• Cinquenta e Nove •

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Valeska 

Tomei um banho logo após ele sair. Precisava de algo que me trouxesse um pouco de paz. 

Nesses vinte e dois anos de vida não imaginei que fosse sofrer tanto, e ainda mais por amor. Todos esses anos eu tentei ao máximo ficar longe de relacionamentos. Meu foco, principalmente nesse ano, era só tentar entrar pra faculdade.

Saio do banheiro e sigo direto pro quarto. Separo uma roupa confortável, não pretendo sair tão cedo de casa. Assim que acabo de me vestir escuto uma gritaria vindo la de fora. Vou pra sala e não demoro muito pra reconhecer a voz de Solange.

Abro a porta da frente  daqui da escada vejo Ela segurando Vanessa pelo cabelo. Não deixei de reparar no uniforme da escola que Vanessa vestia, hoje era sábado não tem aula.

Desço as escadas correndo e destravo o portão.

Solange: Ah, até que enfim, achei que não fosse aparecer pra resolver os seus b.o.- Cospe as palavras na minha cara.- Eu sabia que você não iria dar no que presta Valeska, mas não esperava que fosse levar sua irmã junto.- Arrasta minha irmã pra dentro, o rosto dela estava vermelho de tanto chorar.

Eu: Solta ela agora se não...- Me interrompe.

Solange: Se não o que? Fala! Pode falar. Vai chamar a polícia?- Me encara.- Chama, que eu aproveito e conto pra ele com quem vocês duas estão metidas.

Eu: Você não tem o direito de falar assim comigo, ainda mais dentro da minha casa.- Aponto o dedo na cara dela.

Solange: Sabe o que sinto de vocês duas?- Empurra minha irmã na minha direção, a mesma me abraça forte.- Nojo, é isso que sinto.

Olho para frente e vejo um rapaz magrelo com o cabelo descolorido se aproximar. Não preciso de bola de cristal para saber que isso é coisa do Borges.

Xxx: Ta tudo bem aqui dona?- Pergunta olhando pra mim e logo em seguida encara ela.

Solange: Ta vendo.- Levanta as mãos.- Eu não disse que eram duas vagabundas.- Vejo ela pegar o celular no bolso da calça.- Vocês querem saber, eu quem vou chamar a polícia.

Xxx: Se eu fosse você pensava bem antes de fazer isso.- Ele levanta a camisa revelando o revólver na cintura.

Ela arregala os olhos e guarda o celular novamente no bolso.

Solange: Isso não vai ficar assim...- Ela se vira para ir embora parando logo em seguida.- E você Vanessa, nem pense em voltar para aquela casa.- Se vira no olhando.-  Dentro da minha casa não entra mulherzinha de bandido.

Ela se vira e segue o caminho. O rapaz continua na minha frente nos olhando enquanto eu afago os cabelos da minha irmã.

Xxx: Vocês estão bem?- Pergunta preocupado.

Eu: Vamos ficar.- Dou um sorriso fraco.

Xxx: Se precisar de algo e so me chamar, vou estar do outro lado da rua.- Aponta pra uma casa pequena em frente ao prédio que moro.- Aliás, meu nome é Falcão... Não meu nome nome mesmo, meu vulgo.- Diz sem graça.

Eu: Obrigada Falcão.- Sorrio fraco e ele sai fechando o portão.- Vem.- Seguro em sua mão a guio para dentro de casa.

Ela se senta no sofá ainda se acalmando. Busco um copo com água e entrego pra ela que vira tudo de uma única vez se engasgando.

Eu: Vai com calma.- Ela me olha colocando o copo na mesa de centro.

Fica em silêncio por um tempo o que me deixa aflita.

Vanessa: Não imaginava que ela fosse chegar a esse ponto.- Abaixa a cabeça.- Agora eu entendo o por que você saiu de casa.- Solto uma risada sarcástica.

Eu: Agora entende como eu fui expulsa de casa.- Me sento do lado dela.

Vanessa: Como ela pode fazer isso com a gente?- Se aconchega no meu ombro.- Ela é nossa mãe Valeska, por que ela faria isso?

Eu: Ela já foi a nossa mãe.- Ela levanta o rosto e me encara.- Quando ela cuidava da gente e não tinha esse amor doentio que ela nutre por aquele homem.

Vanessa: Sempre achei que as brigas de vocês fossem apenas implicância sua.- Olho pra ela com um sorriso fraco.

Eu: Tive que aguentar muita coisa naquela casa.- Abaixo a cabeça.

Vanessa: Eu sinto muito...- Diz baixo. Puxo ela para um abraço apertado.- E agora, o que vamos fazer?

Eu: A vida continua Vanessa.- Me levanto indo preparar algo pra comer.

Por incrível que pareça ainda não são nem oito da manhã.

Eu: Onde você estava pra ela descobrir sobre isso?- Pergunto enquanto coloco a água do café no fogo.

Vanessa: Sai com Ryan ontem, a gente ficou vendo filme e acabamos dormindo. Quando acordei já era quatro e pouco da manhã.- Conta vindo se sentar na banqueta perto do balcão.

Eu: Sabia que isso iria acontecer, mas não imaginei que fosse ser tão rápido, e ainda por cima dessa forma.- Pego o pão de forma pra fazer o misto quente.

Vanessa: O pior de tudo é que todas as minhas coisas ficaram la.- Faz careta.

Eu: Posso pedir alguém pra pegar pra você.- Ela me olha.- O que? Você acha mesmo que ela vai bater de frente com bandido?

Vanessa: E se ela chamar a polícia para eles?- Arregala os olhos.

Eu: Relaxa, vou conversar com o rapaz que ta ai na frente.- Pego a água quente passando o café.- Você sabe que eles vão ficar longe por um tempo, sabe?

Vanessa: Sei, foi por isso que Ryan me pediu pra ficar com ele ontem.- Faz uma pausa.- Mas era pra eu ter voltado cedo.

Eu: As coisas acontecem, quando tem que acontecer.- Sorrio pra ela que sorri de volta.

Tomamos nosso café da manhã juntas. Emprestei uma roupa pra ela poder tomar banho e se trocar.

Enquanto isso desci até a casa da frente e expliquei a situação pro Falcão, que diz que vai dar um jeito nisso.

...

ValeskaWhere stories live. Discover now