Prólogo

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O ano é 12.412 STSM, Era dos Magos. Me chamo Adriana e tenho 17 anos. Estou para completar 18, e quero muito me tornar uma coletora. Exatamente por isso, manifestei esse desejo na escola. Em geral, nessa idade, os adolescentes ainda não haviam descoberto quais as suas aspirações para a vida. Mas eu sabia que não queria ser uma curandeira, nem professora. Muito menos dona de casa. Eu queria fazer algo que tivesse alguma ação, onde eu pudesse usar minhas habilidades.

Modéstia à parte, eu sou uma ótima espadachim, sabe? Até me chamam de Espadachim Cantante! Não, não é porque eu canto enquanto esgrimo. É a minha espada que produz o som, enquanto eu a manejo. Corto o ar de forma tão rápida, que é como se o ar gritasse de irritação. Mas ele emite umas notas muito belas e sonoras. Então acho que fica mais é impressionado com a minha técnica do que irritado. Sim, eu coloquei a modéstia de lado sim!

Pensando em tudo, e em Amanda, foi que decidi entrar no ramo da coleta. Amanda é uma coletora experiente, forte e bem durona. Gosto de chamá-la de "Aman". Fica bem mais sonoro assim. Ela fala pouco e é meio mal humorada na maior parte das vezes, mas gosto dela. É como se fosse uma mãezona para mim. Isso porque ela é dez anos mais velha que eu. Quando minha mãe faleceu, papai não sabia direito como cuidar de uma criança. Aman e seus pais moravam perto de nossa casa, por isso, muitas vezes ela tomou conta de mim. Brincávamos e passeávamos o tempo todo. Meu pai sempre a considerou uma segunda filha.

Desde muito pequena ela treinava artes marciais mágicas. Sempre achei aquilo o máximo. Com 13 anos ela já podia ser considerada uma mestra. Tentei por algum tempo seguir seus passos, até perceber que não tinha a menor aptidão. Fiquei muito abalada com aquilo, visto que a magia era inata a todo ser humano, e eu não conseguia empregá-la na luta. Aman me acalmou e explicou que as pessoas são assim, heterogêneas. Todos têm potencial, mas nem sempre nas mesmas atividades. Foi ela quem me recomendou a lutar com uma espada. Pois algumas pessoas tinham melhor capacidade para concentrar sua força mágica em objetos sólidos. Ela estava certa.

Os professores e o diretor ficaram muito contentes e satisfeitos com minha decisão, visto que a Vila Arcana, nosso lar, carecia de força militar. Porém - e sempre tem um - informaram-me que eu precisaria fazer um teste, uma espécie de "ritual de passagem" para comprovar a minha resolução. Eu deveria passar uma semana sozinha em uma floresta erma. Depois disso, deveria ir até os limites de nosso território coletar um objeto tecnológico.

Por um instante, fiquei com medo. Ficar uma semana sem ninguém? Além disso, coletar um objeto tecnológico?! Conseguir uma raridade daquelas era extremamente perigoso!

Logo desfizeram o mau entendido. Eu seria acompanhada por uma coletora veterana, que me protegeria. É lógico que escolhi Aman! Ela cuidaria de mim a maior parte do caminho, só se ausentando nos sete dias de teste. Então seguiria antes para encontrar Alexia, uma outra coletora experiente, que mantinha o artefato sob seus cuidados, na borda de nossas terras. Alexia e Aman eram muito amigas. Eu só a tinha visto uma ou duas vezes, mas Aman falava nela o tempo todo. Pelo que eu sabia, devia ser realmente uma pessoa muito legal. Depois de minha provação, eu deveria encontrá-las em seu posto de observação.

Alexia havia encontrado o objeto naquela região e não podia sair de sua localização. Minha missão era coletá-lo e trazê-lo de volta à vila sob a orientação da veterana.

Comuniquei a papai minha decisão. Seu rosto abrigou uma alegria orgulhosa, mas o fundo de seus olhos negros derramavam preocupação. Abracei-o e disse que tudo ia ficar bem.

O restante das pessoas que eu conhecia não compartilhavam dos temores de meu pai. "Vai ser fácil", disseram. "Amanda estará com você, vai ser suave", disseram. "É uma mera formalidade, já que você quer se tornar uma coletora", disseram.

O que não disseram – nem previram, aliás – é que agora eu estaria aqui, largada com a bunda caída no mato, boquiaberta e olhos arregalados, observando minha melhor amiga Amanda ser devorada por um monstro de magia, sem ter a menor ideia de como proceder para evitar isso!

Dente de Leão -- Uma breve história anterior a Perna de MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora