09- Eu Estava Com Um Vermelho E Um Elemental

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No instante em que desembainhei a espada, o Avesso investiu contra nós mais uma vez. No entanto eu estava preparada. Desviei e torci o pulso para tentar cortar seu lombo com minha lâmina. Ele contorceu o corpo de uma maneira absurda, como se sugasse uma parte de si mesmo para dentro. Era um ser de energia, afinal de contas; podia assumir a forma que quisesse.

O menino vermelho dava a impressão de já estar acostumado a esse tipo de confronto. Estava muito concentrado. Assim que evitou uma arremetida da criatura, começou a invocar o poder contido em sua esfera sussurrante. Esta emitiu flashs de luz cegantes e mal consegui registrar uma forma etérea que se materializou ao seu lado. Eu agora sentia uma brisa fresca em meu rosto, cabelos e roupas. Podia ver o efeito do vento no corpo do rapaz também, pois um ser havia surgido. Um elemental de ar.

Magia brilhante cor de safira singrava ao redor de ar revolto, que formava o corpo do elemental. Ele olhou diretamente para mim, e pude notar seu rosto cheinho. Todo ele era bem gordinho. Tinha olhos negros muito próximos, bem redondos, o que lhe dava uma aparência um tanto inocente.

Que estranho! Esses elementais não eram quase demônios? Pelo menos era o que sempre se dizia em Vila Arcana. Aquele era tão... tão fofo!

— Menina xadrez! Me dê cobertura por alguns minutos!

Mesmo não entendendo nada, fiz o que ele pediu. Posicionei-me entre ele e o Avesso.

Eu não fazia a menor ideia de como enfrentar aquele inimigo. Tentei a estratégia que utilizei uma vez contra uma árvore indefesa. Concentrei toda minha energia e atirei-a do meu braço para a lâmina da cantora, permitindo que o excesso escapasse como um arco de pura energia.

Creio ter sido muito ingênua pois um golpe simples como aquele foi facilmente antecipado pelo Avesso. Ele mal fez esforço ao saltar por cima do golpe, aproveitando para voar em minha direção.

Me desesperei ao observar sua bocarra sorridente caindo sobre minha cabeça. Não consegui pensar em nada além de colocar a cantora à minha frente, rezando para que ela servisse de obstáculo. Ela trinou como um pássaro ao cruzar o espaço.

Um som agudo surgiu do contato da lâmina com os dentes da criatura. A cantora tinha conseguido segurá-lo! Agora eu é que precisava forçá-la de volta para que o Avesso não me cortasse com minha própria espada. E que tarefa difícil aquilo se mostrou.

— Menino vermelho! Me ajuda aqui!

— Fique calma! Só mais um pouco! Você tá indo bem!

Tentei enxergá-lo de esguelha e percebi que o elemental tinha desaparecido. Não. Desaparecido não. Ele estava... como descrever? Estava entrando no corpo do menino vermelho. E não sei se era minha vista mas... o garoto estava ficando meio transparente!

Não tive tempo para pensar nisso. O Avesso ficou suspenso apenas nas patas traseiras e com as suas estranhas mãos humanas superiores, agarrou ambos os meus ombros. Começou a aplicar pressão como se pretendesse me esmagar. E o pior é que estava conseguindo!

Gritei.

— Aguenta só mais um pouco, gatinha!

Do que ele tinha me chamado? Gatinha?!

— Vai logo! Não estou conseguindo respirar!

Não contente em exercer pressão, começava a sentir as mãos da criatura me queimando. Tentei posicionar a cantora de forma a empurrá-la adiante e perfurar o crânio daquele maldito através do céu da boca, mas tanto a lâmina quanto meus braços estavam presos. Eu não podia me mover um milímetro. Mal conseguia respirar, quanto mais me mexer!

Dente de Leão -- Uma breve história anterior a Perna de MagiaWhere stories live. Discover now