Capítulo 25 - À Beira do Abismo

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Evangeline abriu os olhos lentamente, a consciência retornando a ela em um borrão de sensações. Ao olhar pelas janelas do quarto envolto em uma penumbra suave do qual não reconheceu, ela notou que ainda não havia amanhecido, mas o sol estava prestes a surgir no horizonte.

Aos poucos, a memória do que havia acontecido começou a retornar a ela, como uma névoa se dissipando. Ela se lembrou de estar dormindo quando de repente uma dor insuportável a acordou, tomando todo seu fôlego. Se lembrou de levantar-se cambaleante da cama e olhar para a própria camisola encharcada de sangue, antes de cair no chão.

Ela percebeu que não sentia mais aquela dor terrível, que seus ferimentos haviam sido fechados com magia. Provavelmente Sukry.

A jovem também se lembrou de Naevran correndo até ela, com duas flechas cravadas no corpo, dizendo palavras das quais não se lembrava e então...

Então ela havia apagado.

Um medo sufocante tomou conta dela. A mansão havia sido atacada? Todos estavam bem? Onde todo mundo estava? Porque tudo parecia tão silencioso?

Determinada a descobrir o que havia acontecido ao longo da noite que passou desacordada , Evangeline empurrou os cobertores de lado e levantou-se da cama num pulo, atravessando o quarto. Seu coração martelava em seu peito enquanto ela avançava pelo corredor, cada passo a levando mais perto do desconhecido. Ela se perguntou o que encontraria, se seria capaz de suportar a dor caso o pior tenha acontecido com algum de seus amigos.

Ao chegar ao hall da mansão, enquanto descia as escadas, uma cena de horror se desdobrou diante de seus olhos. As portas estavam escancaradas, balançando ao sabor do vento noturno, como testemunhas mudas de um caos recente. No chão do lado de fora, uma trilha de corpos dilacerados marcava o caminho, uma visão que fez o estômago de Evangeline revirar de horror.

Ela engoliu em seco, tentando conter o pânico que ameaçava dominá-la. Cada instinto gritava para ela fugir, para se esconder em algum lugar seguro até que a tempestade passasse. Mas uma determinação feroz ardia dentro dela, alimentada pela preocupação e pela necessidade de saber se todos da mansão estavam seguros.

Com um impulso repentino, Evangeline correu em direção às portas, ignorando os corpos caídos ao seu redor e o ar impregnado com o cheiro de sangue e morte.

Agora do lado de fora da mansão, ela o viu.

Viu Naevran em pé próximo das árvores da floresta, banhado em sangue, sua figura escura destacando-se contra o cenário macabro. Ao seu lado, Raskë observava silenciosamente os corpos diante deles, as mãos ainda empunhando as armas manchadas de sangue. O rosto de Naevran estava sério, os olhos sombrios refletindo a intensidade da luta intensa que havia enfrentado. Seu corpo estava tenso, os músculos rígidos e cheios de tensão.

Evangeline sentiu um calafrio percorrer sua espinha quando os olhos de Naevran se encontraram com os dela. Havia uma intensidade ali, uma chama que queimava mais brilhante do que qualquer fogo. Por um momento, eles permaneceram imóveis, presos no olhar um do outro como se o tempo tivesse congelado ao seu redor. Então Naevran falou algo a Raskë e foi na direção de Evangeline.

— Você está bem? — Sua voz era um sussurro rouco, carregado com a gravidade da situação.

Evangeline engoliu em seco, lutando para encontrar as palavras certas para responder. Ela queria dizer que sim, que estava bem, mas a visão de Naevran coberto de sangue a deixava... aterrorizada.

— Eu... Estou bem. — Ela murmurou finalmente, com os lábios trêmulos. — E você? — Naevran desviou o olhar para os corpos caídos ao redor, uma expressão sombria cruzando seu rosto antes de voltar a se concentrar em Evangeline.

Lendas de amor e maldiçõesWhere stories live. Discover now