17- Reencontro

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Levei um dia para alcançar o Desfiladeiro Deepness. Não havia localizado nenhuma pista de Liam ou Brisa ao longo do caminho. Depois que encontrasse Aman, não haveria a menor possibilidade de nos reunirmos. Fiquei chateada. Queria vê-lo.

Uma intuição sinistra ainda rondava minha mente. Eu não saberia dizer o que era, ou de onde vinha aquilo. Segui com cuidado redobrado devido à forte sensação de alerta.

Mas a ida até o posto foi tranquila, sem incidentes.

Mal sabia eu que o verdadeiro problema estava justamente no ponto de encontro.

Assim que venci a íngreme escarpa, avistei em uma árvore próxima um amontoado específico de folhas, unidas de forma muito peculiar mas de maneira muito sutil. Você não o encontraria se não soubesse o que procurar. Tinha o formato de um losango meio torto. Era o código que as coletoras usavam para marcar sua localização. Me fizeram decorar e diferenciar aquele símbolo antes de vir para cá.

Adentrei aquelas primeiras árvores. E juro que o que vi me fez pensar que eu talvez estivesse tendo alguma alucinação. Ou que tivesse me enganado de algum modo.

Era Liam! Ele estava meio agachado, envolvendo com o braço alguma coisa que estava largada no chão. Tratava-se de algo bem grande, que ele mal conseguia segurar.

Por um instante fiquei totalmente eufórica em vê-lo. Me aproximei e não reparei em nada ao redor. Quando estava a apenas alguns passos, foi que notei o lado de sua cabeça. Sangrava profusamente, inclusive com manchas já secando em seu pescoço e na manga da blusa. Quando percebi isso, travei. Fui baixando o rosto automaticamente, como se ele não pertencesse a mim. Passei os olhos por seu peito até chegar no volume que ele segurava nos braços.

Era uma pessoa. Como isso passou despercebido por mim?

Levei alguns segundos para identificar quem era pois a cena me parecia surreal demais. Era Alexia. Estava pálida e absolutamente imóvel. Seus cabelos loiros estavam sujos de terra e sem brilho. O rosto estava cheio de escoriações, os olhos fechados.

Liam a mantinha numa posição sentada, e desta forma, pude ver o estrago em suas costas. A ferida recente era um borrão disforme porém não sangrava mais. Por que aquele buraco estava ali? O que estava acontecendo? Eu estava no meio de um sonho?

Que figuras mais antagônicas à minha frente! Liam e Alexia! Liam, todo esfarrapado e machucado, como se tivesse lutado. E Alexia morta. Era estranho demais para ser verdade. Aquelas duas pessoas sequer deveriam estar juntas no mesmo lugar. Só podia ser um sonho. Uma alucinação.

Foi quando dei por mim: Aman não estava em lugar nenhum.

— Onde está Aman? — Me surpreendi com minha própria voz. Ela saiu despida de qualquer simpatia. Ao contrário, escapou fria como uma navalha.

Foi como se Liam tivesse despertado naquele momento, pois seus ombros tremeram e ele me encarou com desespero. Começou a gaguejar, parou, engoliu em seco e recomeçou.

— Não fui eu quem fez isso, Adri, você tem que acreditar em mim... Eu não sei onde a sua mentora está...

— Por favor. Será melhor para nós dois se você contar o que realmente aconteceu aqui.

— Eu estou falando a verdade! Quando acordei estava ao lado desta mulher... eu a peguei nos braços para ver se estava bem, mas... foi quando você chegou.

Eu não sabia no que acreditar. Eu não sabia o que devia fazer. Será que o atacante de Alexia também investiu contra Liam? Por isso ele também estava ferido?

— Quem fez isso com vocês? Você lutou ao lado de Alexia?

— Não. Eu... não me lembro. Eu estava andando nesta região... De repente estava aqui. Não sei o que aconteceu com ela.

Agarrei a empunhadura da cantora.

— Você não está fazendo o menor sentido.

Liam deitou a mulher sem vida no chão e se retraiu.

— Não faz isso, Adri... Eu... Por favor...

Eu não devia hesitar. Ele tinha matado Alexia a sangue frio, pelas costas! E sabe-se lá que atrocidade teria feito com Aman! Ela jamais deixaria a amiga para morrer sozinha, a não ser que ela também...

— Me fale onde está Aman!!

— Eu não sei, Adri, eu não sei!

— Por que está fazendo isso?! É um jogo? Pare agora mesmo!

Puxei a espada da bainha. Eu não sabia o que pensar, mas me parecia imperativo manter uma arma entre nós. Minhas mãos suavam, os braços tremiam e minha voz saía quebrada. Eu não queria acreditar que Liam tivesse feito aquilo, mas o que mais eu podia pensar? A antiga rixa entre nossas raças devia ter falado mais alto. O senso de dever pesava mais que seus princípios, seu caráter. Liam ainda estava com o seu povo.

Eu estava com a lâmina erguida e não ia baixá-la. Ele estava encolhido, mas não ia fugir.

Em meio a esse impasse, uma silhueta se destacou da borda profunda do DD. Ela içou-se do barranco, emitindo gritos arranhados de esforço. Quando finalmente ergueu-se sobre os dois pés, soltou um último grunhido alto de triunfo.

— AMAN!

O braço esquerdo de minha mentora estava em um ângulo estranho. Provavelmente estava quebrado. Mas estava viva e meus olhos se encheram de lágrimas. Um sorriso bobo se fixou no meu rosto.

Agora ela poderia esclarecer tudo!

— Mas que diabos... — Disse ela quando me viu ao lado de Liam. Fez uma cara de desagrado e segurou o braço machucado.

— Garoto, o que está fazendo aq...

Ela não conseguiu terminar. Um brilho mortiço pulou de repente do meio da mata e caiu como um raio entre mim e Liam. Ofeguei quando a percepção do que era aquela coisa atingiu a minha mente.

— Carne frescaaaaa... ahhhh, hummmm...

O Avesso em forma de felino murmurava em êxtase enquanto mastigava um naco gigante das entranhas que acabara de arrancar do ventre de Alexia.

Aquilo me deixou tão chocada que a espada escorregou por entre meus dedos. Liam se afastou três passos, com uma expressão de puro nojo. Aquele ser repugnante tinha nos seguido até aqui?

No tempo de uma piscada, Aman já tinha voado para cima dele, um soco envolto por magia explodindo bem no meio do focinho da fera. O braço ruim estava totalmente esquecido, balançando ao lado de seu corpo. A expressão de ódio e exasperação em seu semblante era tão severa que até mesmo um pouco de saliva escapava pelos cantos de sua boca. Acho que nunca, nunca vi Aman tão nervosa. Jamais permitiria que profanassem o corpo de Alexia. Devia pelo menos isso à amiga, já que não pudera salvar sua vida.

Eu queria ajudá-la. Mas não cheguei sequer a pegar a cantora do chão.

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Peço desculpas pelo sumiço, gente... Mas agora acho que vai dar para manter o ritmo... Para vcs verem como eu tô ficando louca, fui abrir a pasta para copiar o capítulo do Dente de Leão da semana, e, em vez de clicar na pasta "Minhas histórias", meu mouse clicou automaticamente na pasta "Arquivos da Pós". T_________T


Afff, gente, essa monografia tá me deixando muito louca. Me desejem sorte X_X

E vamos desejar sorte pra Adri também acho que ela tá precisando de uma sessão de descarrego, hahahaha =P

Dente de Leão -- Uma breve história anterior a Perna de MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora