13- Sementes ao Vento

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O grande dia chegara afinal. O momento em que Aman iria seguir em frente, e eu permaneceria na floresta, sobrevivendo por sete dias. Aquele era o meu ritual de passagem, a formalidade que me faria deixar para trás o cargo de aspirante para tornar-me uma coletora. Estava muito ansiosa.

Ansiosa?

Eu estava era morrendo de medo.

Aman me tranquilizou. Disse que confiava em mim. Que eu tinha habilidades suficientes para me virar. Ainda assim, ela percorreu o perímetro várias vezes, esquadrinhando a área atrás de qualquer perigo. Me garantiu que se eu permanecesse dentro do raio de um quilômetro, provavelmente tudo ficaria bem.

Quem era eu para duvidar dela?

E assim ela se retirou, relutante. Dava para perceber pelo seu olhar, sua postura. Me deixou com um auditus - artefato que permitia a comunicação entre magos - exigindo que entrasse em contato se tivesse qualquer emergência. Acho que era difícil para ela em certos momentos deixar de ser mãe para se tornar uma mentora. Mas se foi mesmo assim, porque acreditava na minha capacidade. Eu não ia decepcioná-la.

Estávamos a um dia de distância de Alexia, na borda do DD.

******************

Era de tarde, já passava da hora do almoço. O dia estava quente e o sol emitia toda a força de seus raios sobre Novea. A fogueira ainda estava acessa a alguns metros de mim, depois de tê-la usado para preparar meu almoço.

Como não tinha nada melhor para fazer, peguei minha espada cantante e comecei a fazer uma série de movimentos ordenados.

Podia sentir a magia correndo por meus braços e era sempre uma sensação prazerosa. Muitas vezes eu me perguntava o que era a magia. Que tipo de energia era aquela? De onde vinha? Era tão básica que até mesmo seres vivos eram compostos dela, como o elemental de Liam, Brisa. Se o nosso povo usava magia para quase tudo, até para esquentar uma panela de água, por quê era tão difícil encarar o fato de que esse poder podia se manifestar por si só, na forma de um elemental? Brisa era tão doce, tão... fofinho! Era difícil conceber que se voltasse contra seu parceiro. E segundo Liam, isso era até mesmo impossível, pois os elementais conservavam muitas características da magia pura, como por exemplo, agirem só quando ordenados. Será que os Arcanos achavam que elementais eram como Avessos? Por isso os temiam e desprezavam tanto? Os Rubies entravam nessa roleta do ódio por tabela, pelo visto. Era algo que eu precisava conversar com Aman.

Eu achava que sabia muitas coisas, mas não fazia idéia de como nossa vila podia ser supersticiosa e tola. Nunca prestei muita atenção nessa rixa que existia entre os "xadrezes e vermelhos". Se não tivesse conhecido Liam e entendido que ele é um cara comum, talvez eu continuasse contaminada pelo senso comum, e acreditasse piamente que eles eram quase como animais selvagens. Eu estava começando a entender que a ignorância pode causar muitos males.

Mas não pude meditar muito além disso.

Um vento suave começou a soprar, fazendo terra e folhas girarem em vários redemoinhos ao meu redor. Fazia um ruído agradável, que transmitia muita paz e segurança. Por vezes aquele hálito tocava o meu nariz, me fazendo cócegas. Logo desconfiei de que não se tratava de uma ventania comum.

Minhas suspeitas logo se tornaram certezas, pois subitamente uma explosão de pequenas sementes de dente-de-leão tomou conta do ar. Não dava para saber a origem. Elas flutuavam de todos os lados. Me circundaram em uma dança terna, sua penugem fina tocando a minha pele afetuosamente. Comecei a rir e rodopiar com os braços abertos como uma criança, tentando envolver as sementes com a palma da mão.

Em um dos meu giros, dei de cara com Liam, em pé e me observando com um sorriso incrível. Num momento não havia ninguém lá, no seguinte uma aparição de beleza infinita. Seu cabelo balançava ao vento delicado. Uma visão estupenda. Ele se aproximou de mim e eu prendi a respiração.

— Que entrada mais exagerada. Precisava de tudo isso? — Eu disse sorrindo, quando estávamos cara a cara.

— Brisa é quem fez isso. Ele sempre chega nos lugares ventando, sabe?

— Ah sim, porque não teve ninguém que pediu a ele que fizesse isso, não é?

— Pois é, menina... Quem será que pediu pra ele, não é mesmo?

Nos abraçamos dando altas risadas, o ar ainda volteando ao nosso redor e espalhando as sementes.

— Mas vai dizer que você não gostou. — falou ele, agora meio inseguro.

— Hummm... — ponderei com os dedos segurando o queixo — meio dramático, mas muito muito muito lindo! E tocante. Depois da história que você me contou da deusa Carmesin...

— Sim. Quis mostrar o quanto prezo você.

Nos encaramos por um momento, olhando fundo nos olhos um do outro. A próxima coisa que percebi foi nossos lábios se tocando. Primeiro de forma delicada. Depois ele me abraçou pela cintura e eu ergui os braços para segurá-lo atrás da nuca, atraindo-o para mais perto e deixando o beijo mais quente e íntimo. Só nos interrompemos depois de um bom tempo, para poder respirar.

Meu coração quase parou. Eu estava mesmo beijando aquele garoto lindo!

Se Aman me visse agora, estaríamos bem encrencados...

Mas era improvável que aquilo acontecesse. Aman já devia estar bem longe agora. Finalmente eu tinha Liam só para mim.

Fomos em direção à minha tenda, ainda unidos. Era difícil caminhar com uma pessoa te abraçando, mas quem se importa?

Ficamos lá até a noitinha, conversando, rindo e nos conhecendo melhor. E namorando, claro!

Eu só podia estar no céu! Nada de ruim poderia acontecer agora.

Ou poderia?

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Sempre pode piorar né... =P

Digam aí o que acharam! Sempre legal saber a opinião de vcs, seus lindos =)

E não esqueçam o votinho maroto se gostarem!!!

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