11- Lados Opostos

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Permanecemos no acampamento naquele dia. Aman precisava de um tempo para se recuperar da batida nas costas. Eu não sabia muito bem ainda como aplicar magia de cura. Não era minha especialidade, sendo eu uma pessoa que concentrava energia em objetos. Minha mentora acabou se auto medicando, depois passou a maior parte do dia de repouso. Permaneci do lado de fora de sua tenda montando guarda para qualquer eventualidade.

Eu me sentia horrivelmente dividida. Por um lado confiava em Aman. Por outro, Liam havia conquistado minha simpatia. Ele não podia ser mau. Eu analisava a situação por diversos ângulos e por nenhum deles conseguia enxergar através dos olhos de minha amiga.

Chegou uma hora que simplesmente desisti e soltei um bufada longa de ar. Eu estava sentada de pernas cruzadas no chão, minha espada jogada ao lado. Agarrei meus tornozelos e me inclinei para trás, até encostar as costas no chão, soltando um "aaaah" exasperado.

Foi então que um sopro, delicado como a respiração de um bebê, brincou sobre o meu nariz. Foi quase como se eu reconhecesse aquela essência. Fiquei ereta e observei as árvores próximas. Não havia nada à vista. Mas eu não tinha imaginado aquilo. Realmente não.

Levantei. Apanhei a cantora e a encaixei em seu lugar no ombro esquerdo. Caminhei até a linha onde as árvores começavam. Então, de novo aquele vento suave fazendo cócegas em meu rosto.

Olhei para trás. Aman continuava dormitando. Já estávamos próximos da meia noite, a lua ia alta no céu. Ela clareava parcamente o caminho mas ainda assim não parecia haver nada nas proximidades.

Se fosse quem eu estava pensando, não haveria problema deixar Aman sozinha, haveria? Seriam só por alguns minutos.

Me embrenhei entre as árvores. Segui na direção do riacho mais uma vez.

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Assim que cheguei lá, um raio de luz prateada da lua iluminava o lugar onde Liam me esperava. Brisa não estava à vista mas eu tinha certeza de que tinha sido ele a me chamar ali, a pedido do menino Rubie.

Quando ele percebeu minha presença, levantou rapidamente o olhar. Seu semblante demonstrava uma certa tensão. Era como se ele esperasse ser atacado. Ficou em uma posição de alerta até eu me aproximar mais e ele poder enxergar o fundo dos meus olhos. Só então ele se desarmou e a expressão relaxou.

— Me desculpe! — Ele foi logo dizendo — Eu não pretendia fazer aquilo com a sua mentora! Mas ela tinha que agir como qualquer outra coletora? Já foi logo partindo pra cima! Pensei que ela ao menos fosse te ouvir.

— Aman não costuma parar, nem ouvir ninguém se estiver convencida de alguma coisa. Mas ela... Ela me disse uma coisa... Sobre os vermelhos... Quero dizer, os Rubies...

— Sim?

Hesitei. Se eu mostrasse que sabia qual era o jogo, ele iria me matar? Conferi o peso da cantora em minhas costas, só para garantir. Mas antes que eu pudesse juntar coragem, Liam se adiantou.

— Deixa eu adivinhar. Ela provavelmente disse que todos os vermelhos são animais ferozes que agem sem misericórdia. Deve ter dito também para tomar cuidado comigo porque somos bárbaros imprevisíveis e violentos. E se me visse, você deveria fugir ou lutar.

Engasguei. Em linhas gerais, era quase aquilo. Mas tinha mais.

— Ééé... Hum... Ela disse uma outra coisa. Ela disse que... Você estaria tentando ganhar a minha confiança. Pra... Pra chegar até ela e eliminá-la mais facilmente. E que depois você me mataria com requintes de crueldade. Que isso é o que vocês gostam de fazer.

Dente de Leão -- Uma breve história anterior a Perna de MagiaWhere stories live. Discover now