela iria por outro caminho.

Eu tinha que passar no mercado para comprar algumas coisas. Me apressei e fui até o supermercado do bairro mesmo.

Entrei com um cestinho e fui pegando tudo que iria precisar. Graças a Deus não tinha nada pesado, porque eu tava um pouco longe de casa.

Paguei minhas compras e peguei as sacolas saindo do mercado, estava de noite já.

Senti alguém me observando e olhei para os lados, mas não vi ninguém. Pra ser sincera comecei a ficar assustada ja que a rua estava vazia, passava apenas alguns carros.

Sérgio: Boa noite menina.- Escutei a voz dele e meu corpo travou. Pelo cheiro de álcool que exalava com certeza estava bêbado.- Continua usando essas roupas minúsculas.- Me olha de cima a baixo.- Sempre disse pra tua mãe que tu não passa de uma puta.- Eu até queria me mover e sair correndo pra longe dele, mas meu corpo estava paralisado.- Não vai me convidar pra entrar?- Olho pra frente reconhecendo o portão de casa a poucos metros da gente, como ele sabe que eu moro ali?

Ele toca meu ombro e desce a mão por meu braço. Fecho os olhos e por um segundo passa alguns flashs minha mente de quando eu era criança e ele entrava no meu quarto a noite.

Abro os olhos sentindo meu coração bater acelerado e sinto meu corpo ficar fraco.

Eu: Por favor.... Não...- Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

Sergio: Você ficou bem mais gostosa agora do que quando era menina.- Ele sorri e aquilo me da uma agonia.- Não vai mesmo me convidar para entrar?

Eu: Vai embora...- Falo entre dentes e ele gargalha.

Sergio: Não mesmo, hoje você é minha.- Me puxa pelo braço.

Eu: Não, não...- Continuo forçando meu corpo pra trás.

Escuto um carro bem ao nosso lado, ele olha na direção assustado e em pouco segundos vejo Borges apertando o pescoço dele.

Borges: O que tu pensa que ta fazendo?- Encara ele com raiva.

Sergio: Ela é... É minha filha.- Fala com dificuldade.

Borges olha pra mim e tudo que eu conseguia fazer era chorar igual criança.

Borges:  Vou falar uma única vez.- Vejo ele apertar ainda mais o pescoço dele.- Se tu sonhar em encosta um único dedo nela pode dar adeus a vida de bosta que tu leva.- Sérgio estava ficando roxo.

Encara ele que tenta respirar, em seguida o solta. O mesmo olha pra mim antes de sair cambaleando pela rua passando a mão no pescoço.

Borges: Você ta bem?- Vem até mim encostando a mão no meu ombro, no impulso eu dou um passo para trás.- Relaxa...Só quero ajudar.- Levanta as mãos pro alto.

Eu: Desculpa.- Digo ainda chorando.

Ele se aproxima novamente mas dessa vez apenas pega as sacolas da minha mão.

Borges: Vem.- Aponta pra frente com a cabeça.

Caminho até o portão e pego as chaves na bolsa, abro o portão entrando e espero por ele.

Subo as escadas e abro a porta. Caminho até o sofá onde deixo minha bolsa e me sento passando as mãos no rosto.

Levanto o olhar e vejo Borges encostado no balcão de braços cruzados e olhando pra baixo.

...

ValeskaWhere stories live. Discover now