Capítulo 6 - O inimigo dorme ao lado

22 5 0
                                    

Evangeline se encontrou de joelhos ao lado do poço, as lágrimas deslizando por suas bochechas. Seu lamento ecoava pelas árvores, perdido na escuridão que a envolvia.

Como se a própria floresta compartilhasse de sua dor, nuvens escuras despejaram uma chuva torrencial sobre ela. O céu chorava em uníssono com Evangeline, trovões acompanhando cada soluço.

Com a visão um pouco turva devido às lágrimas e a chuva, a jovem avistou uma silhueta se aproximando dela, como uma sombra que aos poucos tomava a forma de uma figura humana.

Ou não tão humana assim.

O Corvo se ajoelhou diante dela, observando-a com o cenho franzido, os olhos cerrados e a mandíbula tensa. Seu olhar era algo indecifrável.

Graças à chuva, seu cabelo escuro como ônix grudava em sua testa, da mesma forma como o de Evangeline estava arraigado à pele de seu rosto, pescoço e ombros desnudos.

— Por que está chorando, coelhinha? — Sua voz era um sussurro rouco.

Evangeline ergueu a cabeça, olhando naqueles olhos tão sublimes e perversos. Mas, que naquele momento, estavam um pouco menos perversos e mais sublimes.

— Eles me encontraram, os feiticeiros com anéis de espadas cruzadas. Estavam atrás de mim, de minha mãe. — Um soluço interrompeu sua fala, seguido por outra onda de lágrimas. — Eu tive que fugir, antes que... — Evangeline não conseguiu terminar a frase, seu olhar suplicante dizia tudo.

Apenas olhou para o homem, com aqueles grandes olhos inocentes e cheios de desespero.

O Corvo pareceu ainda mais tenso, seus olhos frios buscando os dela com intensidade. Ele parecia desconcertado, como se não soubesse como lidar com a situação.

Se Evangeline não estivesse tão triste, poderia rir da confusão em seu rosto.

— Para sua sorte, estou me sentindo misericordioso esta manhã. — Resmungou. — Venha, levante-se. Vamos sair dessa tempestade. — Disse, ajudando-a se levantar ao apoiar suas mãos abaixo dos cotovelos dela.

Por um momento, mesmo com a água fria da chuva a encharcando, Evangeline pôde sentir sua pele eletrizar-se com o calor das mãos do Corvo.

— Para onde vai me levar? — Evangeline perguntou, os lábios trêmulos e os olhos vermelhos assustados e desconfiados.

— Relaxe, coelhinha. Só vai levar um instante. — Em um momento Evangeline estava entre as árvores, sentindo a chuva contra seu corpo. No seguinte, após uma onda de tontura, estava dentro de uma casa.

Evangeline olhou ao redor, para as paredes de pedra da sala opulenta. Havia duas grandes janelas de vitrais, onde a luz pálida do sol da manhã adentrava e iluminava os móveis de madeira maciça antigos. Havia uma lareira, próximo dela um conjunto de sofás carmesim acima de um grande tapete preto com o desenho de heras nas laterais num tom dourado.

As cortinas seguiam o padrão do tapete, nas cores preto e dourado. Havia também uma mesa no canto com uma coleção de garrafas de bebidas, com um conjunto de luxuosos copos de cristal.

No teto havia um imenso lustre, com uma dezena de velas que estavam apagadas. Também haviam alguns castiçais nas paredes, também apagados.

Lendas de amor e maldiçõesNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