Capítulo 21 - Sombras do Coração

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Naevran & Evangeline

Na mansão, Naevran materializou-se com Evangeline em seus braços, a expressão perturbada marcando seu rosto sombrio. Seus olhos brilhavam com uma mistura de raiva e preocupação enquanto ele a colocava cuidadosamente no chão.

Evangeline olhou para ele, os olhos cheios de perguntas não feitas, mas ela sabia que agora não era o momento para pressioná-lo. Ela podia sentir a tensão que o envolvia, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros.

— Naevran... — ela começou, mas ele a cortou rapidamente.

— Não agora, Evangeline. — Sua voz era áspera, cortante como uma lâmina de aço. — Preciso de um momento.

Ele se afastou, deixando-a sozinha na sala ampla e sombria da mansão. Evangeline assistiu enquanto ele deixava o cômodo. Ela pensava nas palavras enigmáticas da bruxa, nas insinuações sobre segredos profundos e verdades obscuras. Ela se perguntou o que Naevran estava escondendo dela, o que ele temia tanto em revelar.

Mas acima de tudo, ela se perguntou se havia algum fundo de verdade nas palavras da bruxa, se Naevran realmente estava condenado a uma vida de solidão e escuridão, preso por uma maldição que ele não conseguia quebrar.

Enquanto os minutos se arrastavam, Evangeline sentiu-se cada vez mais inquieta, sua mente girando com preocupações e incertezas. Ela sabia que precisava de respostas, que não poderia mais ignorar as sombras que pairavam sobre eles.

Relutante, mas determinada a esclarecer as coisas, Evangeline seguiu Naevran. Ele havia subido as escadas, cruzado o corredor do quarto de Evangeline e entrado naquela porta solitária da qual a jovem vinha se perguntando o que escondia atrás dela.

A porta estava entreaberta, então ela entrou ali.

Era... o quarto de Naevran. Ao lado do quarto dela.

O quarto era uma extensão sombria de sua própria essência. As paredes eram revestidas por cortinas pesadas que bloqueavam a luz do sol, mergulhando o ambiente em uma penumbra constante. Ao entrar, Evangeline pôde ver que o quarto era espartano e austero, refletindo a personalidade reservada e solitária de Naevran. Uma cama de dossel, coberta por lençóis escuros e pesados, dominava o centro do quarto. Ao lado dela, uma mesa de madeira escura estava coberta por pergaminhos e livros antigos, testemunhas silenciosas das muitas horas que Naevran passava imerso em estudos e meditações.

No canto mais distante do quarto, havia uma lareira de pedra, cujas chamas dançantes lançavam sombras inquietantes pelas paredes. Ao lado da lareira, uma cadeira alta e esculpida estava posicionada de frente para o fogo, como se esperasse pela presença solitária de seu dono.

Ela o encontrou encarando a paisagem além da janela, os punhos cerrados e os ombros tensos, como se estivesse travando uma batalha consigo mesmo.

— Naevran... — sua voz soou hesitante, mas firme. Ela se aproximou dele, escolhendo suas palavras com cuidado. — Você está bem? — Ele não respondeu de imediato, mantendo-se de costas para ela. Quando finalmente se virou para encará-la, o olhar que encontrou seus olhos era carregado de uma intensidade quase assustadora.

— Evangeline, você não deveria estar aqui. — Sua voz era áspera, um aviso claro para que ela se afastasse.

Evangeline recuou instintivamente diante da frieza em suas palavras, mas uma determinação silenciosa a impulsionou a continuar.

— Eu não vou embora. Não até que você me diga o que está acontecendo, o que está escondendo de mim. — Sua voz era firme, teimosa.

Naevran cerrou os punhos, lutando contra a onda de emoções que ameaçava inundá-lo. Ele precisava assustá-la, fazê-la entender que não podia se aproximar mais dele.

— Você não sabe o que está pedindo, Evangeline. Não sabe nada sobre mim, sobre a maldição que me assombra. Se soubesse, não estaria aqui, insistindo em se colocar em perigo. — O olhar de Evangeline não vacilou, sua determinação permanecendo inabalável.

— Então me conte, Naevran. — Ela cruzou os braços, desafiadora. — Me conte sobre essa maldição. — A hesitação passou rapidamente pelo rosto de Naevran, substituída por uma expressão perturbada e cansada.

— É uma história longa e sombria, Evangeline. Uma que não quero que você faça parte. — Ele abaixou o olhar, evitando encará-la diretamente. — É melhor que você vá embora. É mais seguro para todos nós. — Evangeline deu um passo à frente, determinada a não recuar.

— Você não pode decidir por mim, Naevran. — Sua voz era determinada, mas havia uma suavidade em seu tom que o fez estremecer. — Eu escolho estar aqui e enfrentar isso. — Naevran cerrou os dentes, lutando contra a torrente de emoções que ameaçava transbordar.

Ele sentiu um calafrio percorrendo sua espinha, uma sensação de terror que o deixou sem fôlego. O elfo não podia permitir que Evangeline se aproximasse demais, não podia arriscar sua segurança. Ele precisava fazê-la entender, custasse o que custasse.

— Você não entende, Evangeline. — Sua voz era um sussurro rouco, carregado com a dor de séculos de solidão e desespero. — Se você ficar, eu não posso garantir sua segurança. Eu não posso garantir que você não se torne uma vítima do meu próprio desespero. — Evangeline engoliu em seco, sua coragem vacilando diante da ameaça velada em suas palavras.

— Mas eu não consigo simplesmente ignorar a forma como você é a maior vítima do seu desespero! — Ela disse, sua voz era um murmúrio trêmulo, alterada pela frustração e algo mais que não conseguia admitir.

A jovem queria correr, queria fugir dele e de toda a escuridão que o rodeava. Mas algo dentro dela se recusava a ceder, uma determinação feroz que a impelia a ficar, que a pedia para... salvar Naevran de sua própria escuridão.

Mas Naevran não respondeu, sua mente mergulhada em trevas, seus pensamentos consumidos pela fera que rugia dentro dele. Ele deu um passo à frente, seus olhos brilhando com uma intensidade predatória, uma ameaça silenciosa pairando no ar entre eles.

— Você precisa sair, Evangeline. — Sua voz era fria e cortante, suas palavras carregadas com uma urgência desesperada. — Ou eu juro que vou matá-la. E vou gostar muito disso. Eu não quero ser salvo, não preciso de qualquer tentativa tola e ingênua da sua parte de fazer isso. — Evangeline engoliu em seco, os olhos marejados de lágrimas. Ela deu um passo para trás, como se as palavras de Naevran a tivessem atingido em cheio.

Naevran manteve-se firme, erguendo uma barreira de frieza e indiferença ao seu redor. Ele não podia deixar que ela se envolvesse mais profundamente em sua escuridão, não podia permitir que ela se tornasse mais uma vítima de sua maldição. Com um esforço sobre-humano, Naevran forçou-se a manter a postura, a mascarar seu desespero por trás de uma máscara de indiferença e desapego.

— Desculpe por me importar, Naevran. — Sua voz era um sussurro frágil, quase perdido no vazio do quarto. — Eu não vou mais te incomodar. —

Com um último olhar triste, ela virou as costas e saiu do quarto, deixando Naevran sozinho com suas próprias trevas.

Lendas de amor e maldiçõesWhere stories live. Discover now