Capítulo 40.

1.1K 241 381
                                    

Tomei um longo gole de refrigerante gelado enquanto assistia Mei correr pelo gramado dentro dos muros altos dos hospital. Minha cachorra saltou em direção ao pedaço de corda cheio de nós que joguei e, quando o pegou na boca, começou a sacudí-lo.

Então levantou-se em um pulo com as orelhas erguidas e mostrou os dentes para algo na parte dos fundos do hospital. Sequer vi o que chamou sua atenção, mas imediatamente larguei meu refrigerante e peguei o machado que estava no chão, ao meu lado.

— Boa garota — falei, enquanto passava por ela, em direção ao que chamou sua atenção. — Fica.

Mei obedeceu, sem desfazer a expressão agressiva. A noite começava a cair, mas aproveitei o resto de iluminação e a única lâmpada externa ligada (depois de botar nossos planos em prática, estávamos com gasolina escassa para manter o gerador funcionando) para me orientar.

Não demorei a encontrar o zumbi que se arrastava no chão usando apenas as mãos com os ossos expostos. Quatro dias já haviam se passado desde que recuperamos o hospital e até aquele dia sobreviventes do massacre que fizemos apareciam.

Porque depois de acabarmos com centenas usando o choque elétrico na igreja, ainda restaram os que permaneceram dentro do hospital, mesmo com a baderna que havíamos feito. Levamos quase dois dias inteiros para limpar todo o perímetro, cuidar dos que restaram nas ruas e vistoriar cada corredor para garantir que estavam seguros o suficiente para trazer o resto do grupo.

Depois de tudo isso, ainda tivemos de consertar o portão danificado que bloqueava a entrada do hospital e as cercas que rodeavam o terreno, assim como limpar a parte interna, afinal, o cheiro estava simplesmente insuportável — e continuava ruim, mesmo depois de dois dias inteiros com as janelas abertas.

Aproximei-me da criatura lamentável que rastejava inutilmente em minha direção, a boca aberta expondo os dentes podres manchados de sangue. Não observei mais do que o necessário antes de enterrar o machado em seu crânio, amaldiçoando-o por atrapalhar nossa brincadeira.

— Porcaria de apocalipse.

Voltei para onde eu estava sentada, em um banco de pedra na passagem lateral do hospital, com vista para o que antes era um jardim bonito. Mei veio correndo para me trazer a corda e a parabenizei por ser uma boa menina. Tivemos tempo de jogar apenas mais algumas vezes enquanto a noite caía, antes que eu ouvisse passos se aproximando.

— O jantar tá pronto, princesa. — Virei na direção da voz de Leonardo e o encontrei vestindo um avental com babados floridos. Ele abriu um sorriso para mim. — Eu que cozinhei.

Mei chegou em Leonardo primeiro e o cheirou todo antes de lamber sua mão. Sorri vendo-o acariciá-la. Até hoje não se perdoara completamente por Mei ter fugido de sua guarda na semana que a encontrei no condomínio.

— Ah é? Cozinhou o que? — Inclinei-me em sua direção quando ele me envolveu com os braços. Leonardo estava incrivelmente amável nos últimos dias, aproveitando cada momento para me abraçar ou roubar um beijo (mesmo quando eu estava suada ou suja de sangue de zumbi) e eu sabia o motivo. Ainda assim, apreciava o carinho.

— O especial do chef. — Ele juntou os dedos da mão e os beijou. — Macarrão com molho de tomate enlatado. De proteína, sardinhas.

— Nossa, é o meu favorito! — brinquei, sorrindo para ele. Como frequentemente dependíamos de comidas não-perecíveis para nos alimentarmos, algumas opções mais frequentes já haviam virado uma piada interna.

Leonardo ergueu a mão e passou o polegar na minha bochecha para limpar alguma coisa. Quando o afastou, estava sujo de sangue.

— Ainda tem zumbi aqui?

Em FúriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora