• Cinquenta e Oito •

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Borges

Observo ela dormindo do meu lado. Não consegui pregar os olhos pensando no estado que ela ficou quando desci para pegar nossos lanches. Tudo o que aconteceu nos últimos dias ainda deve rondar a cabeça dela como um filme. Preciso achar uma forma de mostrar a ela que está tudo bem agora.

Me levanto da cama pegando um cigarro de maconha dentro do bolso da calça, caminho até a varanda fechando a porta assim que saio para não acordar ela. Acendo o baseado colocando na boca e encosto na grade observando o sol nascer.

Eu sei bem que o mundo que eu vivo não é para ela, mas nem se quer consigo imaginar minha vida sem ela agora. Nunca tinha me apegado tanto a uma pessoa, e em tão pouco tempo. 

Nesse mundo sempre se deve esperar o pior, inclusive depois de achar que uma guerra terminou, porque sempre pode se iniciar outra logo após. E como era de se imaginar, Caju não agia sozinho. Na verdade, ele nem se quer era quem comandava seja la qual era a missão que tinham. Tem uma peça que ainda não se encaixou, e essa vai ser mais difícil de se resolver.

Fernandinho  me deu o passe e me pediu para ficar longe daqui por um tempo. Hoje mesmo estou indo para trancoso, ficar no meio do nada isolado até a poeira abaixar. Seja la quem for vir atrás de mim, não vai saber onde me escondi. 

Quem vai ficar de olho em tudo pra mim e o Th e Lipão, são os únicos que confio até o momento, eles sabem que se vacilar comigo é uma vez só. Rogerinho e Ryan vão ir comigo, os dois sabem das mesmas coisas que eu, e não seria nada bom se fossem pegos.

Ainda não localizamos quem mandou derrubar o comando de Fernandinho, mas a caça ainda ta ativa. Se ele se acha o esperto, e porque não sabe com quem está lidando.

Sinto mãos pequenas me tocar e logo em seguida o corpo dela se encaixando ao meu por trás.

Valeska: Ta fazendo o que aqui fora?- Me viro segurando seu rosto com as duas mãos e lhe dou um selinho demorado.

Eu: Bom dia linda.- Ela sorri pra mim.- Não queria te acordar tão cedo.- Abraço ela a apertando mais contra mim.

Valeska: Por que seu abraço é tão bom?- Solto uma risada fraca.- Você disse que tinha que sumir por um tempo, mas não me disse o porquê.

Me afasto olhando em seus olhos e em seguida seguro sua mão a guiando pra dentro do apartamento. Sento em sua cama puxando ela pro meu colo.

Eu: Sei que não devia te dizer isso mas...- Faço uma pausa.- Matei algumas pessoas, e outras querem cobrar por conta disso.

Ela me olha com os olhos arregalados, sai do meu colo passando a mão no rosto e começa a andar de um lado para o outro.

Eu: Sabia que não devia te contar.- Abaixo a cabeça passando as mãos no rosto.- Fica tranquila, vai ficar tudo bem.- Tento puxar ela para perto mas a mesma recusa.

Valeska: E claro que tinha que me contar.- Faz uma pausa.- Tinha que ter me contado tudo desde o começo.- Encaro ela cruzando os braços.- Você faz ideia da gravidade do que está me dizendo Darlysson.- Me encara.

Eu: As vezes nem tudo sai como o planejado.- Olho em seus olhos escuros.- Eu te dei minha palavra de que vai ficar tudo bem e é porque vou resolver tudo.

Ela fica calada e logo em seguida volta a andar pelo quarto.

Valeska: E se eles vierem atrás de mim novamente?- Fala se costas para mim mexendo na gaveta do guarda roupas.- Você pensou nisso? Tenho certeza que não.

Eu: Valeska...- Me interrompe.

Valeska: Vocês pensaram na Tamara, na minha irmã? Minha irmã so tem dezesseis anos Darlysson, não precisa passar por essas coisas.

Eu: Valeska me escuta.- A puxo pelo braço vendo as lágrimas escorrendo por seu rosto.- Ninguém vai encostar um dedo em nenhuma de vocês três, e se for preciso eu fico aqui e bato de frente com quem for.- Digo olhando em seus olhos marejados.

Valeska: Da última vez eles vieram atrás de mim para atingir você Borges, e eu não quero que eles peguem a minha irmã, a Tamara ou até mesmo a sua vó.- Seca as lágrimas com as costas das mãos.- Você não pensou nela né?

Eu: Fica calma morena.- A abraço forte, a mesma reluta no começo mas logo se entrega me apertando forte.

Valeska: Eu não quero perder você.- Diz baixo.- Mas desse jeito não tem como ficar, você entende?

Seguro seu rosto com as duas mãos fazendo a mesma me olhar.

Eu: Não vai te acontecer nada, vou pedir para os meninos cuidarem da sua segurança. Você nem vai perceber a presença deles durante o dia. E não se preocupa com a Vanessa, ninguém sabe do envolvimento dela com Ryan.

Valeska: Promete pra mim que isso vai acabar logo?- Fico calado a olhando.- Promete Darlysson, diz pra mim que isso vai acabar!

Eu: Em breve eu volto pra você.- Lhe dou um beijo calmo e me afasto indo vestir minha roupa.

Ela sai do quarto, e assim que sigo pra sala a vejo saindo do banheiro.

Eu: Eu te amo.- Me aproximo dela a beijando na testa.- E fica longe daquela playboyzinho la.- Ela da risada.- Eu to falando sério, não gostei daquele sujeito te chamando pra sair.

Valeska: Vai logo vai.- Começa me empurrar porta a fora.- Se você morrer eu juro que vou te ressuscitar só pra te matar de novo.- Sorrio dando um selinho nela.

Eu: Vou te ligar de outro número, fica atenta as ligações.- Beijo ela pela última vez e desço as escadas vendo o portão aberto la embaixo e dona do prédio entrando com algumas sacolas.- Bom dia.

ValeskaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora