26- Confronto

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A porta explodiu em dois pedaços desiguais que fizeram um estrondo quando acertaram a parede logo em frente. Em meio aos destroços, Liam se erguia, caminhando resoluto e furioso.

Não. Eu estava enganada. Aquele que adentrava a sala em minha direção não era um rapaz. Era um homem bem mais velho. Os traços eram brutalmente parecidos com os de Liam, mas sua pele era mais curtida e manchada. Levou alguns segundos para eu entender que ele estava bravo comigo, por algum motivo. Avançou para mim como um touro, já estendendo a mão para agarrar meu pescoço. Akia esgueirou-se entre nós e deu um tapa na mão estendida do homem, jogando-a para o lado. Foi só então que o homem notou sua presença ali.

— Não se meta se não quiser se machucar, moleque.

A voz também era como a de Liam, mas uma oitava mais grave. Seria aquele Alain, seu irmão mais velho? Aquele que tramara contra ele, matara Alexia e quase fizera o mesmo com Aman?

Percebendo a comoção que se passava, Brisa se materializou de lugar nenhum soprando um forte vento dentro da sala. Chiando, ele se postou entre nós e o estranho furioso.

— Fui incumbido por meu parceiro a permanecer com a atual portadora de meu artefato elemental e só retornar quando o objeto for devolvido a seu dono. Não irei com você, Alain.

O homem encarou Brisa por alguns instantes e então cuspiu no chão.

— Uma vez traidor, sempre traidor. Liam não se cansa de proteger esses xadrezes imundos. Sinto pena por você, Brisa. Um ser tão poderoso. Não devia ficar ao lado deles. Apenas os Rubies são dignos de fazer associações com vocês.

Brisa não vacilou nem por um segundo, permanecendo imóvel como se nem o tivesse ouvido. Os olhos de Alain deslizaram do elemental e pousaram em mim, voltando para ele um segundo depois.

— Caso eu mate a portadora do artefato, você não terá o que fazer, certo, Brisa? Aposto que Liam não foi tão longe nas ordens que deu a você.

— Ele me disse para protegê-la com a minha vida.

De repente, como se uma tempestade tivesse surgido dentro de casa, todas as coisas ficaram de pernas para o ar. A poeira foi varrida do chão, cadeiras saíram voando, objetos caíram e se quebraram. Gritos vieram da cozinha enquanto o ar se revolvia. Eu mal conseguia manter as pálpebras abertas, mas vi quando Brisa apenas ergueu o braço, lançando Alain direto contra uma cômoda a dois metros de distância. Ele bateu as costas na quina, soltando um urro dolorido. Tentou se firmar e afastar-se, mas estava preso pelo vento que Brisa mantinha sobre seu corpo. Desajeitado, procurou por algo dentro de seu sobretudo. Puxou para fora de um bolso o seu próprio artefato elemental.

— Vendaval, tire Brisa daqui de dentro e o neutralize!

Senti a pressão em meus tímpanos quando Vendaval surgiu de sua esfera. Ficou mais difícil respirar enquanto um elemental se atirava sobre o outro. Eles bateram em todas as paredes, trovejando a cada impacto. Finalmente encontraram uma janela, despedaçando-a. Escaparam espiralando, envolvendo toda a casa. Em poucos instantes era como se um tornado ameaçasse arrancá-la do solo. Ela estalava e se remexia enquanto as duas forças da natureza se degladiavam ao seu redor. A própria claridade do dia diminuiu. Meu ouvido ficou com um zunido persistente.

— É praticamente impossível um silfo derrotar outro silfo. — Alain falou, ajeitando suas roupas no lugar — O máximo que elementais do mesmo elemento podem fazer é se anularem. Eles dispersam a magia um do outro e desaparecem. Mas não se preocupe, mocinha. Depois de um tempo, eles voltam. Diferente de você.

Ele avançou, rápido como uma cobra. Akia tentou de novo se postar à minha frente, mas Alain o apertou pelo pescoço e o ergueu como se fosse um boneco de pano. Eu não podia usar minha magia sem a espada mas nem pensei nisso quando corri para cima dele e acertei um soco no meio do seu plexo solar.

Dente de Leão -- Uma breve história anterior a Perna de MagiaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt