Capítulo 20 - O Amuleto e o Preço da Verdade

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Evangeline

No pé das montanhas, a imponente torre se erguia contra o céu, suas muralhas de pedra se destacando contra o horizonte. Enquanto Evangeline e Naevran se aproximavam, o vento sussurrava entre os picos rochosos, trazendo consigo uma sensação de expectativa carregada.

Ao chegarem ao pé da torre, os cavalos respiravam ofegantes, os músculos tensos após a longa jornada. Naevran desmontou com agilidade, seu olhar varrendo o horizonte, atento a qualquer sinal de perigo enquanto ele se voltava para Evangeline.

-- Fique atrás de mim -- disse ele, sua voz firme e autoritária.

Evangeline acenou com a cabeça, tentando manter uma expressão séria apesar do nervosismo que a consumia por dentro. Ela se moveu para trás de Naevran, confiando em sua habilidade para protegê-la, mas ainda assim consciente de que sua própria vida dependia da segurança dele.

Eles então começaram a subir pelos degraus de pedra na torre.

As escadas pareciam intermináveis, serpenteando em espiral ao redor da torre enquanto eles ascendiam lentamente em direção ao topo. Evangeline não pôde deixar de se perguntar quem poderia habitar uma estrutura tão imponente e isolada.

— Quem vive aqui? — Ela perguntou, curiosa, enquanto ajustava o passo para acompanhar o ritmo de Naevran. Ele lançou um olhar sombrio para Evangeline.

— Uma bruxa fofoqueira cheia de bugigangas mágicas. — Ele disse, tirando um riso discreto de Evangeline.

— Por que fofoqueira? — O elfo suspirou.

— Dizem que ela troca itens valiosos por segredos ou revelações de seu interesse. — A jovem arqueou uma sobrancelha, se perguntando o que ela ganhava com aquilo.

Ao alcançarem o topo da torre, Evangeline e Naevran se depararam com uma cena que parecia saída de um conto sombrio. Diante deles, uma figura enigmática estava sentada em uma cadeira antiga, iluminada apenas pela luz tênue de velas espalhadas pelo ambiente. Seus olhos brilhavam com uma intensidade que parecia penetrar a alma dos visitantes, enquanto seu sorriso sinistro dançava nos lábios.

— Bem-vindos, viajantes. — A voz da bruxa ecoou pelo cômodo, envolvendo-os em um manto de mistério e magia. — O que os traz à minha humilde morada? — Evangeline sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas se manteve firme ao lado de Naevran.

Ela trocou um olhar rápido com ele, exibindo seu medo.

— Viemos em busca do Amuleto de Rompimento. Sabemos que está em suas mãos e estamos dispostos a negociar por ele. — O elfo disse, sua voz era firme, embora carregada de cautela.

A velha sorriu, seus olhos fixos em Naevran por um momento antes de se desviar para Evangeline.

— Ah, o Amuleto de Rompimento... Uma relíquia poderosa, capaz de romper os laços mais profundos. E vejo que o desejo por ele não é apenas seu, Naevran. — Ela lançou um olhar perspicaz para Evangeline, que se encolheu ligeiramente sob o escrutínio da bruxa.

Ela conhecia Naevran? Essa pergunta estava estampada nos olhos da jovem quando ela olhou para o elfo, que parecia tenso.

— Vejo que este elfo sombrio guarda muitos segredos interessantes de você, querida. Diga-me, por acaso esses cabelos brancos e olhos de tempest... — Naevran a interrompeu imediatamente, antes que ela terminasse de falar.

— Não viemos até aqui para trocar palavras vazias. — Sua voz era afiada, carregada com uma pitada de ironia. — Temos um objetivo claro em mente, e não é para papear com uma bruxa solitária das montanhas. — A bruxa arqueou uma sobrancelha, sua boca enrugada curvada em um sorriso maquiavélico.

Evangeline não conseguia parar de se perguntar o que a bruxa iria dizer a ela. Talvez fosse melhor não saber, a velha lhe causava arrepios até os ossos.

