05- Transmissão de Pensamento

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Era o dia da partida. Na academia militar estava ocorrendo uma audiência pública, que era uma espécie de despedida e votos de boa sorte. Qualquer pessoa podia participar, então avistei alguns professores na multidão, além de Imani e Akia. Meu pai se recusou a vir. Já havíamos conversado sobre tudo que era necessário.

Eu era a única aspirante a coletora. A maioria preferia os cargos onde a área de atuação fosse basicamente a Vila Arcana. As coletoras agiam fora do lar, recolhendo informações e operando como agentes de campo. Nosso povo, de maneira geral, temia as ações dos "vermelhos", como os chamávamos. Eram magos subversivos, que ao invés de usarem magia com as próprias mãos, preferiam fazer pactos com aqueles seres demoníacos, conhecidos como elementais. Desde pequenos, nós de Vila Arcana escutamos histórias de como os vermelhos incineram criancinhas ou as matam afogadas, só pelo prazer de usar a magia deles.

Eu nunca tinha visto um vermelho nem um elemental, mas morria de medo ao imaginar topar com algum. Nosso território fazia divisa com o deles, justamente no Desfiladeiro Deepness. E era exatamente para essa região que eu teria que ir.

Ao todo éramos vinte jovens entrando para as Forças Mágicas Armadas. Nove garotas e onze garotos. Usávamos o manto cerimonial, que através de nossas insígnias no peito, designavam nossa posição de aspirantes. O formato estilizado desse símbolo representava um pássaro no ninho.

A academia era em um local térreo, mas muito amplo. O salão de reuniões, onde estávamos, contava com uma mesa oval gigante, mas que no momento havia sido afastada para perto da parede, para garantir espaço aos visitantes e acompanhantes dos aspirantes. As paredes eram forradas com vários mapas da região, enumerando pontos estratégicos que a vila possuía. Também havia várias bandeiras penduradas que representavam as várias classes militares. A das coletoras continha um brasão em forma de losango de um olho que flutua acima de uma floresta, observando fachos de magia que se alongam como raios solares a partir do centro das árvores.

Era muito louco, na minha humilde opinião. Tudo que se relacionava às coletoras era demais.

Nós, os novatos, estávamos sobre um tablado, cada um com seu tutor ao lado. O que significa que Aman estava junto comigo, enfiada naquele manto cerimonial que deixava a todos parecidos com sacos de aniagem. A cara de enfado dela era visível a quilômetros. Ela odiava qualquer tipo de formalidade.

A solenidade consistia apenas na entrega de um bastão aos iniciantes, mas claro que antes disso havia vários discursos e sermões exaustivos.

Os dois chefes das Forças Mágicas Armadas, Serani e Nicolas eram uma mulher negra e um senhor branco como leite, respectivamente. Eles revezavam a falação com o ancião líder de Vila Arcana, o mestre Cális.

Depois do que pareceram horas, os bastões foram entregues, enfim. Vários novatos ergueram os seus, em triunfo, enquanto o palanque foi invadido por parentes e amigos para comemorar.

Foi então que Serani, uma gigante de 1,90m, aproximou-se de Aman, que teve que levantar ligeiramente o rosto para encará-la. Aman também era bem alta. Serani aproximou os lábios da orelha de minha amiga.

— Tome cuidado. Há relatos de vermelhos na fronteira com o DD. Você deve...

Consegui perceber a expressão de puro desprezo que Aman estampou no rosto. Não consegui imaginar o motivo, já que foi bem difícil discernir os sussurros contidos de Serani. Quando Imani pulou em cima de mim com um abraço apertado, ficou completamente impossível.

— Imani. Como você consegue ser tão completamente inconveniente?

— Eu não sabia que abraços eram inconvenientes.

— Aaaah, deixa quieto. Eu não sabia que vocês vinham pra cá.

— Convidei o Akia e ele aceitou vir comigo.

E claro que ele não se fez de rogado.

— Só assim pra você vir me ver, né, Imani?

— Nada a ver! — disse ela, ultrajada — Eu vim aqui por sua causa!

— Relaxa, Dri. A Imani tava super ansiosa pra te ver. Tava falando toda orgulhosa de você, enquanto entregavam os bastões.

Akia me mostrou um dos seus melhores sorrisos, contente. Até que a criatura era bonita quando descontraía assim. Imani ficou vermelha até as raízes dos cabelos.

— Viemos lhe desejar sorte. E lembrá-la que pode contar com a gente para o que precisar.

Akia se aproximou de mim, e fiquei sem reação com a surpresa. Plantou-me um beijo carinhoso na bochecha, pertinho da boca. Fiquei imediatamente quente, torcendo com todas as minhas forças para que meu rosto não mudasse de cor. Imani estava com uma cara um pouco contrariada, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Quem podia prever as ações do Akia?

— Eeeeeeer... v-vamos comigo pegar minhas coisas lá no depósito. — gaguejei — Preciso tirar esse saco que chamam de manto e pegar a cantora. Já vamos partir logo em seguida.

Virei de costas rapidamente, torcendo para que ninguém percebesse o meu nervosismo. Mas eu podia sentir a alegria do tonto do Akia e as energias negativas de Imani.

Lembre-se que foi você quem o convidou, amiga! Tentei transmitir o pensamento a ela. Acho que não funcionou.

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Triângulos amorosos são sempre complicados... =(
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Sempre bom ^^

Dente de Leão -- Uma breve história anterior a Perna de MagiaWhere stories live. Discover now