Dente de Leão -- Uma breve história anterior a Perna de Magia

38- Uma vida de fé e esperança

Lutamos em muitas batalhas. Em pouco tempo, Vila Arcana e Erescalta deixaram de existir. Nem os nossos iguais eram mais confiáveis. Você podia ser traído e ter seus Corações arrancados por quem menos esperasse. Dessa forma, cada indivíduo se isolou dos outros. Dependiam apenas de si mesmos e sobreviviam com sua própria força.

Foi um tempo sombrio em nossa história. Não houve evolução em nenhuma área, pois todas as pessoas viviam isoladas. Não havia mais amizade, amor ou famílias. Tínhamos a imortalidade, mas estávamos sós. Toda a eternidade para convivermos apenas com a solidão.

Mesmo assim, Amanda não absorveu mais nenhum Coração de Magia além do meu. Ela conhecia a dor de perder companheiras. Sabia como era sentir uma eterna presença, com a qual nunca poderia interagir. Apesar disso, nós nos completávamos. Éramos fortes e auto-suficientes. Nossa magia era baseada no ódio, um sentimento poderoso. Amanda conseguia gerar magia comparável a um Omag em posse de cinco Corações. Poucas pessoas se atreviam a desafiá-la.

Porém, por mais que o mundo apontasse em uma direção, sempre havia pessoas dispostas a trilhar o caminho contrário. Muitos seres humanos se recusaram transformarem-se Omags e fugiram para as terras distantes do leste. Essa foi a nossa sorte. Afinal, descobrimos muito tempo depois que Omags eram inférteis. Esse pequeno número de teimosos foram os responsáveis pela repopulação de Novea. Entre eles estavam Imani e Akia.

Logo depois que Arcanos e Rubies entraram em guerra direta, procuramos e caçamos Alain com todos os nossos recursos. Nos momentos em que Amanda utilizava sua magia com base no ódio, eu despertava. Senti prazer quando despedaçamos a caixa torácica de Alain, para arrancar seus Corações, infligindo a maior quantidade de dor possível. Que o tenhamos assassinado entre mais quatro coletoras, não mexeu nem um pouco com a minha consciência.

Depois disso, foi como se perdêssemos o propósito. Amanda entrou em depressão. Com uma líder insegura e enfraquecida psicologicamente, nosso povo começou a se voltar contra ela e contra si mesmo. Foi nesse tempo que, dois anos após o início da guerra, lideramos o grupo de dissidentes que se assentaria no leste. Lá, a população prosperou. Crescemos com os filhos de Imani e Akia. Depois com seus netos. Quando os netos tiveram seus próprios filhos, Amanda já estava cansada de ver pessoas queridas partir.

Então ela deixou o leste e se alojou sozinha no centro do mundo. Preveniu muitos ataques de Omags contra o povo de magos que vivia no leste, que posteriormente acabou fundando a cidade de Marazul.

Com o passar dos anos, perto do local onde havia se assentado, Aman observou a construção da nova Kailotron, nome dado em homenagem à cidade homônima que existiu na Era de Platina. A Kailotron original era uma cidade rica e muito próspera que detinha o que havia de mais avançado em tecnologia. Os fundadores da segunda versão eram otimistas ferrenhos que se recusavam a temer a ameaça dos Omags lá fora. Eles seguiram os passos da original e desenvolveram seu aparato tecnológico para fazer frente à magia que os cercava. Que bom que tiveram sorte.

Depois de sete longos anos de escaramuça, os Omags que restaram - em torno de cinquenta - resolveram se reunir e firmaram um acordo de paz. Amanda foi procurada por uma Omag chamada Erinia para se juntar a eles. Todos já tinham ouvido falar da Omag com força de nível cinco, mas que era apenas uma nível dois.

Amanda aceitou.

Assim formava-se a Guilda.

Depois de mil anos, quando o grupo adquiriu a alcunha de "Guilda dos Antigos", Amanda deixou-o, tornando-se uma Omag desgarrada e sendo caçada por isso. Por mais ou menos 1590 anos Amanda viveu assim, como uma refugiada.

Até que ela não pôde mais lidar com o que carregava dentro de si. Não se tratava mais da permanente melancolia que sentíamos. Estávamos em nosso limite. Todo o poder e ódio eram fardos pesados demais para se manter.