Capítulo 27 - Laços rompidos

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Naevran

Ao colocar Evangeline no altar de pedra como se ela não passasse de um sacrifício, Naevran hesitou por um momento em se afastar dela.

— Acabe logo com isso. — Ele ordenou ao curandeiro, sua voz rouca e menos firme do que esperava.

Naevran se afastou alguns passos, entregando o Amuleto à Sukry e observando-o fuçar na alma da humana com sua magia doce e sedativa. Enquanto fazia isso, ele andava em círculos, como um tigre enjaulado. Naevran estava mais instável do que gostaria e mais preocupado com a vida de Evangeline do que deveria.

Ela era só uma humana, apesar de seus ancestrais imortais. Uma criatura efêmera e frágil que representava tudo que o elfo repudiava. Mas ali estava ele, numa aflição amarga e implorando aos Deuses que aquela humanazinha teimosa e obstinada sobrevivesse àquilo para que pudesse continuar desafiando-o e o incomodando com suas perguntas infindáveis.

O tempo parecia se esticar como uma lâmina afiada, cortando-o com cada segundo que passava. Cada momento que Evangeline permanecia naquele estado de quase-morte era uma agonia insuportável para Naevran, uma tortura que o destino parecia se deliciar em infligir-lhe.

Se o ritual desse errado e ela morrer, ele estaria condenado em todos os sentidos possíveis. Agora restavam menos de nove meses, cada dia mais perto de seu encontro marcado com a morte.

Enquanto observava Sukry realizar os últimos passos do ritual, as palavras ameaçadoras da rainha ecoaram em sua mente, lembrando-o do destino cruel que o aguardava. O peso de sua maldição pesava sobre ele como uma âncora, arrastando-o para as profundezas de um abismo sem fim.

"Por uma humana meu filho morreu, e por uma humana você também morrerá..."

O elfo havia passado quase oito décadas buscando uma forma de quebrar sua maldição, uma forma que não precisasse sacrificar a vida de uma alma inocente, cujo o único pecado seria amá-lo.

Aquele era um destino cruel. Ela sabia que nenhum elfo da da casa dos Corvos permitiria qualquer vínculo com um humano, em especial um vínculo como aquele. Mesmo que isso significasse quebrar sua maldição. E ainda que estivesse disposto à ir contra seus próprios princípios, a maldição era um beco sem saída.

Então quando encontrou Elizabeth e soube quem ela era, quem era seu pai, uma chama de esperança se acendeu em seu coração. Mas a mulher se recusou a por a vida da criança em seu ventre em risco, reforçando a ideia de que ele estava realmente condenado.

Mas ao ver Evangeline ali, entregue aos braços da morte porque confiou nele, o fez questionar se sua maldição não era, na verdade, uma profecia.

Aquela ideia era ridícula. E a ideia de que a humana nutrisse qualquer sentimento romântico por alguém desprezível como ele era mais ridícula ainda.

Enquanto se afundava cada vez mais fundo em uma cova na própria mente, a atenção de Naevran foi imediatamente atraída para o corpo de Evangeline, que começou a ter espasmos fortes e quase incontroláveis abaixo das mãos do curandeiro.

— O que está acontecendo? — Ele indagou ameaçadoramente, aproximando-se da humana e pondo uma mão atrás de sua cabeça, para que não a batesse contra a pedra do altar, e a outra apoiou sobre o abdômen dela.

Lendas de amor e maldiçõesWhere stories live. Discover now