Capítulo 26.

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Eu não confiava em minhas pernas para levantar, mas só queria poder abraçar Leonardo e nunca mais soltá-lo. Trêmula, fiz esforço para me colocar de pé enquanto ele caminhava em nossa direção.

Estava igual à última vez que o vi, se não por alguns machucados a mais no rosto e braços e indiscutivelmente mais magro. Os dreads rebeldes estavam presos para trás por uma bandana escura e seu rosto devia refletir o mesmo alívio que o meu. Assim como Yuri, estava bem armado, com uma metralhadora presa pela bandoleira, além de coldres presos às pernas com uma pistola e um facão. Contive o sorriso, percebendo que era o que eu costumava usar, com a lâmina holográfica igual a do meu antigo canivete. Assim como eu estava com seu machado.

— Meu Deus, eu não acredito. — Sua voz saiu completamente trêmula, mas eu sabia que a minha também estaria se eu tentasse falar. Por alguns segundos, permiti-me esquecer completamente da urgência, da exaustão que pesava em meu corpo, ou do fato de que sequer estávamos seguros ainda. Dentro de mim só havia gratidão por ver Leonardo vivo. — Você tá bem! Eu não acredito.

Meus olhos ardiam com lágrimas ansiosas para cair assim que nos alcançássemos. Com o coração acelerado, estendi os braços para recebê-lo.

Mas a dois passos de mim, Leonardo caiu de joelhos no chão e abraçou Mei.

— Graças a Deus, graças a Deus. — Ele murmurou contra seus pelos. — Eu achei que não...

Apesar de estar sempre comigo ou Guilherme, Leonardo nunca foi tão próximo de Mei quanto nós e, apesar de enxergá-lo como um amigo, minha cachorra definitivamente não era tão acostumada a ser abraçada por ele, como era com Melissa ou com as crianças. Dessa maneira, depois de alguns segundos, Mei já estava com os dentes à mostra em um rosnado. Quando Leonardo não a soltou, deu uma mordida no ar, como aviso, e ele se afastou.

Eu estava confusa demais para reagir.

E fiquei ainda mais quando Leonardo começou a rir e passou a mão pelos cabelos, jogando a cabeça para trás com tanto alívio que fazia parecer que o apocalipse zumbi finalmente acabou. Depois de alguns segundos, respirou profundamente e voltou a olhar para mim.

Se era o cansaço me tornando letárgica ou seus movimentos superexcitados, eu não saberia dizer, mas em um piscar de olhos Leonardo já estava em pé, e era eu quem recebia um abraço tão forte que fez o ar escapar dos meus pulmões. Independente de não entender absolutamente nada, meu coração disparou com a proximidade e o apertei de volta, encostando a cabeça no seu peito.

— "Seu fantasma"? — perguntei, lembrando das palavras de Yuri.

Leonardo deixou um riso anasalado escapar.

— Depois eu te explico — ele garantiu, depois me apertou ainda mais forte. — Caralho, Rebeca. Eu não acredito.

— Tudo muito comovente, mas vocês dois podem deixar isso pra depois? — Yuri pediu. Estava perto de Samuel, vendo se ele estava bem, mas não parava de olhar aos arredores para se certificar de que não seríamos atacados. — Não estamos exatamente seguros aqui.

— Leo, e os outros?! — Qualquer bom senso foi soterrado pela urgência em lembrar que ainda não tinha noção do paradeiro de ninguém. Pela primeira vez, a realização de que Leonardo poderia ser o único vivo fez meu coração apertar no peito. — Guilherme?! Melissa?! Estão todos vivos? Por que a Mei estava sozinha?!

Reagindo por reflexo à minha pergunta, o aperto de Leonardo se intensificou e imediatamente fiquei sem ar, não encarando aquilo como um bom sinal. Meu estômago retorceu, antecedendo a notícia que eu não queria ouvir:

— Estão... Não todos, Elisa não... — Ele começou, soltando-me sem muita vontade. Então se afastou para receber Samuel com um cumprimento, enquanto continuava falando: — Ela sofreu um ferimento de bala durante o ataque e não resistiu. Os outros sobreviveram, mas... nem todos ficaram. Quando foram embora, queríamos garantir que Mei não correria nenhum risco, então ela ficou aqui comigo, onde é seguro.

Em FúriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora