Capitulo 2 - Poço dos Corvos

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Quando Evangeline e sua família foram embora da festividade da primavera, ao fechar os olhos para adormecer tudo que a jovem via eram aqueles belos e enigmáticos olhos azuis a encarando através de uma máscara de corvo.

A garota perguntara aos seus tios o que a marca em seu pulso significava em muitas ocasiões, mas eles sabiam tão pouco quanto ela. Esse sempre foi um dos maiores mistérios de sua vida. O outro era o desaparecimento de seus pais.

E, por algum motivo, aquilo a estava incomodando mais do que nunca incomodou. Como se, em um estalar de dedos, ela sentisse a necessidade de desvendar os mistérios que a sondavam, como fantasmas de seu passado.

Evangeline não sabia por onde começar, mas tinha uma ideia: O Corvo. Poderia não significar nada, mas algo nela insistia em dizer que aquele não fora um encontro ao acaso. Por quê mais aquele homem estava lá e foi embora apenas depois da conversa com Evangeline? Ela se certificou de procurá-lo na festa após isso, mas tudo que via era o olhar vigilante do feiticeiro sobre ela. O que lhe causou muitos arrepios e mau pressentimento.

Evangeline vasculhou por dezenas de livros na velha biblioteca do vilarejo, mas não encontrou nada sobre um homem misterioso intitulado de O Corvo.

Enquanto procurava, teve a impressão de ouvir um bater de asas atrás dela, o que a fez se virar.

— Devo estar ouvindo coisas... — Era impossível que um pássaro tivesse entrado. Para a preservação dos livros, não tinha nenhuma janela que permitisse que qualquer luz que não fosse a das arandelas iluminasse os livros naquele trecho da biblioteca.

Ainda assim, ela voltou no corredor onde teve a impressão de ter ouvido o pássaro. Havia uma pequena área de leitura ali, com uma mesa e algumas cadeiras em volta. No topo da mesa, um livro de capa negra a chamou a atenção.

Ao se aproximar, sentiu que o objeto sussurrava à ela que o abrisse.

Um calafrio percorreu sua espinha ao abrir a primeira página e encontrar um corvo negro desenhado na folha amarelada.

Era como se de um dia para o outro o símbolo tivesse iniciado uma perseguição e ela fosse seu alvo.

A jovem não pôde evitar imaginar que estava presa nas emaranhadas teias do destino. Afinal, se não fosse o som daquele bater de asas ela nunca teria voltado e encontrado aquele livro. Livro que ela jurava que não estava sobre a mesa quando passou por ali antes.

No misterioso livro sem título, Evangeline encontrou algo que talvez fosse uma pista. Havia a lenda de um local ao leste da Floresta das Lamentações, conhecido como Poço dos Corvos. Lá, almas desesperadas iam atrás de pactos para resolver todo tipo de problemas.
Mas sempre era preciso dar algo em troca.

Enquanto lia mais sobre o Poço dos Corvos na parte mais isolada e escura da longa biblioteca, ela teve a apavorante sensação de estar sendo observada.

Evangeline imediatamente fechou o livro e olhou ao redor, vendo nada mais que os espaços vazios entre as altas prateleiras que cheiravam à couro e páginas velhas.

— Como raios nunca ouvi falar sobre esse Poço... — Ela murmurou para si mesma, reabrindo o livro.

Talvez tivesse alguma magia envolvida, muitas pessoas a veem como um perigo. Os homens temem ao que não podem entender ou controlar.

Ou talvez esse lugar fosse, por si só, um perigo.

Só esse fato seria o bastante para a curiosa Evangeline ir até lá, desvendar a Floresta das Lamentações e quem sabe apimentar seus dias com um pouco de aventura. Mas havia outra motivação que a conduzia. Quem sabe, talvez, aquele poço tivesse respostas à respeito do que houve com seus pais. Se eles estão vivos.

Lendas de amor e maldiçõesWhere stories live. Discover now