— Você conhece as regras, Corvo. Um segredo por um item. — Naevran suspirou pesado, encarando-a impetuosamente.

— O que quer saber? — Ele perguntou, a voz arrastada, totalmente desinclinado a revelar seus preciosos segredos.

Mais um sorriso sombrio curvou os lábios dela, então ela olhou de novo para Evangeline.

— Quero saber porquê esconde da humana que há outra forma de quebrar sua maldição, a forma original. — Pela primeira vez, Evangeline viu Naevran engolir em seco, hesitante.

A jovem imediatamente olhou confusa pro elfo, que parecia fugir do seu olhar questionador.

— Do que ela está falando Naevran? — Ela perguntou atraindo um olhar inquieto dele, mas que rapidamente se desviou para a bruxa novamente.

— Não é da conta dela. — A bruxa estalou a lingua numa sequencia de vezes, parecendo insatisfeita.

— Eu quero a verdade, ou nada do Amuleto. — Naevran bufou, visivelmente irritado.

— Por que não há motivos para eu contar. — Ele sibilou. — Ela não poderia fazer nada à respeito. — A velha cerrou os olhos, analisando-os com de maneira firme e persistente.

Ela observou a forma como Naevran se colocava ligeiramente à frente da garota, um braço seu inconscientemente posto entre ela e a bruxa. Olhou a forma como Evangeline se escondia atrás dele, como se Naevran pudesse protegê-la de todos os perigos do mundo.

— Venha aqui, menina. — A mulher chamou.

— Não. — A voz do elfo foi uma ordem fria como a morte.

— Naevran... — Evangeline sussurrou, tocando seu braço. Ele olhou para baixo, para ela. A jovem não entendia porquê ele parecia tão nervoso, tão determinado a proteger Evangeline do que quer que esta velha bruxa poderia revelar a ela.

— Eu entregarei o amuleto se a deixar vir até mim. — A bruxa disse.

Naevran tensionou os lábios, relutante. Mas abaixou o braço e deixou a jovem se aproximar da bruxa.

Com passos receosos, ela foi até a cadeira onde a mulher estava sentada, balançando assustadoramente.

— Aqui, me dê sua mão. — Ela pediu. Evangeline esticou o braço, oferecendo-lhe a palma da mão aberta.

A bruxa então puxou o braço de Evangeline num movimento áspero e indelicado, cortando a pele da jovem com uma garra afiada. Evangeline gritou de dor, sangue começando a surgir em seu braço ferido.

Naevran a olhou com um misto de fúria e determinação assassina, rapidamente puxando Evangeline para trás e mostrando os dentes afiados para a bruxa, um sinal claro e instintivo de ameaça da parte dele.

Uma risada perversa e maquiavélica cortou o ar, os dentes horripilantemente brancos e brilhantes da bruxa expostos através de um sorriso perturbador.

— Você mente para si mesmo, elfo! — A bruxa dizia entre risos. — Até quando fechará os olhos para a verdade que está bem debaixo do seu nariz? — Ela então tirou um objeto do bolso. Era o Amuleto.

Uma pequena pedra preciosa incrustada em um pingente de prata intricadamente trabalhado, com runas antigas gravadas ao redor de sua borda. Sua cor era um azul profundo e cintilante, quase como se contivesse o próprio céu noturno dentro de si

— Você está delirando. — Ele sibilou, tomando das mãos dela o objeto.

Evangeline observava a troca entre Naevran e a bruxa com uma mistura de curiosidade e nervosismo. Ela queria entender o que estava acontecendo, mas também sentia uma pontada de medo diante da aura misteriosa que envolvia aquele lugar.

— A sua salvação será o motivo da sua condenação, Naevran da casa Crow. — Ele emitiu um som de desdém.

— Eu já estou condenado. — Com isso, Naevran tomou Evangeline em seus braços e eles desapareceram em meio à escuridão.

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