Capítulo 52.

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Encarei os dentes de Pantera, sem conseguir entender o que nada daquilo significava. Apenas por estar completamente transtornada eu não tentei acertar uma coronhada na cara dela — e aí sim, provavelmente teria cavado minha cova.

— Você é mesmo uma coisinha fascinante, né? — Praticamente ronronou para mim, ainda que aquilo não tivesse tornado seu tom menos ameaçador. Então, com um movimento tão rápido que não me permitiria reagir mesmo se eu tentasse, arrancou o revólver da minha mão e se levantou da mesa. — Vocês aí, saibam que fico muito confortável sabendo que os dois acabaram de levar uma surra de uma pirralha!

Acompanhei o olhar dela até seus dois parceiros que eu havia derrubado. A garota estava ajoelhada próximo ao homem, que segurava o nariz ensanguentado com as duas mãos e tinha uma expressão indignada no rosto.

— Tá bem, Igor? — ela perguntou, alheia a mim e à Pantera. Parando para pensar, se a intenção deles era me conter, houve muita displicência, e agora fazia sentido que eu nunca tivesse tido uma bala real.

— Sim. Essa.... quebrou meu nariz!

— Saiam vocês dois daqui! — Pantera ladrou, revirando os olhos. — Vá ao médico ver essa porcaria. E, quando saírem, avisem para ela que pode entrar.

Meus olhos se perderam naquela cena, ainda um pouco atordoada e confusa com tudo, mas então finalmente percebi que Samuel continuava amarrado e amordaçado, olhando para mim. Lembrei da expressão de surpresa dele quando me viu agir e me perguntei se ele estava ciente daquele teatro.

Pantera nem prestava mais atenção em mim enquanto observava os dois se levantarem e saírem da sala. Ao invés de me sentir confiante com a constatação de que provavelmente conseguiria rendê-la pelas costas, apenas senti mais medo. Ela podia parecer insana, mas a confiança que esboçava mesmo tendo tido seus dois comparsas derrubados por mim me fazia acreditar que a nossa desvantagem era real.

Ainda assim, aproveitei a distração para me ajoelhar em frente a Samuel. Com cuidado, comecei a tirar a fita silver tape de sua boca, arrancando uma careta de dor com ela.

— Você tá bem?! Eles fizeram alguma coisa com você? — perguntei, enquanto tentava alcançar as mãos amarradas em suas costas. Se todo o resto era encenado ou não, aquele nó realmente estava bem feito e eu não conseguiria tirá-lo facilmente.

— Nós não fizemos nada com ele. — A líder interrompeu antes mesmo que Samuel pudesse responder e ele direcionou um olhar afiado na direção dela. — E nem com você. Ainda.

— E que merda foi tudo isso?! — perguntei, finalmente deixando transparecer minha incredulidade.

Ela abriu outro sorriso.

— Talvez você discorde, mas para mim essa é a melhor maneira de entender uma pessoa, sabe? Por exemplo, agora eu sei que somos muito parecidas. — Então estalou os dedos para Mei, que foi até ela para receber um carinho na cabeça. "Traidora" pensei comigo mesma, mas era óbvio que a minha cachorra não entendia nada do que estava acontecendo. — É útil, já que você vai ficar aqui por algum tempo. Pelo menos, eu sei que não é uma maluca que atiraria em algum dos seus aliados sem hesitar. Acho que o nosso amigo Samuel também ficou feliz em saber disso, né?

Ele não respondeu, mas não desviou o olhar fulminante dela. Apesar de ainda estar nervosa, o clima na sala era inegavelmente mais leve, assim como a postura de Pantera. Quase acreditei que nossas vidas não estavam mais em risco.

— O que você quer da gente?! — Ergui-me novamente para não precisar encará-la de baixo e chamei Mei para o meu lado.

Pantera revirou os olhos e caminhou em direção à sua escrivaninha de madeira escura para sentar-se sobre ela e cruzar as pernas. Lobo, seu obediente Pastor Belga, permanecia onde ela o havia deixado. Agora que Igor e Ana haviam saído, restávamos somente nós três na sala, junto aos cachorros.

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