12- Pegando o Timing

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No dia seguinte Aman já estava se sentindo melhor e insistiu para que seguíssemos caminho. Nossa companheira Alexia continuava nos esperando no local combinado, perto da fronteira. Já tínhamos nos atrasado muito e não podíamos deixá-la esperando mais. Até então, nem tinha pensando muito nela. Mas de repente a curiosidade foi mais forte.

— Aman. Me conte mais sobre a Alexia. Ela é forte?

Ela caminhava ao meu lado e pude ver um pequeno sorriso em seu perfil.

— Alexia é minha companheira de turma. Nos formamos coletoras no mesmo ano, por isso ela tem a mesma idade que eu. Ela é uma coletora "eficaz e letal", usando os termos dos seus amigos. Também é uma ótima companheira de farra e bebedeira, mas se alguém perguntar, você não ouviu isso de mim.

Dei uma risadinha. Aman sabia como ser engraçada quando queria.

— Alexia já salvou a minha vida em várias ocasiões. Teve aquela vez quando tivemos que nos infiltrar num templo de Kaeb disfarçadas de monjas vermelhas. Tivemos que pintar o corpo todo de vermelho e tal. O que não sabíamos é que, uma vez que você é aceita como acólita em um santuário Kaeb, precisa tomar um banho com esfregão para retirar as "impurezas do mundo". Nossa tintura impura com certeza iria sair toda mesmo.

— Caramba! E o que vocês fizeram?

— Vou deixar essa parte pra você perguntar à Alexia.

— NÃO! Você não pode fazer isso comigo! Me conta!

Enquanto eu implorava para que ela desembuchasse, um forte assovio ecoou da mata fechada à nossa esquerda. Ouvimos passos como se alguém estivesse correndo, ao mesmo tempo em que vários galhos foram se quebrando em um som ritmado que foi se distanciando.

Aman nem sequer discutiu.

— Fique aqui! Se alguma coisa aparecer, grite!

Mal terminou de pronunciar a última palavra e já foi se embrenhando entre as árvores grossas. Eu tinha uma idéia do que poderia estar acontecendo, mas era melhor ficar atenta, pois eu não tinha certeza.

Cinco minutos depois de Aman ter desaparecido por entre a mata, Liam surgiu do lado oposto, espanando com a mão as folhas e lama das roupas. Parecia que andara se escondendo. Sorri diante dele ao perceber que eu estava correta.

— Não tem medo que Aman alcance seu parceiro elemental? Ela não descansaria até acabar com ele. — Falei ainda mostrando os dentes ao que ele correspondeu com uma risada.

— Não se preocupe. Elementais são praticamente imortais. Mesmo que ela conseguisse acabar com Brisa, uma hora ou outra ele iria acabar voltando.

— Eu me sinto um pouco mal de ficar fazendo Aman de boba assim...

— Mas é por uma boa causa... Ou não?

Apenas sacudi a cabeça, confirmando. Estendi minha mão esquerda até apertar seu punho direito. Foi só então que percebi que estava fechado ao redor de alguma coisa. Ele ergueu o braço até a altura dos meus olhos e então pude ver que segurava duas delicadas flores. Eram pequeninas e brancas, pareciam duas bolinhas de pelúcia. Ele posicionou uma delas com o caule entre o polegar e o indicador. Virou-se um pouquinho, tirando-a da direção do meu rosto e a soprou. Várias pequenas hastes que antes formavam a juba branca se desprenderam suavemente, flutuando para o alto e para longe. Dava para ver, presa à extremidade de baixo de cada haste, uma minúscula sementinha. Então era a forma como aquela linda florzinha semeava seus descendentes. Não pude deixar de lembrar do meu pai e uma dorzinha correu por meu peito. Será que ele estaria bem?

Dente de Leão -- Uma breve história anterior a Perna de MagiaWhere stories live. Discover now