31- Vitória Desbotada Pela Perda

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Eu era uma idiota. Sem dúvida nenhuma era uma imbecil.

Onde eu estava com a cabeça para deixar meu pai sozinho? Eu devia ter planejado minhas ações de cabeça fria. Seria melhor ter deixado Liam seguir sozinho e depois me avisar onde havia fixado residência. Eu tinha que ter ficado junto com papai.

- Adri, eu sei que isso não consola muito, mas mesmo que você tivesse ficado, o resultado poderia ter sido o mesmo. Se quarenta pessoas não foram capazes de conter aqueles dois... Pior, você poderia estar morta a essa altura também.

Liam estava comigo no quarto de hóspedes da família Maro. Papai estava deitado em uma cama de solteiro. Eu costumava dormir naquele mesmo quarto sempre que ficava na casa de Aman. Agora era papai quem descansava ali, um lençol fino puxado até a altura de seu queixo, o ferimento no peito escondido. Seu rosto moreno estava acinzentado agora. Uma sombra de quem havia sido, apenas uma casca. Será que ele morrera se perguntando se eu estava bem? Ou será que se fora para o outro lado angustiado por pensar que eu já estaria morta? Será que estava decepcionado comigo, por saber que eu fugira de casa?

Para o bem ou para o mal, eram perguntas para as quais eu nunca saberia a resposta. Ao chegar a essa conclusão, uma dor lancinante atravessou o meu coração e soltei um gemido como um animal ferido. Afundei o rosto no peito de Liam, que teve a delicadeza de não falar mais nada, e apenas me apertou com força. Uma de suas mãos entrou por dentro de meu cabelo, acariciando minha nuca.

A casa de Aman era uma verdadeira celeuma. Vozes gritavam umas com as outras, o som de passos quase como pancadas, objetos que caíam e se espatifavam.

Eu ouvia tudo aquilo como uma perturbação de fundo, algo que não me incomodava de verdade, porque não conseguia prestar atenção. E nem me interessava. A única coisa que eu queria de fato era ficar ao lado do meu pai.

Mas parece que as coisas nunca acontecem do jeito que a gente quer.

Aman abriu a porta do quarto de repente, não exatamente muito cuidadosa. Era fácil notar como estava nervosa e alterada. Encarei seu rosto transtornado e olhei para o chão logo em seguida, envergonhada. Tinha certeza de que Aman reprovava o que eu havia feito.

- Se acha que estou brava com você, Adri, tem toda razão. Mas agora não é hora para recriminações. O que está feito, está feito. O que nós queremos no momento é capturar os assassinos. E para isso, precisamos de sua ajuda, Rubie.

Liam nem sequer pestanejou.

- Estou pronto. Do que precisam?

- De sua total colaboração. Você precisa ser muito cuidadoso, pois tenho gente ali na sala querendo matá-lo. Hoje vejo que não somos melhores que vocês, Rubies. Tenho companheiros, boas pessoas, querendo descontar a raiva em um inocente. No entanto, você continua aqui, ao lado daquela a quem você ama e pronto para fazer o que estiver ao seu alcance.

- Vocês não são melhores que os Rubies, mas certamente, não são piores. Somos apenas seres humanos.

Aman se aproximou e estendeu a mão. Liam a apertou e ambos sorriram um para o outro.

- Obrigada... Obrigada por toda a ajuda até agora e obrigada por ajudar a salvar minha vida. Liam, não é?

- Sim, você está certa, Amanda.

Nós então seguimos minha mentora até a sala. Meu braço continuava um pouco dormente, mas já tinha melhorado bastante. Pelo que Liam explicara, aquele era um dos poderes que Alain adquirira ao conquistar o seu primeiro Coração de Magia sobressalente. Um toque mágico que trazia imobilidade, e por vezes, morte. Lutar com Alain no mano a mano era algo a ser evitado.

Todos se calaram assim que colocaram os olhos em Liam. Muitos não conseguiam esconder o desagrado e nem faziam questão. Houve até mesmo uma branquinha que cuspiu no chão.

- Enora, faça isso na casa de meus pais novamente e farei você limpar com a língua, antes de arrancá-la com as unhas.

- Peço desculpas, senhora Amanda.

- Espero que estejamos entendidos que mais ninguém vai morrer hoje. O garoto está aqui para ajudar.

- Espero que tudo não seja um estratagema desse pivete para nos enganar. Ao que parece, o assassino de Raul é irmão dele, não é?

Isso foi dito por Namar, um homem negro de uns 30 anos. Eu não o conhecia muito bem. Mas à sua pergunta, seguiu-se uma nova balbúrdia. Alguns discordavam, a maioria concordava.

- JÁ CHEGA!

Eu já estava me abstraindo das vozes novamente, tragada pelo meu sofrimento interno, mas a fala possante de Nicolas me trouxe de volta em um solavanco.

- Escutem todos vocês! Não costumo confiar em Rubies, mas a jovem Adriana se apaixonou por este rapaz. Amanda, por sua vez, confia no julgamento de sua aluna. E eu acredito totalmente na análise de Amanda, uma coletora experiente. Assumo toda a responsabilidade. Se algo acontecer, deverão culpar unicamente a mim.

Isso serviu para acalmar alguns ânimos, inclusive o meu. Apesar de eu ter fugido de casa como uma tola, Aman confiava em mim, e Nicolas por tabela. Olhei na direção dos dois com um olhar emocionado, mas apenas Nicolas devolveu meu gesto com um olhar brando. Aman continuou com o semblante duro. Apertei com força a mão de Liam, que respondeu aproximando seu corpo do meu.

- É claro que minha ajuda tem um preço. - Liam sentenciou sem tirar os olhos de Nicolas e Aman. Meu estômago afundou na barriga.

Não é preciso dizer que isso inflamou os presentes novamente. Mas antes que a confusão crescesse demais, Aman silenciou a todos com um olhar.

- É claro. Eu devia ter contado com isso. Diga qual suas condições, rapaz. - Disse Nicolas, com um pequeno sorriso enviesado.

- Minha condição é apenas que permitam visitas minhas à sua vila quando eu bem entender. E que autorizem Adri a me encontrar e até mesmo vir morar comigo, caso assim ela deseje.

Alguns dos presentes riram, mas uma risada de surpresa, quase como se aprovassem. Outros ficaram tão indignados quanto se ele tivesse pedido um barril de ouro. Aman escondeu uma meia risada com os dedos. Nicolas arregalou os olhos e sorriu como um vovô satisfeito.

- Muito bem. Acho que é um preço justo por toda a ajuda até aqui.

Lá no fundo, fiquei feliz. Teria finalmente o que eu queria, a partir do momento em que conheci Liam. Mas essa pequena vitória era totalmente desbotada pela perda. Meus olhos se encheram de lágrimas involuntárias e soltei a mão de Liam para ficar com papai mais uma vez.

Mas Aman me fez estacar.

- Liam, queremos que você sirva de isca a seu irmão Alain. Dessa forma, talvez tenhamos alguma chance de emboscá-lo.

- Eu aceito e concordo.

Não. Eles não podiam estar falando sério.

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Ai, ai, ai, ai, ai.... Espero que isso não dê merda lá na frente... =/

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Dente de Leão -- Uma breve história anterior a Perna de MagiaWhere stories live. Discover now